A quadra chuvosa deste ano no Ceará foi 22% acima da média histórica para o período, que é de 695.8 mm. Com este cenário, muitos agricultores se lançaram a campo e resgataram culturas que antes estavam abandonadas devido à ausência de água. O diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Itamar Lemos, reconhece que 2020 foi um ano positivo para agricultores. “Cresceu o milho e feijão no sequeiro. Sorgo e palma para reserva estratégica para a produção de leite. Nas frutas há destaque para acerola, banana e caju, e abacate na serra da Ibiapaba”, descreve.
Em relação aos grãos, o próprio Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado há uma semana, aponta que o Ceará deve alcançar safra de 804.692 toneladas em 2020, 73,92% superior em relação ao prognóstico divulgado em janeiro e 42,52% a mais em relação à safra obtida em 2019 (564.616 toneladas).
O titular da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), Francisco De Assis Diniz, pontua que essa pujança “é positiva para a economia do Estado, com geração de mais riqueza no campo”. Com a previsão da influência da La Niña para o ano que vem, ele estima que há tendência para aumento na produção agrícola.
Retornos
Após queda nos últimos dois anos, a produção de abacaxi em Santana do Cariri, que detém 87% (29 de 33 hectares) da área plantada no Ceará, voltou a crescer, saltando de 24 hectares, em 2018 e 2019, para 29 em 2020, segundo a pesquisa de Produção Agrícola Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outro fruto beneficiado pelas boas chuvas foi o abacate, que saltou de 690 para 771 hectares de área plantada no Ceará. A Serra da Ibiapaba, região úmida e de clima ameno, sempre facilitou o crescimento de abacateiros, cujo excedente da produção é comercializado em feiras e na Ceasa de Tianguá. O retorno da boa média pluviométrica impulsionou a produção. Apenas em Ibiapina, são 300 ha de abacate.
O agricultor Antônio Marcos Vasconcelos tem 300 pés de abacate, metade já está produzindo e a outra metade em pré-produção. Ele vende para a Ceasa e a feira de São Benedito, onde o preço médio fica em torno de R$ 75 a caixa de 25Kg. “O preço fica oscilando, mas é uma das melhores culturas que tem aqui”, garante.
Segurança
A boa quadra chuvosa foi importante para ampliar produções também já consolidadas, como a acerola nas regiões do Baixo Acaraú e Vale de Jaguaribe. Ao todo, o Ceará saltou de 1.903 hectares plantados, em 2019, para 2.273, neste ano, um crescimento de 19,44%.
“A água aqui é de poços e pequenos açudes, públicos e particulares. A gente viveu seis anos de escassez. A planta não morreu, mas parou de produzir. Aí, a partir de 2017, não faltou água. A produtividade foi maior e chegou a 30 toneladas por hectare”, descreve o produtor Airton Kern.
Cerca de 214 agricultores sobrevivem da acerola em Maranguape, principal produtor do Estado, cuja área de plantio cresceu 300 hectares entre 2019 e 2020. “Neste ano, teve uma média de chuva acima, ela produz uma safra boa no início, aí para e volta quando para de chover. Os que cuidam melhor conseguem uma safra ou duas a mais por ano”, diz Kern, completando que a recarga de pequenos açudes deu segurança ao agricultor.
Em 2020, com a pandemia, a demanda por vitamina C subiu, e são poucas as fontes naturais com tanta concentração como a acerola. Com isso, cresceu a procura in natura e também o mercado de poupas. “Estão comprando cada vez mais, inclusive para vender acerola congelada”, garante o produtor. A acerola de mesa custa R$ 50 a caixa de 22 quilos e, para polpa, R$ 40, na mesma quantidade. Este preço direto do produtor.
Por Antonio Rodrigues/André Costa
Fonte: Diário do Nordeste