O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou hoje que espera “uma fala unificada e o fim da dubiedade” entre suas orientações e as do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a respeito das medidas de combate à expansão da pandemia do novo coronavírus.
“Isso leva para o brasileiro uma dubiedade, ele não sabe se ele escuta o ministro da saúde ou se escuta o presidente da República”, afirmou em entrevista veiculada ao programa “Fantástico”, da TV Globo.
Em tom mais comedido que no início da pandemia, Mandetta voltou a defender que a população brasileira permaneça em casa, posição contrária à defendida pelo presidente. Ainda assim, afirmou que o governo federal precisa passar uma “fala única” à população.
“[A diferença nas orientações] preocupa porque a população olha e fala assim: Será que o ministro da Saúde é contra o presidente? E não há ninguém contra ou a favor de nada. O nosso inimigo é o coronavírus, ele que é o nosso principal adversário. Se eu estou ministro da Saúde, eu estou por obra e nomeação do presidente”, afirmou Mandetta
“O presidente também olha pelo lado da economia”, prosseguiu, referindo-se à argumentação de Bolsonaro de que o isolamento piora o desemprego.
“O Ministério da Saúde entende a economia, entende a cultura, mas chama pro lado do equilíbrio e proteção à vida. Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento dessa situação possa ser comum e possa ter uma fala unificada.”
Em nova indireta ao presidente, Mandetta criticou o desrespeito às medidas de isolamento social.
“Quando você vê pessoas entrando em padarias, em supermercados, fazendo aquelas filas, uma atrás da outra, encostadas, grudadas, pessoas fazendo piqueniques em parques, aglomeradas. Isso é claramente equivocado”, afirmou o ministro.
Bolsonaro, que não foi citado nominalmente, recebeu onda de críticas por ter ido a uma padaria durante o feriado de Páscoa. Nas imagens aparece dando a mão, abraçando e sendo fotografado com as pessoas sem usar máscara ou qualquer proteção. O vídeo foi postado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
O tom em relação às medidas de restrição adotadas por muitos estados também sofreu alguma alteração. O ministro, que já chegou a recomendar que a população ouvisse os governadores, disse hoje que “não é essa coisa de decreto, de polícia” que vai resolver a situação.
“É como cada um de nós brasileiros vamos ter a consciência do cuidado individual, sendo responsável pelo cuidado coletivo”, afirmou.
Ao acompanhar visita do presidente às obras de um hospital de campanha em Goiás ontem, Mandetta esquivou-se de comentar o fato de seu chefe contrariar suas próprias orientações e promover aglomeração ao cumprimentar apoiadores. “Eu posso no máximo recomendar, não posso apontar o dedo. Eu não julgo ninguém”, disse.
Ao falar sobre a projeção de aumento de casos no país, Mandetta respondeu também à fala de Bolsonaro na tarde de hoje, que disse que “parece que está começando a ir embora a questão do vírus”.
Na entrevista, o ministro ressaltou projeção da pasta de que o Brasil passará por uma etapa de aceleração descontrolada de casos em maio, com desaceleração prevista para meados de junho.
“Serão dois a três meses de muito questionamento das práticas. Obviamente o Ministério da Saúde vai ser o mais questionado. Então as próximas semanas agora é o comportamento da sociedade é o que dita”, disse à Globo.
Atualmente, o país já contabilizou 1.223 mortes em decorrência do novo coronavírus e um total de 22.169 casos oficiais.
Respeito ao distanciamento
O ministro deu detalhes de como tem seguido as normas de distanciamento no trabalho e com a família. “Dentro do ministério, como a equipe que está trabalhando comigo é uma equipe já muito formada, muito bem distribuída, a nossa distância entre um e outro é de 2,5 m e 3 m em qualquer circunstância”, afirmou. Segundo ele, até agora não houve nenhum colaborador contaminado na pasta.
O ministro contou também que usa o telefone para entrar em contato com a família.
“É um cuidado muito grande, uma saudade muito grande do meu neto, dos meus filhos que estão lá em Mato Grosso do Sul, do meu pai, da minha mãe, esses eu falo com eles normalmente por telefone, é uma parte que é dura pra todo mundo.”
Fonte: UOL