“Foi desesperador”. A frase da agricultora Izabel Moraes é sucinta, mas consegue dimensionar com precisão os momentos de pavor vividos por diversas comunidades rurais do município de Várzea Alegre entre a noite de sexta-feira (11) e madrugada de sábado (12).
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A cidade foi atingida por uma forte chuva que alagou casas, comércios, rompeu barragens e deixou um rastro de medo e prejuízos.
“Era por volta da meia-noite quando a chuva começou. Pensei que fosse ser mais uma chuva comum. Mas por volta das 5 da manhã, a água começou a invadir a casa, foi desesperador”, relembra Izabel. A primeira reação, conta ela, foi tentar salvar o que ainda podia. Poucas coisas. A água subiu rápido e danificou quase todos os bens da agricultora.
Segundo a Funceme, no último sábado, choveu 70mm. Porém, segundo a assessoria de comunicação do Município, “há registros em pluviômetros particulares na zona rural com volumes superiores a 200mm na região de Canindezinho”.
“O que era de madeira se perdeu tudo. Alguns eletros a gente conseguiu salvar. A geladeira, por exemplo, coloquei o motor para cima e consegui, o resto, perdi quase tudo”, lamenta.
Pela manhã, com quase meio metro de água dentro de casa, ela deixou sua residência e foi buscar abrigo na casa de uma tia, “que mora na parte alta” do distrito de Canindezinho, uma das comunidades mais atingidas após o rompimento da barragem do Açude do Sítio Caraíbas.
Medo permanente
Após o volume da água baixar, a agricultora voltou à casa. No entanto, segundo ela, a Defesa Civil teria dito não ser seguro permanecer no imóvel “devido a quantidade de rachaduras” nas paredes.
“O medo é o mesmo, não passou. Ontem mesmo deu uma chuvinha e a gente já entra em pânico. Eu estou dormindo com uma bolsa feita, coloquei roupas e meus documentos para deixar a casa a qualquer momento caso seja preciso”, descreve.
Ela não foi a única atingida pelas fortes chuvas. Mais de 50 famílias, conforme estimativa do Corpo de Bombeiros, tiveram que deixar suas casas. Alguns moradores, ilhados, tiveram a ajuda da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) para deixar seus imóveis.
Além do medo e da tensão de ter que abandonar o local de moradia, a chuva também causou prejuízos na lavoura e no comércio. Geovani Ferreira não precisou deixar sua casa, mas, após a enchente, ainda contabiliza os danos diante da perda quase total de sua produção de feijão.
“Acho que escapou pouca coisa”, disse o agricultor que tem cerca de 1 hectare plantado. “É da roça que eu tiro o sustento da minha família. No verão, faço uns bicos como pedreiro, mas aqui é de onde sai o dinheiro. Não sei como vai ser”, diz desolado.
Outro que também teve forte prejuízo, foi o comerciante Raimundo Orlando. Ele tem um mercantil no Distrito de Canedezinho, um dos mais importantes abastecedores das comunidades.
“Perdi mercadorias, freezer, parte do prédio caiu, enfim. Ainda não sei contabilizar o prejuízo. E, além disso, os próprios moradores acabam sendo impactados indiretamente, já que a gente fornece muita coisa à comunidade”, relata. Essa enchente, conforme rememora Raimundo, foi a maior da última década.
“Em 2004 tivemos uma enchente, mas não foi dessa forma. Dessa vez entrou água aqui no meu comércio e em várias outras casas. Foi muita água”, acrescenta.
Danos e monitoramento
Dois dias após a forte chuva, a Prefeitura iniciou uma força-tarefa para identificar imóveis ameaçados, monitorar açudes e pequenas barragens que correm risco de rompimento, e dar assistência a quem teve algum tipo de prejuízo.
O gestor municipal Zé Helder ressalta que, para além das 54 famílias que tiveram que deixar suas casas, “quase todos os moradores do Canedezinho tiveram algum tipo de prejuízo na agricultura ou pecuária”.
“Estamos avaliando os imóveis e a recomendação é que os moradores nos procurem, procurem a Defesa Civil caso identifiquem algo de anormal. Além disso, vamos iniciar um forte trabalho para reconstruir as estradas vicinais e os açudes que romperam.”
Zé Helder, prefeito de Várzea Alegre
O gestor confirmou que há a possibilidade de outros pequenos açudes romperem, sobretudo se continuar chovendo na região. “Estamos mapeando e monitorando todas as barragens”, pontuou Helder.
“Essa chuva foi geral, banhou todo o Município, mas neste fim de semana se concentrou nas cabeceiras do Açude Caraíbas, por isso aqui os estragos foram maiores e será aqui que concentraremos nossos esforços”, concluiu.
O comandante do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Nijair Pinto, destacou que a corporação está, em parceira com a prefeitura e com a Defesa Civil, “avaliando o cenário e identificando áreas em potencial risco”. Ele alertou, ainda, para o perigo em que banhistas estão se expondo diante das cheias dos rios.
“Muitos estão tomando banho, pulando de pontes e outros locais e se expondo. É bastante arriscado essa prática. Nessas cheias, não é recomendado o banho ou qualquer outro tipo de lazer”, finalizou.
Por André Costa/Wandenberg Belém
Fonte: Diário do Nordeste