Os municípios cearenses têm enfrentado problemas com a falta dos “kits intubação” usados no tratamento de pacientes com Covid-19. Em reunião, na segunda-feira (19), com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prefeitos cobraram urgência na questão. O Ministério da Saúde enviou ao Ceará, no mesmo dia, nova remessa com mais de 135 mil medicamentos para intubação, fruto de uma doação da empresa Vale, mas o lote não é suficiente para atender a demanda no Estado.
A previsão da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) é de que os medicamentos do lote enviado pelo Ministério durem menos menos de seis dias. Isso não representa, contudo, risco de desabastecimento no Ceará. A Pasta ressalta que o Governo do Estado possui estoque próprio, que está regular, e tem ajudado municípios com o envio de medicamentos. O lote doado pela Vale, distribuído pelo Governo Federal, é um reforço diante da pressão que afeta o sistema de saúde.
O “kit intubação” é um item essencial no tratamento de pacientes mais graves da Covid-19, que precisam de ventilação mecânica. São kits formados por 20 medicamentos, entre analgésicos, bloqueadores neuromusucalres e remédios para sedação.
Com o aumento de casos do novo coronavírus e das internações, a demanda por esses medicamentos cresceu muito, e a rede pública de saúde nos municípios e nos estados tem enfrentado escassez dos “kits”.
De acordo com a Sesa, diante do risco de escassez de medicamentos, “estratégias vêm sendo negociadas pelos gestores estaduais e municipais”, junto ao Ministério da Saúde e outras instituições, “para minimizar os impactos de desabastecimento dos medicamentos nos serviços de saúde, aqui denominados kit intubação, para o tratamento da Covid-19”.
Situação no Ceará
A presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Ceará, Sayonara Rodrigues, conta que o problema atinge todos os 184 municípios e que, em algumas cidades, os profissionais têm trabalhado com “pautas” (estoques) de apenas dois, três dias.
“A gente estava trabalhando com medicamento para 48 horas. Está faltando em todo canto. Em todos os 184 municípios cearenses faltam esses insumos”.
Sayonara Rodrigues, Presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará
Esse foi um dos assuntos debatidos, na segunda-feira (19), pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
O presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), prefeito de Chorozinho, Júnior Castro (PDT), participou do encontro.
Prefeitos cobram ministro
As associações que representam os municípios brasileiros cobraram uma solução para o problema. Segundo Júnior Castro, o ministro prometeu que devem chegar ao Brasil novos medicamentos comprados pelo governo brasileiro no mercado internacional e também vindos de doação. Além disso, citou que o governo espanhol deve ajudar o País com o envio de medicamentos.
“Foi um dos nossos pedidos (por mais “kits intubação”) na reunião com o ministro. A gente tem acompanhado essa dificuldade de conseguir os insumos para intubação. A gente vem consumindo só o que tinha de reserva. O Governo Federal já tinha sido alertado sobre o problema e agora chegou a esse momento crítico”
Júnior Castro, Presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará
Nova remessa para o Ceará
O Governo Federal enviou nova remessa de medicamentos para intubação ao Estado, a partir de uma doação da empresa Vale. Esse lote – o terceiro enviado pelo Ministério da Saúde ao Ceará neste ano – contém apenas quatro remédios dos 20 que compõem o “kit intubação”.
As empresas Vale e outras no Brasil doaram 2,3 milhões de medicamentos de intubação para o Ministério da Saúde distribuir aos estados e municípios. No caso do Ceará, são mais de 135 mil remédios recebidos – uma parte vai para a rede da Secretaria de Saúde do Estado, outra para os municípios e uma parcela para equipamentos federais no Estado.
O estoque enviado pelo Ministério deve durar menos de seis dias. Mesmo que represente um alívio no curto prazo, o material só vai atender uma parte da demanda do Estado e dos municípios. Para suprir os mais de 1.400 leitos de UTI Covid-19 no Estado, por exemplo, são necessários mais medicamentos.
Segundo a Sesa, no âmbito do lote enviado pelo Governo Federal, os medicamentos Cisatracúrio 10 mg/pó (33.850) e Fentanila 0,05 mg/ml (55.940) devem ser suficientes para o consumo por 5,9 dias. O Propofol (24.010) tem estoque para 3,9 dias de uso. Já o medicamento Midazolam 10 mg/2ml (21.850) terá disponibilidade para menos de um dia.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a aquisição de medicamentos do “kit intubação” é responsabilidade das secretarias de saúde municipais, estaduais e do Ministério da Saúde. No entanto, neste momento de gravidade da pandemia, a responsabilidade maior acaba sendo do Governo Federal.
Por Letícia Lima
Fonte: Diário do Nordeste