Mais espaço para circulação, acessibilidade, galerias organizadas. O Centro de Cultura Popular Mestre Noza, em Juazeiro do Norte, está de cara (e casa) nova, após um ano de reforma. Além das melhorias estéticas e funcionais, as estruturas hidráulica e elétrica também foram refeitas. O espaço, que, há quase quatro décadas, abriga e forma escultores em madeira, barro, metal e outras tipologias de artesanato, foi reinaugurado na última quinta-feira (25).
Os principais ganhos para os artesãos, com a volta do equipamento, são o retorno econômico e a visibilidade. No total foram investidos R$ 241 mil na obra.
No período em que o Centro Cultural esteve fechado, os artesãos ficaram provisoriamente no Centro Multiuso, mas o local não dava a mesma visibilidade que o prédio de origem, o antigo quartel, em pleno Centro de Juazeiro do Norte. Beto Soares, que esculpe em madeira há 32 anos, acredita que as vendas diminuíram 40% com a mudança. “Era difícil. Espaço a gente tinha e estacionamento também. Ruim era o acesso. O turista chegava aqui, via as portas fechadas e ficava perdido porque não tinha nenhuma identificação”, lembra.
Por causa disso, a Associação dos Artesãos do Padre Cícero, que administra o Centro Mestre Noza, teve acesso a um novo espaço, em junho do ano passado, dentro do Cariri Garden Shopping. O espaço, cedido pelo Governo do Estado do Ceará, minimizou o problema da falta de visibilidade. “Era uma fonte de renda para nós. Ela estava cobrindo essa necessidade”, afirma Beto. A parceria será renovada por mais dois anos, com isso, as peças continuarão no centro comercial na futura loja “Artesanato Cariri”.
Com aproximadamente 80 associados, apenas 12 trabalham diariamente no Centro. O restante elabora as criações em casa e apenas expõe a produção no equipamento cultural. Os que utilizam o espaço reformado, além de fabricar as peças, interagem com os clientes e visitantes, por isso, as readequações também tiveram o objetivo de dar maior conforto e melhores condições para os escultores.
As matérias-primas utilizadas pelos artistas, assim como o estoque, agora estão em locais adequados, abrigados do sol, da chuva e do sereno, o que permitirá maior conservação e qualidade.
Outro fator relevante é a ampliação do espaço para os visitantes e potenciais consumidores, o que garante um passeio confortável pelas galerias que abrigam inúmeras peças. Destaque também para o palco que foi requalificado, ganhou cobertura e está apto a receber apresentações culturais, como aconteceu na solenidade de reinauguração.
“Foi de acordo com nossas necessidades. Foi tudo conversado, discutido e fizeram de acordo com o que a gente queria”, explica Cícero Rodrigues, o Zumbin, presidente da Associação. A última reforma tinha acontecido há 21 anos.
Nos primeiros dias após a reabertura, o Centro de Cultura Popular Mestre Noza já foi bastante visitado por turistas, e isso animou os artesãos.
“Senti uma energia positiva. Você vê no rosto das pessoas. Estamos muito satisfeitos. O pessoal chega e fica encantado”, descreve Beto. “Nos sentimos mais vivos. Já tem pessoas visitando, outras já compraram. Está sempre entrando gente. Lá (no Centro Multiuso), tinha dia que não entrava ninguém, parecia cemitério. O espaço era bom, mas não era adequado”, completa Zumbin.
A reforma agradou ao advogado Júnior Coutinho, que saiu de Jardim, junto com a família, para visitar o novo Centro. “Eu já conheço aqui há vários anos. Já comprei peça. Estou achando belíssimo. De todo esse turismo que Juazeiro tem, vim conhecer essa magnitude do artesanato”, afirma.
Apesar de notar que a quantidade de peças ainda é a mesma, “o espaço está melhorado, renovado. Dá mais condições de trabalho, aconchego. Uma receptividade melhor. Não é um espaço só de Juazeiro, pertence a todos do Cariri”, acrescenta.
Não foram só os visitantes e os artesãos que ficaram felizes com a reativação do equipamento, o comércio no entorno amargou um duro golpe do fechamento do Centro Mestre Noza.
“Tive muito prejuízo no tempo da construção. Perdemos a Expocrato, quando vêm muitos turistas. A gente vende mais ao turista. Diminuiu muito. Tinha dia que nem apurava”, admite a empresária Antônia Tenório, que tem uma loja de calçados e bolsas de couro, na vizinhança do espaço. Com 28 anos no ramo, a mulher comemora o retorno. “Crescemos praticamente junto com eles”, diz.
Comercialização
Os artesãos ligados ao Centro Mestre Noza vendem suas peças de forma independente, ou seja, negociam diretamente com os compradores, daí a dificuldade de quantificar a movimentação financeira do Centro. Já as vendas para outros países são articuladas pela Associação dos Artesãos do Padre Cícero, que manda fotos e negocia quantidades e valores, além do envio das peças. Os principais compradores estrangeiros são oriundos da França, Itália, Bélgica e Estados Unidos.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste