Nos meses de abril e fim de maio deste ano, frigoríficos das regiões Sul e Norte do País registraram casos de contaminação do novo coronavírus entre funcionários. Pelo menos dez estabelecimentos tiveram registros de infecção. Os casos acenderam o alerta entre autoridades sanitaristas no Ceará, embora aqui no Estado não haja, até agora, nenhuma notificação de casos da Covid-19 nas unidades regularizadas.
A preocupação decorre das características próprias do espaço de trabalho, que podem favorecer o contágio do novo coronavírus. Ambientes fechados, baixa temperatura e proximidade entre os trabalhadores nas mesas de cortes, são fatores que favorecem a contaminação. Além disso, na última semana, a OMS reconheceu o risco de contaminação pela suspensão de partículas sólidas ou líquidas em gás, conhecida também como transmissão por aerossol. Esses fatores levaram a intensificação dos protocolos de segurança sanitária nos matadouros.
A médica veterinária e gerente do núcleo de Auditoria da Agroindústria e Inspeção de Insumos da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), Glaycione Rodrigues, garante que há presença diária de fiscais agropecuários nos abatedouros.
“A nossa preocupação vai além do setor de abate, pois estamos trabalhando em uma área essencial, que não pode parar”, pontuou. “Nesse período, os protocolos de segurança foram redobrados”.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Ceará tem três unidades passíveis de inspeção federal de beneficiamento de carnes e uma fábrica de produtos gordurosos. Segundo o Mapa, a fiscalização é periódica e ocorre conforme a avaliação de risco do estabelecimento.
Hellen Araújo Cavalcante, presidente da Comissão de Inspeção e Vigilância Sanitária dos Alimentos do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Ceará (CRMV), avalia que a ausência de contaminação entre os profissionais dos frigoríficos do Estado pode estar relacionada ao controle sanitário intensificado após os registros em estabelecimentos do Sul do País. “O cumprimento dos protocolos protege funcionários, o consumidor e o próprio negócio”, pontua.
Preocupação
Conforme levantamento da Adagri, o Ceará tem registrado no Serviço de Inspeção Estadual 11 frigoríficos para aves, suínos, bovinos, caprinos e ovinos. Entretanto, a preocupação reside nos abatedouros clandestinos, isto é, sem selo estadual e cuja fiscalização dos órgãos é inexistente.
A equação é simples. Na ausência de órgãos fiscalizadores, cresce o número de locais que abatem carne cuja procedência é duvidosa.
Conforme a Adagri não compete ao órgão fiscalizar abatedouros irregulares ou clandestinos, mas ao serviço de Vigilância Sanitária dos próprios municípios. Estes, por sua vez, apresentam carência crônica de material humano.
Nestes locais, além do risco elevado de disseminação do novo coronavírus, há perigo iminente de contaminação por outras bactérias. “Vai além da questão do coronavírus porque pode levar para o consumidor outros tipos de doenças”, reforça o presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz. Como agravante, ele lembra que estes matadouros irregulares estão localizados em cidades do interior cearense, onde têm crescido os casos da Covid-19.
O assessor do Sindicato das Indústrias de Frios e Pesca do Ceará (Sindifrios), Carlos Eduardo Vilaça, corrobora com a análise de Diniz. Para ele, só através de denúncias esses matadouros irregulares podem ser fechados.
Estudo
Apesar do temor de contaminação entre os funcionários, o médico infectologista, Ivo Castelo Branco, observa, entretanto, que não se conhece, até o momento, comprovação de que ocorra transmissão da Covid-19 por meio de carne abatida, infectando, assim, os consumidores. “A não ser que seja comida crua, porque ao cozinhar e assar eliminam-se o vírus, bactérias e outros micro-organismos”.
Por Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste