Diagnosticado com o novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) manteve relação próxima com centenas de pessoas nos últimos 14 dias. Trocou apertos de mão, tocou, tirou fotos, conversou em proximidade e não usou máscara em inúmeras ocasiões.
Além dos encontros fechados no Palácio do Planalto, Bolsonaro fez quatro viagens, ao Ceará, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás, participou de oito cerimônias e três reuniões coletivas em Brasília.
Ao menos 66 políticos, empresários e outras personalidades estiveram cara a cara com o presidente nesse período.
Fotos oficiais e as redes sociais do governo e do presidente mostram que em várias ocasiões Bolsonaro não usou máscara, apertou a mão das pessoas, promoveu e participou de aglomerações e rodinhas de conversa sem preocupação aparente com as regras para evitar o contágio da doença.
O tempo de incubação da Covid-19, ou seja, o período em que a pessoa está infectada, mas não apresenta sintomas, pode variar de 1 a 14 dias, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Bolsonaro, 65, afirmou nesta terça-feira (7) que contraiu o novo coronavírus, após realizar um novo exame para detectar o vírus. Ele decidiu fazer o teste após sentir sintomas leves no último domingo (5).
Notório descumpridor das orientações sanitárias relacionadas ao coronavírus, Bolsonaro é contrário à política de distanciamento social adotada em quase todo o mundo e já chegou a classificar a Covid-19 como uma mera “gripezinha”.
Um dos eventos em que ele descumpriu as orientações, por exemplo, foi na cerimônia de abertura da Semana Nacional de Políticas sobre Drogas, em Brasília. Bolsonaro estava de máscara em parte do período, mas em outros momentos ficou sem ela. Trocou apertos de mão, interagiu e ficou ao lado de pessoas sem máscara, além de não respeitar o distanciamento.
No dia seguinte, na cerimônia de inauguração do Centro de Operações Espaciais Principal (COPE-P), em Brasília, esteve de máscara, mas distribuiu diversos apertos de mão e também participou de diversas aglomerações.
Em 24 de junho, o presidente da República se reuniu no Palácio do Planalto em um café da manhã com ao menos 13 parlamentares. Nem Bolsonaro nem os deputados, que se aglomeraram em rodinhas e na mesa do café, usavam máscara.
A primeira viagem que fez nesse período foi ao Ceará, para inauguração de uma obra da transposição do rio São Francisco. Ele provocou aglomerações e tirou a máscara diversas vezes, inclusive ao posar para fotos com apoiadores.
Nesse dia, postou em seu Facebook uma foto conversando, sem proteção, com um senhor de idade que tinha a máscara abaixada.
Sem divulgar em sua agenda, Bolsonaro fez no dia seguinte uma visita ao batalhão ferroviário do Exército no Triângulo Mineiro. Vídeo postado pelo presidente no Twitter o mostra sem máscara e provocando grande aglomeração com a população local.
Bolsonaro também teve diversos encontros no Planalto com assessores e ministros: 33 nomes aparecem em sua agenda oficial nesse período.
Os ministros Paulo Guedes (Economia), Braga Netto (Casa Civil), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e José Levi (Advocacia-Geral da União), entre outros, foram interlocutores frequentes do presidente nesse período.
Bolsonaro também esteve próximo dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), entre outros.
Em um dos encontros, com o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, no último dia 30, toda a comitiva visitante aparece nas fotos usando máscaras, menos Bolsonaro e seu secretário-executivo da Secretaria de Comunicação, Fabio Wajngarten.
Em outro desses encontros coletivos, em 3 de julho, Bolsonaro, ministros e empresários levados pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, não usaram máscaras, nem mantiveram disância à mesa e nas rodinhas de conversa.
Até em ocasiões extra-oficiais Bolsonaro apareceu em imagens descumprindo as recomendações das autoridades sanitárias. Recentemente a primeira-dama, Michelle, adotou um cachorro que teria sido recolhido perdido nas imediações do Palácio da Alvorada.
Após o tutor se identificar, Bolsonaro e Michelle devolveram o animal —de nome Zeus, mas que recebeu da família presidencial o batismo de Augusto— ao verdadeiro dono. Nas fotos, Bolsonaro aparece sem máscara e apertando a mão do dono de Zeus.
Na última live que fez nas redes sociais, em 2 de julho, o presidente ficou ao lado de seis pessoas, todas sem máscara e bem próximas. Bolsonaro tossiu em vários momentos da transmissão.
No último dia 30, a Justiça derrubou decisão que obrigava Bolsonaro a usar máscara ao sair às ruas do Distrito Federal.
O uso da máscara é obrigatório no DF, segundo um decreto do governador Ibaneis. Bolsonaro, no entanto, já participou de diversos atos de seus apoiadores sem máscara.
Fonte: Folhapress