Com o objetivo de propiciar aos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas uma reflexão sobre o atual cenário que vivemos com o enfrentamento ao novo coronavírus, o Centro Socioeducativo José Bezerra de Menezes, em Juazeiro do Norte, está realizando oficinas de artes visuais. Nelas, estão sendo produzidos quadros, que serão expostos e doados para famílias que perderam entes queridos pela Covid-19.
A oficina é regularmente feita na unidade com adolescentes que cumprem medidas socioeducativas com o artista visual e professor, Wanderson Petrova. A atividade foi dividida em cinco grupos formados por quatro a cinco jovens para que todos participem do processo.
O trabalho está dividido em duas etapas. Na primeira, os meninos mostram em suas pinturas a preocupação com suas famílias, eles mesmos e a relação de afeto com os funcionários da unidade, durante a pandemia. “É muito possível que vire uma exposição em formato que atenda às recomendações sanitárias”, antecipa Petrova. Pelo menos 18 obras estão próximas de serem finalizadas.
Um dos jovens participantes, por exemplo, está pintando uma favela e sua mãe, agente de saúde, visitando as residências de áreas periféricas, informado às pessoas sobre a epidemia da Covid-19.
“É uma homenagem a minha mãe porque muitas pessoas pararam de trabalhar, mas ela, como é da área de saúde, está trabalhando para ajudar as outras pessoas. Ela é muito importante na minha vida”, define.
Já a outra etapa consiste em trazer uma relação entre os jovens que cumprem medidas socioeducativas e os moradores da região do Cariri. Através de ligações feitas pelo próprio artista visual, estão sendo colhidos depoimentos sobre a experiência durante esta pandemia. “Alguns telefonemas têm me confidenciado coisas sérias, como mortes pela Covid-19. Eu gravo e trago estes relatos para os meninos”, descreve.
Os relatos serão transformados em quadros que serão doados para as próprias famílias. “Vai servir como presente e demonstrar que essa dor é nossa”, completa Petrova. Uma dessas histórias que se transformará em quadro narra o episódio de uma mãe que perdeu seu filho em decorrência do coronavírus. “É uma fala muito forte”, completa o professor.
O artista visual acredita que este trabalho oferece uma relação de empatia entre os adolescentes que cumprem as medidas socioeducativas e a comunidade.
“A arte veio desempenhar esse papel em uma nova reformulação. Por ser transformadora, ela vai se adaptando aos tempos difíceis. Podemos trabalhar as emoções, a relação saudável da cabeça e do cuidado com o outro”, define.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste