Na cidade de Farias Brito, 19 das 20 escolas municipais retomaram as aulas presenciais terça-feira (18). As atividades foram interrompidas no dia 12 de abril quando um ataque violento ocorreu em uma das unidades, na zona rural, e duas estudantes do 9° ano do Ensino Fundamental ficaram feridas. Neste prédio, o retorno ainda não ocorreu de modo convencional. Nesse momento, há encontros com pais e professores para acolher a comunidade escolar e definir a retomada das atividades.
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A cidade tem se mobilizado para discutir o que pode ser feito diante do trágico e incomum caso. Com a reabertura das unidades, o momento é de acolhimento e apoio, bem como de cobrança e necessidade de execução de medidas concretas que garantam prevenção à violência.
A rede municipal da cidade, segundo a Prefeitura, tem 3.148 alunos. Desde a ocorrência, a gestão tem reunido secretários municipais, representantes de entidades e instituições (além da educação, da área da saúde, assistência social e também do Ministério Público, de sindicatos e igrejas) e a sociedade civil para discutir providências.
Dados os efeitos da situação, o clima, passado alguns dias, ainda é de incertezas e busca por respostas tanto entre os pais, como entre os profissionais. Isso tem gerado uma certa resistência, por parte de alguns responsáveis, em mandar os filhos às escolas.
“A gente sentiu. Uma parte dos pais está temerosa em relação ao retorno. Mas estamos trabalhando justamente nessa reconquista da escola como espaço de segurança. Estamos atuando para recuperar a confiança. Consultamos o MP (Ministério Público), a Secretaria de Segurança e Seduc (Secretaria de Educação) e de todas a orientação é não fechar as escolas”.
Francisco Pereira Silva (professor Nem), coordenador de gestão da Secretaria Municipal de Educação de Farias Brito
Na escola em que ocorreu o ataque, localizada na zona rural, grande parte das atividades ainda segue remota e estão sendo realizadas presencialmente aquelas de acolhimento para os professores e as famílias. “Ainda estamos chegando próximo dos professores para enfrentar pontos de sofrimento, tensão e medo”, diz o coordenador.
A retomada das aulas no modo convencional, com estudantes e professores nas salas de aula, deve ocorrer quando a gestão, em conjunto com a comunidade, avaliar que é viável.
Protocolo elaborado
Os encontros na última semana, explica o representante da secretaria de educação, serviram para escutar a comunidade e traçar de forma conjunta propostas concretas do plano de retomada. A gestão levou um protocolo pré-elaborado de caráter pedagógico e o complementou com o avançar das discussões.
Pontos previstos no protocolo de orientação das escolas e famílias em Farias Brito:
• Implementar planos abrangentes de respostas a crises escolares, prevendo distintas situações e com papéis claramente definidos para cada instância integrante do processo;
• Implementar no currículo escolar da rede municipal projetos interdisciplinares que valorizem a cultura de paz. Com ações contínuas de envolvimento da comunidade;
• Ampliação da parceria de instituições de ensino com os órgãos de segurança pública. Com atuação mais próxima, trabalhos e troca de informações contínuas entre as instituições;
• Fortalecimento da parceria família-escola;
• Escola e família garantam maior atenção a possíveis mudanças de comportamento dos estudantes;
• Monitoramento mais intenso do ambiente virtual acessado pelos estudantes. Instituições de ensino devem monitorar e orientar de forma mais expressiva os alunos sobre o uso da internet, de modo a estimular a utilização segura.
• Garantir a continuidade do funcionamento das Comissões de Proteção e Prevenção à Violência contra Crianças e Adolescentes em todas as escolas da rede municipal. As Comissões são previstas na Lei Estadual no Ceará 17.253/2020.
Das câmeras ao apoio psicossocial
A ação em Farias Brito ocorreu em meio a outros atos violentos registrados, nas últimas semanas, em escolas do Brasil. O problema é complexo e no país inteiro, especialistas, sociedade e autoridades do poder público tem discutido que o combate e a prevenção à violência exige medidas que vão do reforço na segurança aos cuidados psicossociais.
Das medidas relacionadas ao aparato de segurança, o coordenador de gestão da Educação, professor Nem, explica que estão sendo feitos levantamentos para garantir ao menos três pontos: a instalação de detector de metal, monitoramento de câmeras de vídeo e cercas elétricas nos muros das 20 escolas.
Ele relata que algumas unidades já têm câmeras nos corredores e pátios, mas essa tecnologia precisa ser aprimorada e ampliada. Bem como, está também em estudo, diz ele, o incremento de profissionais na entrada e saída de alunos atuando como monitores e nos cuidados no entorno das escolas.
As medidas nesse sentido, destaca ele, são cobradas pelos pais e são consideradas pela gestão. “Estamos sim preocupados com essa segurança. Temos que convencer os pais com ações concretas”, destaca. Mas, acrescenta que o trabalho para garantir segurança requer outros mecanismos não atrelados especificamente à vigilância e monitoramento.
Um dos pontos é que a Secretaria Municipal de Educação tem uma equipe de atendimento psicossocial, mas há apenas: um psicólogo, um assistente social e um psicopedagogo para a rede inteira.
“A secretaria tem um número muito reduzido e nessa vivência que estamos passando, estamos entrando em contato, pedindo ajuda a Crede (Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação) para que possa disponibilizar alguns profissionais nesse meio. Já vínhamos fazendo um trabalho com isso, mas a demanda diante dessa situação, aumentou muito”, explica o coordenador.
Em relação às vítimas, uma delas foi internada no Hospital Geral de Farias Brito e recebeu alta no dia seguinte à ocorrência. Outra, segue internada na UTI Pediátrica do Hospital Santo Antônio e, segundo a unidade, “continua com evolução favorável”. Felizmente, a estudante se alimenta sozinha e o quadro segue estável.
Onde e como denunciar ameaças e ataques às escolas
Ataques a escolas, como os registrados nas últimas semanas no Brasil, são casos atípicos no Ceará. Especialistas veem o problema como complexo, mas há medidas efetivas que podem ajudar a combater e prevenir novas ocorrências.
No Ceará, a população pode realizar denúncias anônimas pelo número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp.
No âmbito federal, o Ministério da Justiça e Segurança Pública criou um canal digital para coleta de denúncias sobre possíveis ameaças a escolas. O canal pode ser acessado aqui. As denúncias são anônimas.
Por Thatiany Nascimento
Fonte: Diário do Nordeste