Após uma conversa entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Marcelo Queiroga, considerada “extremamente positiva”, os dois acertaram que o médico vai substituir o general Eduardo Pazuello no comando do Ministério da Saúde, em meio ao pior momento da pandemia de coronavírus no Brasil. As informações são da colunista Carla Araújo, do UOL.
No início da noite, o presidente confirmou a apoiadores a indicação e disse que ele conhece o cardiologista “há alguns anos”. “Então, não é uma pessoa que eu tomei conhecimento há pouco tempo. Tem tudo, no meu entender, para fazer um bom trabalho dando prosseguimento em tudo que o Pazuello fez até hoje”, disse.
Pazuello deixa o cargo de ministro da Saúde sob pressão, depois de dez meses no comando da pasta — quatro deles interinamente. Ele assumiu em maio após a saída de Nelson Teich, que, por sua vez, havia substituído Luiz Henrique Mandetta — ambos deixaram o cargo por divergência com Bolsonaro em relação à condução do enfrentamento da crise sanitária.
Segundo interlocutores do presidente ouvidos pelo UOL, que confirmaram o acerto mais cedo, o governo quer afastar que a indicação de Queiroga tenha partido do centrão — grupo informal alinhado ao governo Jair Bolsonaro em troca de espaço na administração pública.
Apesar disso, assessores palacianos admitiram que também nesta segunda-feira, em conversa com Bolsonaro, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), referendou a indicação e fez elogios ao médico.
Elogios a Pazuello
Bolsonaro, que durante muito tempo resistiu em trocar Pazuello do comando da Saúde, fez elogios ao ainda ministro.
“A parte de gestão foi muito bem feita por ele [Pazuello] e agora vamos partir para uma parte mais agressiva no tocante ao combate ao vírus. Então, anuncio agora que o doutor Marcelo Queiroga, a partir de amanhã, vai ser publicação em Diário Oficial da União. E começa então uma transição que vai demorar, aí, uma ou duas semanas”, afirmou no início desta noite.
A ordem que não haja correria na transição, já que a pasta da saúde é a responsável pelas ações de combate a pandemia. Nas palavras de um auxiliar militar, a transição será tranquila, “É como no quartel: vai levar de cinco a oito dias para passar a função”.
Bolsonaro confirmou que a nomeação de Marcelo Queiroga para o comando da pasta será publicada no Diário Oficial da União amanhã.
A saída de Pazuello chegou a ser confirmada ontem (15) e posteriormente negada pelo atual ministro. Ele, porém, admitiu na tarde de hoje que o presidente pretendia reformular a pasta.
“Um dia sim [deixar o cargo], pode ser curto, médio ou a longo prazo. O presidente está na tratativa de reorganizar o ministério. Enquanto isso não for definido, vida segue normal”, disse Pazuello em entrevista coletiva nesta tarde. “Eu não vou pedir pra ir embora, não é da minha característica”.
Bolsonaro se reuniu ontem e hoje com a médica cardiologista Ludhmila Hajjar, que foi cotada para assumir o cargo. Apesar de auxiliares do governo terem tentado criar a narrativa de que “não houve um convite formal”, Hajjar garantiu que foi convidada, explicou que recusou o convite por divergências técnicas com o governo e revelou ameaças.
Quem é Marcelo Queiroga
Marcelo Queiroga é o atual presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia e tem bom trânsito em Brasília e no governo, tendo sido convidado este ano para integrar a direção da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Ele é graduado em Medicina pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba). É especialista em cardiologia e tem doutorado em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em Portugal. Atualmente, dirige o departamento de hemodinâmica e cardiologia intervencionista (Cardiocenter) do Hospital Alberto Urquiza Wanderley (Unimed João Pessoa) e é médico cardiologista intervencionista no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, também na Paraíba.
Assim como Ludhmila Hajjar, recebida ontem pelo presidente, Queiroga defende o isolamento social como forma de combate à pandemia. Ele também já se posicionou contrário ao “tratamento precoce” defendido por Bolsonaro à base de cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a Covid-19.