Abertas as urnas no Ceará, as eleições municipais mostraram que partidos políticos que integram grupo que governa o Estado conseguiu se fortalecer ainda mais nas disputas pelos municípios. Enquanto isso, partidos de oposição, como Pros, Podemos e Psol, permaneceram com pouca amplitude em âmbito estadual. Mesmo aliado do governador Camilo Santana, o MDB de Eunício Oliveira sofreu baixas, como mostram os dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A legenda, que já governou 33 prefeituras em 2008, quatro anos depois passou a administrar 28 cidades. Após o pleito de domingo caiu para 17.
A força dos partidos no interior do Estado, com o resultado das eleições municipais, já prepara o cenário para os próximos dois anos quando o eleitor vai escolher o novo governador ou governadora, além das vagas para o Senado, Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados. Buscando manter a hegemonia como o maior partido do Ceará, o PDT aumentou de 48 para 66 a quantidade de prefeitos eleitos no primeiro turno. Em 2016, a legenda obteve a última administração no segundo turno, em Fortaleza.
A força dos irmãos Cid e Ciro Gomes ao que parece continua influenciando os resultados da eleição no Estado.
Os seus principais aliados saíram vencedores, como em Sobral, com Ivo Gomes, e nos principais centros eleitorais. A exceção foi a derrota em Juazeiro do Norte, quando o grupo não conseguiu reeleger o atual prefeito Arnon Bezerra (PTB), derrotado pelo oposicionista Glêdson Bezerra, do Podemos, partido liderado pelo senador Eduardo Girão. Na ala da oposição, o Pros venceu em dois municípios, o Podemos e o Psol em um.
O grupo governista se mantém forte em Fortaleza, e em Caucaia, segundo maior colégio eleitoral do Ceará.
Na Capital, Sarto Nogueira (PDT) recebeu maior número de votos e vai disputar o segundo turno com Capitão Wagner (Pros). Já em Caucaia, Naumi Amorim (PSD) – que é também aliado do ex-vice-governador Domingos Filho – foi o candidato mais votado e enfrentará Vitor Valim (Pros) no próximo dia 29.
Domingos Filho e o ex-senador Eunício Oliveira, que integravam a oposição ao governador Camilo Santana (PT) ainda na disputa eleitoral acirrada de 2014, seguem a agora na trincheira governista. A mudança de lado se deu antes da reeleição do petista para o Executivo estadual. Mais próximo do governador, o grupo de Domingos Filho conseguiu ampliar o número de prefeituras pelo PSD. Saiu de 21 para 27 – inclusive recuperando a administração de Tauá, o maior colégio eleitoral do sertão dos Inhamuns, com a eleição de Patrícia Aguiar, que ocupava mandato de deputada estadual.
Perdas
Por outro lado, Eunício Oliveira viu o MDB perder espaço. Do mesmo lado de Domingos Filho no cenário estadual, o ex-senador perdeu a batalha no berço eleitoral, em Lavras da Mangabeira, para o grupo de Domingos, que é ex-conselheiro do extinto Tribunal de Contas dos Municípios. Foi lá que o emedebista Ildsser Lopes, atual prefeito, foi derrotado por Ronaldo da Madeireira, do PSD, na disputa da reeleição no município.
Eunício viu o partido presidido por ele deixar o segundo lugar em número de prefeituras e cair para o quarto lugar, atrás do PT que enfrentou nos últimos anos uma resistência do eleitor em alguns municípios do interior. Apesar de ser partido do governador Camilo Santana, o PT conseguiu melhorar o cenário em apenas três prefeituras. Está atrás das forças do PDT e PSD.
Os cálculos de prefeituras são usados principalmente na mesa de negociação quando as legendas vão estudar as possibilidades de lançar um nome para o Senado ou de barganhar uma vaga de vice na chapa majoritária do Palácio da Abolição. Foi nesse cenário que Domingos Filho, então no MDB, foi vice-governador na gestão do então governador Cid Gomes (PDT). Havia a expectativa do ex-presidente da Assembleia Legislativa, inclusive, ser apoiado para a sucessão no Abolição.
Cenário
A professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, Monalisa Torres, destaca a perda de espaço do PSDB no Ceará. Ela aponta que os tucanos chegaram a governar 83 municípios no Estado entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, e que agora vai administrar apenas quatro – apesar de uma delas ser um município importante da Região Metropolitana de Fortaleza, que é Maracanaú. Nos últimos tempos, inclusive, o partido tem se aproximado mais do governador.
Sobre o MDB a pesquisadora aponta que “reflete também a uma queda” da liderança de Eunício. “Uma das características das liderança personalista é que quando eles estão no poder isso facilita uma tropa mais profícua com os prefeitos. O MDB, com o baque da não reeleição dele, fragilizou essa troca, e é simbólico ele perder no próprio berço eleitoral”, apontou.
Para a professora, um indicativo a ser colocado é a força que ganhou neste pleito a família Domingos. Segundo ela, é um “grupo político que tenta ampliar a base mirando 2022. Com os ganhos políticos eles podem ser oposição ou situação”.
A observação de Torres lembra a história política recente quando o grupo de influência nos Inhamuns fez forte oposição à família Ferreira Gomes no episódio da extinção do Tribunal de Contas dos Municípios, quando o ex-deputado estadual presidia a instituição.
Por Wagner Mendes
Fonte: Diário do Nordeste