Ao mesmo tempo em que preparam o retorno gradual das atividades econômicas em Fortaleza, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e o secretário da Saúde do Estado, Dr. Cabeto, enfrentaram nesta semana uma maratona de reuniões com prefeitos e prefeitas dos municípios cearenses, divididos a partir das Macrorregiões de Saúde, para alinhar ações de enfrentamento à pandemia de Covid-19 no momento em que a doença avança pelo interior.
Em todos os encontros, apesar das diferenças de números de casos e das particularidades de cada região, as preocupações se repetem: necessidade de reforço no isolamento social em alguns municípios, foco na atenção básica para acompanhamento do grupo de risco e bloqueio de novos casos, abastecimento de medicamentos do novo protocolo da Secretaria da Saúde (Sesa) e acesso a leitos de UTI.
Aos prefeitos, Camilo Santana ressaltou que a incidência da Covid-19 tem apresentado uma tendência à estabilização em Fortaleza, mas mostra crescimento considerável no interior. “Por isso, é fundamental trabalhar fortemente na atenção primária, de modo a diminuir a necessidade de internação e o colapso do sistema de saúde”, ressaltou o governador no encontro com os gestores da Macrorregião de Fortaleza.
A divisão por macrorregiões faz parte da estratégia de regionalização do Sistema Único de Saúde, o SUS. São cinco no Ceará: Fortaleza, Sobral, Sertão Central, Litoral Leste/Jaguaribe e Cariri. Os encontros, mobilizados pela Associação dos Municípios do Estado (Aprece), aconteceram de terça-feira (26) até ontem (29), respectivamente, com os gestores municipais das macrorregiões de Fortaleza, Sobral, Cariri e Sertão Central. Ainda está pendente o encontro com os municípios do Litoral Leste/Jaguaribe.
“O momento agora é de tensão porque a gente precisa mostrar para os prefeitos que há uma perspectiva de aumento da incidência nos municípios e a gente precisa fazer com a que a proteção aumente”, ressalta o presidente da Aprece e prefeito de Cedro, Nilson Diniz.
UTI
Um dos pontos que têm preocupado gestores é a disponibilidade de leitos de UTI. O secretário Dr. Cabeto, durante reunião com a Macrorregião Cariri, reconheceu que existem alguns municípios no Ceará com população ainda sem leitos de UTI. “Iremos discutir o ajuste emergencial com a implantação de salas de estabilização e treinamento de profissionais através da Escola de Saúde Pública”, afirmou.
O prefeito de Barbalha, Argemiro Sampaio (PSDB), ressaltou a preocupação com os leitos durante transmissão nas redes sociais, após a reunião. Em casos graves, o município deve enviar pacientes para o Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte. “O Governo disse que, caso haja alguma preocupação, já se prepara para ajudar nisso e, se for preciso requisitar UTIs de hospitais particulares, isso será feito”, pontuou.
O Cariri, no entanto, é a região com menor taxa de contaminação e óbitos por Covid-19, segundo o governador. Para o prefeito de Juazeiro do Norte, Arnon Bezerra (PTB), o cenário é resultado de um esforço de isolamento social, suporte de saúde e atendimento à população mais vulnerável desde o início da crise.
“Juazeiro é um entreposto comercial do Cariri, é o município mais importante economicamente. Daqui, existe um intercâmbio com toda a região centro-nordestina, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí; temos ainda um comércio das regiões vizinhas: é um trânsito muito intenso. (…) Esses dias têm mostrado que temos certo controle, mas é a custo de muito comportamento. Estamos seguindo as orientações do Governo estadual”, afirmou Bezerra.
Maciço de Baturité
Integrados na Macrorregião de Fortaleza, os municípios do Maciço de Baturité aproveitaram o encontro com o governador para reforçar também a preocupação com a falta de leitos de UTI. “Aqui é a única região do Estado que não tem nenhum leito de UTI. Todos os pacientes, quando têm sintomas graves, de média e alta complexidade, têm que ser encaminhados para Fortaleza”, ressaltou o prefeito de Aracoiaba, Thiago Campelo (PDT). Segundo ele, o Governo deve verificar a possibilidade de serem instalados leitos de retaguarda em Baturité.
Campelo informou que foram quatro as preocupações pontuadas pelos gestores: “a primeira que seja disponibilizado leito de UTI para a região; a segunda é a questão do apoio na aquisição dos EPIs por conta do mercado, não é nem por falta de condição do município, é a escassez mesmo; tem também a questão do abastecimento de medicamentos solicitados para o cumprimento do protocolo (para pacientes com suspeita de Covid-19, azitromicina e prednisona). Outro ponto é questão do apoio da Polícia Militar e da Polícia Civil, porque a gente tem dificuldade, devido ao número pequeno de profissionais na região, de que seja melhor executado o isolamento social”, citou.
Região Norte
O receio de não conseguir garantir o atendimento à população em situação grave pela Covid-19 se repete entre os mais de 50 prefeitos da Macrorregião Norte. O prefeito de São Benedito, Gadyel Gonçalves (PCdoB), pediu ao Governo que descentralize os leitos de UTI do município de Sobral e implante equipamentos também em cidades como Tianguá e Ipu, nas pontas da Serra da Ibiapaba.
Na reunião com os prefeitos da região, Camilo pediu que, onde há aumento de casos, haja um maior apelo às medidas de isolamento, inclusive com possibilidade de lockdown.
“Coloquei na reunião um exemplo que dei de que às vezes fui questionado por fechar as entradas, o Centro da cidade, por tomar medidas duras, mas a saída que estamos vendo é o isolamento social. Hoje, de 21h às 6h da manhã, tem toque de recolher”, ressalta Gadyel. Há menos de 30 casos em São Benedito.
Atenção primária
Durante o encontro, o governador reforçou a importância do fortalecimento da atenção primária para controlar o avanço e agravamento da doença, com eventual colapso do sistema de saúde. De acordo com ele, isso só será possível por meio da adoção do protocolo de tratamento na fase inicial da doença disponibilizado pela Sesa. Camilo também enfatizou a importância da identificação, monitoramento e bloqueio de novos casos, com busca ativa dos grupos de risco com visita de agentes comunitários.
A presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE), Sayonara Cidade, que também participou dos encontros, pontuou que o trabalho com a atenção básica é diferente na Capital e no interior devido a estrutura insuficiente de profissionais, mas salientou que o esforço de monitoramento é fundamental. “A interiorização dos casos preocupa, porque é preciso controlar isso. Temos que trabalhar muito com monitoramento e bloqueio”, destacou.
Entre as preocupações dos gestores municipais da Saúde, também está o abastecimento dos medicamentos que fazem parte do protocolo da Sesa para pacientes com suspeita de Covid-19. Na reunião, o secretário estadual da Saúde disse que o Governo prepara uma compra dos medicamentos para abastecer as cidades, mas ainda sem data prevista. “Sei que não é fácil, porque, numa pandemia, não tem leito que chegue, em canto nenhum. Leito para todo mundo não vamos ter nunca. Por isso que existe o isolamento social”, pontua Sayonara Cidade.
Por Jéssica Welma
Fonte: Diário do Nordeste