Desde que Jair Bolsonaro ameaçou mudar o cenário geopolítico mundial usando “pólvora” contra os Estados Unidos, não foram poucas as manifestações dos generais para tratar a declaração presidencial como algo desimportante. Seis deles foram ouvidos pela coluna e seguiram por esse caminho.
Militares constrangidos trataram a verborragia presidencial como uma espécie de performance para animar os bolsonaristas mais fanáticos. Os termos usados não foram nada lisonjeiros: “fanfarronice”, “irresponsabilidade”, “bravata”, “maluquice”, “ridículo”.
Ontem foi a vez do general e vice-presidente Hamilton Mourão dizer na BandNews que a história de saliva e pólvora não vai além do aforismo. “É algo totalmente impossível e inimaginável uma reação de força aos Estados Unidos”, afirmou, repisando o óbvio.
Alguns generais até mostram surpresa com o fato de a imprensa gastar espaço para discutir assunto.
É como se a afirmação tivesse sido feita por uma criança de jardim de infância ou por algum personagem embriagado no fundo de um boteco.
O problema é que esse homem, tratado muitas vezes como inimputável, administra o orçamento de R$ 3,5 trilhões do governo federal e é responsável pela máquina administrativa que interfere na vida de 210 milhões de pessoas.
Se os generais realmente acreditam que não se deve levar em conta o que Bolsonaro diz quando trata de um assunto tão grave quanto uma guerra, por qual motivo deve-se achar que o país está em boas mãos para resolver problemas econômicos, sanitários ou ambientais?
Os oficiais das Forças Armadas que abraçaram o projeto anômalo encampado pelo general Eduardo Villas Bôas, a quem o presidente agradeceu o apoio assim que foi eleito, devem reconhecer que embarcaram o país numa canoa furada.
Alguns já fizeram esse reconhecimento em privado. Outros poucos resistem.
Admitir publicamente os erros não é algo costumeiro para oficiais brasileiros de primeiro escalão. Contudo, é o primeiro passo para retornar à institucionalidade e evitar que interferências como as dos últimos anos se repitam.
Ou podemos fingir que nada de anormal está acontecendo e continuar produzindo memes do homem que faz o país se tornar chacota internacional a cada vez que abre a boca.
E arcar com todos os prejuízos econômicos que essa humilhação acarreta.
Por Chico Alves
Fonte: UOL