Após ser atingido por um incêndio, há quase dois anos, o Parque Estadual do Sítio Fundão, no Crato, já apresenta quase 100% de sua área recuperada. O rápido resultado deve-se ao trabalho de reflorestamento específico e acompanhamento liderado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Com utilização de “bombas de sementes” – composição de solo e material orgânico -, quase todos os 5,35 hectares impactados já estão revigorados.
A constatação foi feita pelo doutor em fitotecnia e professor do IFCE de Crato, Gauberto Barros. Para analisar a recuperação do local, a área atingida pelo fogo foi dividida em três parcelas de 2.700 m², que seguiram por um monitoramento particular. Em cada uma delas houve um tipo de experimentação, com a regeneração natural, o uso de mudas e as bombas de sementes. Isso ajudou a identificar a melhor forma de avançar na regeneração do Parque.
O engenheiro florestal Cristiano Cardoso enumera alguns indicativos que mostram esta recuperação, como o tamanho das plantas, o número de folhas, o vigor da fauna, a inexistência de praga e eficiência mineral.
“São todas características de um bom desenvolvimento”, reforça. “Em questão de solo posso adiantar que não detectamos perda (mineral). O próprio sistema conservou”, esclarece Gauberto.
A boa recuperação supera a própria estimativa inicial dos ambientalistas. Em março do ano passado, quando o trabalho de reflorestamento teve início, a expectativa era ter, só a partir de dois anos, resultados mais significativos. Este cenário levanta a possibilidade de transpor a outras áreas queimadas a mesma estratégia utilizada no Sítio Fundão, A recuperação quase que integral, no entanto, não cessou os trabalhos. A área continuará sendo monitorada até março de 2021, quando completará dois anos do processo.
Importância
Os esforços envidados para recuperar a área devastada pelo fogo são justificados pela importância da área. “São dois biomas (presentes no local) e há centenas de espécies. A gente vê árvores centenárias, como timbaúbas e jatobá. Por isso, é importante o envolvimento de todos para garantir proteção”, detalha Gauberto.
Cristiano acrescenta que o Sítio Fundão possui uma relação com a Floresta Nacional do Araripe e a APA Araripe, ligadas através dos riachos. “É quase um corredor ecológico. Permite o fluxo de animais e também de plantas, transportadas pelas sementes”. O engenheiro florestal lembra, ainda, que a UC ajuda nas condições ambientais. “Como tem área verde, a evapotranspiração dá uma respiração melhor a quem mora no entorno”, exemplifica.
Danos
Segundo o laudo da Sema, o fogo danificou 5,71% da área do Parque, composta por vegetação nativa do bioma Caatinga, afetando a biodiversidade local, com morte de animais, afugentamento de fauna, morte e degradação de espécies vegetais, arbóreas, herbáceas e arbustivas, além de empobrecimento do solo, emissão de gases na atmosfera, o carreamento de cinzas para os cursos d’água e a irrecuperável destruição do “engenho de pau”.
O equipamento funcionou até 1944, quando houve o declínio da produção de rapadura no Crato. Exemplar único na região do Cariri e tombado em 2013 pela Secretaria de Cultura do Estado, a estrutura foi totalmente consumida pelas chamas. Com a recuperação da flora e sem baixas na fauna, este é considerado, pela gestão do Sítio Fundão, o prejuízo do incêndio não superado.
A gestora do Parque, Dágila Ramonita Ribeiro, conta que para suprir esta ausência foi até o município de Pereiro, ano passado, tentar trazer um engenho similar ao que foi destruído pelo fogo, mas o Município barrou a venda por se tratar de um bem histórico.
Para não perder a memória, o Parque planeja a instalação de uma réplica pequena do engenho, que será exibida na Casa do Visitante, dentro da UC. No entanto, ainda não há previsão para a instalação.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste