O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que, se eleito, vai mudar a política de preços da Petrobras, desatrelando do dólar, para reduzir o valor dos combustíveis para o consumidor final. Em entrevista ao UOL nesta manhã, ele disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) “não teve coragem” de agir na empresa.
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Em pouco mais de 1h40 de entrevista, Lula tratou de diferentes pontos, como retomada do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], recriação de ministérios que existiam no seu governo (2003-2010) e indicou o perfil de ministros que adotará em um possível governo. O ex-presidente subiu o tom contra Bolsonaro, seu principal adversário para as eleições, mas disse não acreditar em golpe.
O ex-presidente ocupa o primeiro lugar nas intenções de voto segundo a última pesquisa Datafolha, sendo citado por 47% dos eleitores. Jair Bolsonaro (PL) é o segundo mais bem colocado, com 28%, e Ciro Gomes (PDT) ocupa a terceira posição, com 8% das intenções de voto.
Mudança na política de preços da Petrobras
Lula disse que a atual política de preços da Petrobras é “para agradar aos acionistas em detrimento de brasileiros” e prometeu fazer mudanças para que o preço seja calculado em função dos custos nacionais “porque produzimos em real, pagamos salário em real”.
O petista afirmou que vai investir para aumentar a capacidade de refino do país e prometeu trabalhar para tornar a empresa brasileira um destaque internacional. “Vou fazer a Petrobras ser, se não a primeira, a segunda empresa petroleira do mundo”, afirmou Lula.
Questionado sobre como pretende lidar com os bancos públicos em uma nova gestão, o candidato disse que vai expandir a atuação do BNDES para beneficiar pequenos e médios empreendedores.
“Quero fazer com que o BNDES seja ’emprestador’ de dinheiro para pequenos e médios empreendedores. Não apenas emprestar para grandes empresas. Para que a gente possa dinamizar a economia brasileira”, explicou Lula.
Retomada do PAC e Bolsa Família em R$ 600
O ex-presidente prometeu retomar programas como o PAC, o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família em R$ 600, pagos atualmente no Auxílio Brasil.
O petista afirmou, no entanto, que deve rever os critérios para receber o valor completo. “Mudar nome foi bobagem. Vamos retomar o Bolsa Família a R$ 600. Tem que levar em conta número de pessoas por família, não pode ser igual para todo mundo”, disse Lula, repetindo o que já havia dito na oficialização de sua candidatura na convenção do PT.
“Quero fazer reunião com 27 governadores pra que faça levantamento das três principais obras de cada estado sobre educação e saúde pra trabalhar antes do Carnaval. Não tem muito tempo.”
Lula, ao UOL
Ministros com “cabeça política”
Caso eleito, ele disse que seus futuros ministros deverão ter perfil político. “Eu quero pessoa com cabeça política. Ele pode ser advogado, médico, catador de recicláveis. Mas quero que tenha cabeça política. Se ele tiver versatilidade política, pode ser ministro da Economia”, afirmou.
“Não quero governo burocrata, só com técnicos. Se técnicos resolvessem, ia na USP [Universidade de São Paulo] e buscava técnicos. Ou ia em Harvard [EUA]. Quem tem que dirigir é a política. Todos os meus ministros vão ter que ter cabeça política boa. Ele monta a equipe com melhores técnicos.”
Lula, candidato do PT à Presidência, durante o UOL Entrevista
Lula não quis tratar de nomes, mas prometeu mais uma vez recriar ministérios do seu governo, como Cultura, extinto por Bolsonaro na primeira semana de mandato, e da Igualdade Racial.
“Vamos criar ministérios necessário porque, quando coloca uma coisa importante, como cultura, no lugar secundário, você não está dando importância. Cultura vai ser muito importante. Vamos criar comitês estaduais para ver se consegue nacionalizar cultura. É preciso que dê à cultura compreensão de indústria geradora de milhões de empregos”, afirmou.
“Não acredito em golpe”
Lula subiu o tom contra o presidente Bolsonaro, mas afirmou não acreditar em um possível golpe de Estado, pois as Forças Armadas não apoiariam um rompimento democrático.
“Acho que ele vai tentar fazer o que quer fazer. [Mas] a gente deve ter em conta que militares são mais responsáveis que Bolsonaro”, afirmou o ex-presidente sobre possibilidade de golpe. “Convivi com militares e não tenho queixa do comportamento das Forças Armadas. Mantive oito anos de convivência da forma mais digna possível.”
“Essas bobagens que Bolsonaro fala não têm apoio dos militares da ativa, do alto comando. Ele só pode ser considerado chefe supremo quando é sério, fala coisa com coisa e respeita instituições. Ele fala ‘meu Exército’, mas não é dele. Ele foi expulso do Exército por má conduta. Então como a gente pode pensar em golpe? Não acredito em golpe, não acredito que as Forças Armadas pensem nisso. Se ele começar a brincar com democracia, ele vai pagar caro.”
Lula, durante entrevista no UOL
O ex-presidente disse ainda que Bolsonaro não tem “inteligência e bom senso” ao convocar apoiadores para os atos de 7 de Setembro, como já havia feito no ano passado. Durante a convenção do PL que o alçou oficialmente à reeleição, no último domingo (24), repetiu o feito em meio a críticas ao STF [Supremo Tribunal Federal].
“O presidente que aí está, se tivesse bom senso e inteligência, estaria promovendo em 22 [o 7] de setembro [como] uma grande festa cívica de 200 anos de Independência. Avaliar o que foi feito e o que vamos fazer. Não, ele quer transformar os 200 anos em marco dele, fazer motociata, quem sabe com estátua de Tiradentes, ele quer brincar com data nobre, ele não vai ter sucesso. O povo sabe que Independência não é dele, é uma conquista da sociedade brasileira. É coisa séria.”
Lula, candidato do PT à Presidência
Lula criticou ainda as recorrentes críticas que Bolsonaro tem feito ao sistema eleitoral brasileiro.
Cidadão que foi eleito não tem um que coloque em suspeição a urna. Só esse bronco [Bolsonaro], que ganhou com urna eletrônica e está tentando copiar [o ex-presidente norte-americano Donald] Trump e desafiar a lógica da democracia.”
Lula (PT)
Fonte: UOL