O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que a situação do Amazonas em relação ao coronavírus está “terrível”, mas isentou o governo federal e declarou que “fez sua parte, com recursos, meios”.
O governante também lembrou que as Forças Armadas estão mobilizadas na região para dar assistência ao sistema público de saúde, que se encontra em colapso e enfrenta problemas graves como falta vagas em UTI e insuficiência de cilindros de oxigênio. O equipamento é fundamental no tratamento de casos de Covid-19.
“A gente está sempre fazendo o que tem que fazer, né? Problema em Manaus: terrível o problema lá, agora nós fizemos a nossa parte, com recursos, meios”, declarou ele. “O ministro da Saúde [Eduardo Pazuello] esteve lá na segunda-feira, providenciou oxigênio, começou o tratamento precoce, que alguns criticam ainda.”
Em ação civil pública ajuizada ontem na Justiça Federal de Manaus, cinco órgãos públicos federais e estaduais afirmam que a responsabilidade por dar uma solução ao colapso no fornecimento de oxigênio no Amazonas é do governo federal. A ação foi ajuizada por representantes do MPF (Ministério Público Federal), DPU (Defensoria Pública da União), Ministério Público do Estado do Amazonas, Defensoria Pública do Estado do Amazonas e Ministério Público de Contas do Estado do Amazonas.
Mais cedo, Bolsonaro já havia publicado em seu Twitter uma mensagem em que reproduzia dados do Portal da Transparência sobre recursos destinados a Manaus. Não há um comentário do presidente na publicação, apenas um print de tela.
Internamente, a estratégia tem sido moldada com o mesmo sentido: desassociar o governo federal da repercussão do colapso em Manaus e lembrar que, por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), Bolsonaro teria ficado de “mãos atadas” na implementação de medidas de combate à pandemia.
O presidente costuma lembrar repetidamente que a Corte delegou a governadores e prefeitos o aval ou não a medidas de restrição e até mesmo lockdown (fechamento total). A União, por sua vez, teria se limitado a repassar recursos financeiros, de acordo com o entendimento de Bolsonaro.
‘Tratamento precoce’
Além da situação amazonense, Bolsonaro também voltou a falar em “tratamento precoce” — feito com uso de medicamentos que não têm eficácia cientificamente comprovada no combate à doença — como uma alternativa vital ao enfrentamento à pandemia.
Como exemplo e sem provas que corroborassem a sua fala, ele citou o fato de que 200 vizinhos dele teriam sido contaminados com a Covid-19 e supostamente não “foram para o hospital”.
“O médico pode receitar o tratamento precoce. Se o médico não quiser, procure outro médico. Não tem problema. Repito o tempo todo aqui: no meu prédio, mais de 200 pessoas pegaram a Covid, se trataram com cloroquina e ivermectina, ninguém foi para o hospital.”
“E assim vocês veem exemplo no país todo. E não tem efeito colateral. Alguns ficam falando: ‘Ah, a ciência’. Calma, rapaz, esses medicamentos, a hidroxicloroquina são 70 anos, não têm efeito colateral. Se não surtir efeito, não vai acontecer nada para ele.”
Colapso em Manaus
O aumento nos casos e internações por Covid-19 em Manaus provocou um novo colapso no sistema de saúde do município. Hospitais enfrentam falta de cilindros de oxigênio, usados, principalmente, em pacientes que necessitam de intubação.
Na manhã de hoje, a FAB (Força Aérea Brasileira) realizou o primeiro embarque de pacientes com Covid-19 em Manaus que serão levados para outros estados. Nove pacientes e cinco médicos embarcaram no voo com destino a Teresina.
Duas aeronaves C-99 do Primeiro Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte (1º/2º GT – Esquadrão Condor) cumprem as missões de transporte dos pacientes com o objetivo de minimizar os impactos no sistema de saúde da capital amazonense.
Diversos estados e municípios e até o governo da Venezuela ofereceram ajuda ao Amazonas. O país vizinho afirmou que vai disponibilizar oxigênio para atender os hospitais amazonenses.
Ontem, os cemitérios de Manaus registraram 186 sepultamentos. Desse total, 134 foram em cemitérios públicos, enquanto 52 foram realizados em espaços particulares. Entre as causas das mortes dos sepultamentos nos cemitérios públicos, 58 foram declaradas como Covid-19, e um caso suspeito. Já nos espaços privados, foram 29 registros de óbitos pelo novo coronavírus.
Vacina não obrigatória
Assim como já fez em vários outros momentos, o presidente disse que, “se depender dele, a vacina [contra a Covid-19] não vai ser obrigatória”. “Não estou fazendo campanha contra a vacina. É uma vacina experimental. Então, a obrigatoriedade fica sendo uma irresponsabilidade”, afirmou.
Fonte: UOL