Procurar abrigo no interior de prédios e evitar campos abertos, árvores isoladas ou locais elevados durante uma tempestade são cuidados básicos que podem evitar acidentes por descargas atmosféricas (raios).
Por conta das características naturais, o Ceará apresenta grande quantidade desses eventos, o que aumenta as chances de ocorrências. Somente no ano passado, foram registrados oito acidentes dessa natureza, ocasionando o óbito de quatro pessoas. O número deixou o Ceará como o Estado do Nordeste com mais mortes por raios em 2019.
Os dados são de levantamentos pela Associação Brasileira de Conscientização Para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), com base em notícias divulgadas na internet e checadas pela Associação. No ano passado, as mortes ocorreram nas cidades de Santa Quitéria, Santana do Acaraú, Fortaleza e Pindoretama. Em 2019, Santa Quitéria foi a cidade com maior número de raios, segundo o Sistema de Monitoramento e Alerta, da Enel Distribuição Ceará. Ocorreram, na cidade, 3.735 descargas. Na sequência, está o Município de Granja, com 2.242 eventos desse tipo.
Início preocupante
O número de mortes por raios dobrou, de 2018 (duas mortes) para 2019, e nos primeiros meses deste ano, a situação se mantém preocupante. Após ocorrências de janeiro e fevereiro, o Ceará igualou o número de mortes observado em 2019. No primeiro mês do ano, os municípios de Jaguaruana e Crateús tiveram um incidente cada, ambos fatais e na área rural, segundo a Abracopel. Já em fevereiro, foram registradas três ocorrências, com dois óbitos. Os acidentes de fevereiro foram levantados pelo Núcleo de Monitoramento de Descargas Atmosféricas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No último dia 10, um agricultor não resistiu a um raio na cidade de Itarema. Ele tinha 48 anos e foi atingido durante o almoço, no trabalho. No mesmo dia, uma residência recebeu uma descarga atmosférica em São Gonçalo do Amarante, e um homem (não identificado) acabou morrendo. A vítima tinha 45 anos e chegou a ser socorrida, mas não resistiu. Os incidentes são potencializados com o aumento de descargas atmosféricas. Somente nesses dois meses, o Ceará somou 89.900 raios em todo o Estado. O número supera o total observado em todo o ano de 2019 (74.304). Para o período, os municípios mais atingidos foram Santa Quitéria (4.070), Granja (3.599) e Sobral (2.998).
Cuidados
O cenário reflete o observado no País, onde os acidentes passaram de 51 para 85 e de 38 para 50 mortes, de 2018 para 2019. Segundo o diretor executivo da Abracopel, Edson Martinho, ter conhecimento do fenômeno reduz as chances de acidente. “Saber os riscos faz com que você saiba se proteger. No meio urbano, como existem muitos prédios, o ideal é procurar esse abrigo. Já nas zonas rurais, a pessoa deve ficar de cócoras, o que reduz a ‘tensão de passo’, mas nunca debaixo de árvore ou de locais que o raio pode chegar”, explica. A tensão de passo é a diferença de potencial presente entre as pernas do corpo humano. Animais sofrem essa tensão por terem os membros mais distantes uns dos outros.
Prevenção
Para o especialista, ações de educação são necessárias para conscientizar sobre a necessidade da proteção. “É importante iniciar o processo de educação já com as crianças. Além disso, os prédios precisam estar equipados com para-raios para serem eficientes”, acrescenta. “A chance de a pessoa ser atingida e sobreviver é quase nula. O raio vem com uma energia absurda. O que acontece muito são descargas próximas da pessoa (indireta)”, complementou.
Situação vivenciada por Renato Alves da Silva, de 40 anos. Por volta das 8h do último dia 15, o agricultor foi atingido por uma descarga atmosférica na zona rural de Juazeiro do Norte. Renato sofreu queimaduras em 30% do corpo, algumas de 3º grau. “Eu estava num barraquinho protegido por uma coberta de lona que tinha na roça. Quando coloquei a cabeça para o lado de fora, eu recebi a descarga”, lembra. A tensão o fez perder a audição no ouvido direito e parte da do esquerdo.
Após o impacto, o agricultor ainda conseguiu pedir o auxílio do filho, que estava no local. “Graças a Deus, eu fiquei acordado, pedindo ajuda, até a chegada dos médicos. Depois, pronto, apaguei”. Passado o susto, Renato vivencia a dificuldade de retomar as antigas atividades: “Não sei o que vou fazer. Com a audição ruim, fica difícil fazer algumas coisas”, lamenta.
Fonte: Diário do Nordeste