O distanciamento do fim do ciclo chuvoso no Sertão cearense amplia, a cada mês, áreas com seca nas diversas regiões do Estado. O mais recente relatório do Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) mostra que houve um aumento, entre julho e agosto, da área de seca fraca, de 20,84% para 40,29%, no território cearense.
Apesar do aumento da área caracterizada como seca fraca, o Ceará mantém a quinta melhor situação do histórico para o período desde o início do Monitor de Secas, em julho de 2014. Em julho passado, o Monitor mostrava uma situação bem mais confortável: 79,1% do território cearense permanecia sem seca, melhor condição do fenômeno desde a criação da ferramenta, em 2014.
A região onde houve registro de aumento de área em agosto abrange o Centro-Sul cearense, com impacto de curto prazo. Houve também uma alteração de impacto de longo prazo no Sertão Central e nos Inhamuns.
O pesquisador da Funceme, Francisco Vasconcelos Júnior, explicou que a ampliação de áreas em situação de seca decorre diretamente da diminuição das chuvas no Estado. “Apesar de registro de chuvas acima da média nos pós-estação chuvosa no Ceará, as precipitações são muito reduzidas e não impactam no quadro geral de avanço de seca”.
Seca fraca
Os técnicos observam que, entre julho e agosto, a área com seca fraca quase dobrou no Estado, passando de 20,84% para 40,29% do território cearense. Em agosto de 2019, o Ceará tinha 66,81% de sua área com seca, sendo 43,16% com seca moderada.
O secretário Executivo da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Aderilo Alcântara, lembrou que a partir deste mês e até o fim do ano a tendência é de ampliação do quadro de seca. “As temperaturas ficam mais elevadas, aumenta a evaporação, a vegetação vai secar cada vez mais, reduz a umidade relativa do ar e das reservas hídricas no sertão”, pontuou.
“Vamos torcer para que as chuvas de pré-estação (dezembro-janeiro) comecem mais cedo e de forma mais intensa”.
O agrônomo e ambientalista, Paulo Maciel, chamou a atenção para os riscos de aumento significativo de queimadas no semiárido. “A mata está cada vez mais seca e isso favorece o descontrole de fogo ainda usado para limpeza de terreno e aqueles de forma criminosa”, afirmou.
Outros estados
No período observado – julho e agosto – o Ceará registrou um aumento de 20,8% e esse índice é menor do que o observado em Alagoas (28%), Maranhão (33%) e Piauí (29%). Além do Ceará, o Mapa do Monitor referente a dados de agosto passado registra o aumento das áreas com seca em 12 dos 19 estados acompanhados:
• Alagoas;
• Ceará
• Goiás;
• Maranhão;
• Minas Gerais;
• Paraíba;
• Pernambuco;
• Piauí;
• Rio de Janeiro;
• Rio Grande do Norte;
• Sergipe; e
• Tocantins.
O relatório aponta que oito estados tiveram o agravamento da seca em comparação entre julho e agosto:
• Bahia;
• Goiás;
• Mato Grosso do Sul;
• Minas Gerais;
• Paraíba;
• Piauí;
• Rio de Janeiro; e
• Tocantins.
Em outros oito estados, o grau de severidade da seca se manteve:
• Alagoas;
• Ceará;
• Distrito Federal (sem seca);
• Espírito Santo, Maranhão;
• Pernambuco;
• Rio Grande do Norte; e
• Sergipe.
A redução de áreas com o fenômeno aconteceu somente na Bahia e no Espírito Santo.
No litoral leste do Nordeste e em grande parte do Sul do Brasil, não se costuma verificar o fenômeno climatológico de um período de ampliação das condições de seca no mês de agosto, que é o último do período chuvoso na faixa que se estende do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia, com valores médios mensais acima de 150mm.
O Monitor de Secas é coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), com o apoio da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), e desenvolvido conjuntamente com diversas instituições estaduais e federais ligadas às áreas de clima e recursos hídricos, que atuam na autoria e validação dos mapas.
No Ceará, a Funceme e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) são os órgãos que atuam no Monitor de Secas. Em operação desde 2014, o Monitor iniciou suas atividades pelo Nordeste, historicamente a região mais afetada por esse tipo de fenômeno climático.
Por Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste