Reza a tradição que as chuvas no Ceará em janeiro começam de forma mais regular pela região do Cariri (Sul do Estado), oriundas do Piauí, para depois banhar outras regiões, avançando em direção ao Centro-Sul, Inhamuns, Sertão Central, Vale do Jaguaribe e o Norte cearense. É bem verdade que, nos últimos anos, esse quadro tem se modificado e as precipitações estão ocorrendo de Norte a Sul do Estado, de forma bem mais localizada.
Redução
Nos últimos nove anos, houve redução da área de plantio no sertão cearense, segundo o IBGE. Em 2010, foram cultivados 452.227 hectares de feijão de corda e 551.934 de milho. Já em 2019, a área plantada de feijão de corda caiu para 370.731 hectares e a de milho para 524.303. Ainda assim, não se observa queda geral na produção do Estado. De acordo com Regina Dias, supervisora estadual de estatísticas agropecuárias do IBGE, apesar de maior área de plantio em 2010 em comparação com 2019, a menor produção naquele ano decorre de perda da safra por causa da seca. “Em 2010, o Ceará enfrentou uma seca grande, houve perda elevada da safra de grãos de sequeiro”, lembrou a supervisora.
Os técnicos da Ematerce concordam que períodos seguidos de chuvas irregulares com perdas de safras, saída das famílias do campo para os centros urbanos e mudanças de culturas contribuem para a diminuição das áreas de cultivo de sequeiro.
Prejuízos
No ano passado, no Ceará, houve perda média de grãos de 35,23% em relação à expectativa do início da safra de milho e feijão. “Houve veranicos na maior parte do Estado e excesso de chuva no Norte”, lembrou o presidente da Ematerce, Antônio Amorim.
Sobre a redução de área de plantio em relação ao início desde século, Amorim disse que visivelmente se observa diminuição, mas pondera que houve crescimento da pecuária de leite, áreas de capim, sorgo e fruticultura. “As culturas mudaram. Não temos mais o algodão, o arroz está pouco”, explicou. “Precisamos, entretanto, mensurar melhor essa redução das áreas de produção de grãos”.
Quem percorre as roças no sertão cearense observa as terras ociosas. “Já decidi que não vou plantar porque aqui a seca vem acontecendo a cada ano”, disse o agricultor Francisco Gomes, do Riacho do Faé, zona rural de Quixelô.
O agrônomo, Alberto Holanda, da Ematerce, em Iguatu, estima redução de 60% nas áreas tradicionais de cultivo de milho e feijão em relação há dez anos, na região Centro-Sul. “As perdas sucessivas contribuem para essa realidade”, justificou. “As roças estão pequenas, às vezes atrás das casas, e é safra de subsistência”.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Erivaldo Freitas, acredita em redução ainda maior, entre 70% e 80% da área. “São poucos os que querem plantar”, afirma. “Os prejuízos desestimulam os agricultores”.
Kléber Correia, agrônomo da Ematerce, em Lavras da Mangabeira, comparou que há dez anos se plantava no município dois mil hectares de arroz, hoje apenas 100 hectares são cultivados. Algodão chegou a ocupar 12 mil hectares, hoje não há nenhum cultivo da fibra. “Milho e feijão eram cinco mil hectares, mas hoje são três mil hectares”.
Esperança
Presidente da Ematerce, Antônio Amorim mantém a expectativa de que, na primeira safra deste ano, a área cultivada será maior do que em 2019. “Os agricultores estão mais animados e o prognóstico da Funceme traz mais confiança”, pontuou Amorim.
Onde vem chovendo mais, os agricultores estão esperançosos de que o inverno (de fevereiro a maio) vai ser bem melhor do que nos anos anteriores. É o que pensa o produtor rural, Luís Lopes, da localidade de Santo Antônio, em Cedro. “Já preparei um hectare e vou plantar milho junto com feijão de corda”, disse. “Acho que neste ano, vou tirar uma boa safra”.
O agricultor Antônio Bezerra, do sítio Maniutuba, em Lavras da Mangabeira, ainda aguarda a terra ficar mais úmida para iniciar o preparo de solo, mas está otimista. “Acho que a partir de fevereiro vem mais chuva e quero plantar meio hectare a mais do que no ano passado”, prevê. Em 2019, ele cultivou um hectare e teve perda de 20% da lavoura de grãos de sequeiro.
Na localidade de Riacho Vermelho, uma das mais castigadas pela seca desde 2012, em Iguatu, os agricultores estão descrentes. “Já decidi que neste ano não vou plantar”, afirmou Francisco Lopes. “Nos últimos anos, não deu nada de milho e só tirei um pouco de feijão. Só tive prejuízo”.
Chuva
Na região Centro-Sul, as chuvas ainda estão escassas, e o trabalho de preparo de solo está só começando. Em Iguatu, a expectativa da Secretaria de Agricultura é atender 650 produtores e preparar cerca de 800 hectares. “Até o momento, já preparamos 50 hectares”, disse o titular da pasta, Edmilson Rodrigues. “Estou sentido, pela procura, que as pessoas estão mais otimistas, querendo plantar mais”.
Cada agricultor paga R$ 60,00 por hora trabalhada, valor equivalente a 50% do serviço por trator particular. Manoel Gomes, morador da região de Baú, zona rural de Iguatu, foi um dos atendidos pelo programa que preparou uma área de meio hectare. “Se Deus quiser, teremos boas chuvas”, disse o produtor. “Vou plantar milho, feijão e um pouco de sorgo”.
Por Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste