Bandeiras, filas enormes e gritos de apoio. O evento de lançamento da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto começou em clima de festa. Entre militantes e deputados, o tom era de confiança na disputa pela Presidência da República. No ato, foi lançada a chapa com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice-presidente. Lula aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto. “Até dia 2 de outubro, se Deus quiser”, disse Lula ao final de seu pronunciamento, indicando que vai “percorrer o país”.
Curta e siga nossas redes sociais:
Sugira uma reportagem. Mande uma mensagem para o nosso WhatsApp.
Entre no canal do Revista Cariri no Telegram e veja as principais notícias do dia.
Em seu discurso, o ex-presidente adotou um tom mais moderado —mais ameno que o de Alckmin— e pela conciliação, dizendo que o país precisa de calma. “Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorriso, caminho, amor, paz e criando harmonia.”
Lula fez elogios a Alckmin, falando que o prato lula com chuchu será o “da moda”. Chuchu é um apelido dado ao ex-governador, antigo adversário de Lula. “Somos de partidos diferentes, fomos adversários. Estou feliz por tê-lo na condição de aliado”, disse.
Para o petista, “o grave momento que o país atravessa, um dos mais graves da nossa história, nos obriga a superar eventuais divergências para construirmos juntos uma via alternativa à incompetência e ao autoritarismo que nos governam”. “É preciso unir os divergentes para poder enfrentar os antagônicos.”
Lula citou a sintonia entre seu discurso e o de Alckmin, que “estão pensando muito parecido”, e falou que “lula com chuchu” vai ser um “prato extraordinário”.
Legado e soberania
O ex-presidente disse que, “em vez de promessas”, apresentaria “o imenso legado de nossos governos”, citando programas como Minha Casa, Minha Vida, Luz Para Todos, Bolsa Família, entre outros. Lula também fez uma aposta na “defesa da soberania”.
“É mais do que urgente restaurar a soberania. Mas isso não se resume à importantíssima missão de resguardar nossas fronteiras. É também defender nossas riquezas minerais, nossas florestas, nossos rios, nossos mares, nossa biodiversidade”, disse. Na opinião do ex-presidente, “nossa soberania e democracia são constantemente atacadas pela política irresponsável e criminosa do atual governo”.
Ao falar de soberania, Lula citou a Petrobras, empresa que foi afetada por esquemas de corrupção durante os governos do PT, investigados pela Operação Lava Jato. “Nós precisamos fazer com que a Petrobras volte a ser uma grande empresa nacional, uma das maiores do mundo”, disse, falando que ela deve ficar “a serviço do povo brasileiro”, e não dos acionistas.
O pronunciamento do petista foi feito em frente a uma bandeira do Brasil, que, nos últimos anos, ficou associada ao bolsonarismo e à direita. O PT fez uma aposta no verde e amarelo no evento de lançamento da pré-candidatura.
Ao contrário do que geralmente acontece em seus pronunciamentos públicos, Lula leu praticamente todo o discurso, com improvisos no final e ao fazer a referência a chuchu. Ao longo dos últimos meses, o ex-presidente tem feito declarações que geram polêmicas, como a em que considerou o presidente da Ucrânia, Volodymy Zelensky, tão culpado quanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pela invasão russa ao território ucraniano.
Constituição
Lula também fez a defesa da Constituição brasileira em seu discurso. “Não somos a terra do faroeste, onde cada um impõe a sua própria lei”, disse. “Temos a lei maior —a Constituição—, que rege a nossa existência coletiva. E ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la.”
Para o ex-presidente, “a normalidade democrática está consagrada na Constituição”. “É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, de cada um de nós.”
O evento, que aconteceu no Expo Center Norte, na zona norte de São Paulo, marcou também a formalização da aliança das federações PT-PCdoB-PV e PSOL-Rede com os partidos PSB e Solidariedade, criando a frente Vamos Juntos Pelo Brasil, a maior formação em torno do ex-presidente desde 1994.
O objetivo do PT é formar uma espécie de “Novas Diretas”, com figurões de diferentes estados e diversos partidos no mesmo palanque “unidos pela democracia”, por meio de uma grande festa que mostre, ao mesmo tempo, as forças política e popular do ex-presidente.
Assim que acabou de discursar, Lula deu as mãos a aliados para cumprimentar o público. Nesse momento, duas mulheres invadiram o palco e tiraram fotos com o ex-presidente.
Defesa da chapa
Com Covid-19, Alckmin não esteve presente no local, mas participou do evento por meio de vídeo. Em discurso, ele defendeu sua parceria com Lula, de quem era adversário, citando que o governo atual, de Jair Bolsonaro (PL), é o mais “desastroso e cruel” da história do Brasil. Alckmin disse que será um “parceiro leal” de Lula.
“Sem Lula, não haverá alternância de poder. E sem alternância, não haverá garantias para a nossa democracia. Lula é a única via da esperança para o Brasil. O futuro do Brasil também está em jogo”, disse o ex-governador.
Jingle renovado
O evento também ressuscitou o jingle “Sem Medo de Ser Feliz”, da campanha presidencial de 1989, e mais marcante peça de suas candidaturas. Apresentada como surpresa pela noiva do ex-presidente, Janja, a música ganhou nova gravação, com Martinho da Vila, Pablo Vittar, Zélia Duncan, Chico César e outros.
Havia uma expectativa de que Chico Buarque e Gilberto Gil, que participaram da gravação em 1989, comparecessem ao evento, mas não se confirmou. Entre os artistas, estavam presentes ainda a sambista Teresa Cristina, que cantou o hino, a cantora Lia de Itamaracá e o roqueiro Paulo Miklos, ex-Titãs, que apresentou o evento.
“Sentimento positivo”
A fila para entrar no centro de eventos quase virava a esquina por volta das 10h —horário marcado para o início do ato.
Diferentemente do clima abatido de 2018, quando o ex-presidente foi preso, os petistas falam em esperança. “Neste ano vai ser tudo diferente, estamos com sentimento muito positivo, de esperança. Vai dar certo”, diz a deputada estadual Professora Bebel (PT-SP).
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também estava presente. Quando subiu ao palco, os presentes levantaram das cadeiras e aplaudiram enquanto os militantes gritavam “Dilma, guerreira da pátria brasileira”. No fim do discurso, Lula se dirigiu a Dilma, que estava na lateral do palco. “Que bom que você está aqui. Você não vai ser minha ministra, mas vai ser a minha companheira em todos os momentos.”
O anúncio dos ex-prefeitos paulistanos Fernando Haddad (PT) e Luiza Erundina (PSOL) —atual deputada federal— no palco também causou fortes aplausos do público. Haddad e o também pré-candidato ao governo de São Paulo Márcio França (PSB) ficaram em lados opostos no palco. Quando nome de França foi anunciado, um grupo menor, ao fundo, gritou “Retira! Retira [a pré-candidatura ao governo]!”.
O palco contou ainda com dois ex-BBBs que já declararam apoio público a Lula: Gleici Damasceno e Arthur Piccoli. João Pedrosa também estava nos bastidores. Segundo a campanha, os convites são parte da estratégia de aproximar a candidatura de um público mais jovem, por meio das redes socais.
O PT esperava reunir 4 mil pessoas estiveram no local. Militantes de todo o país foram convocados e parte teve de ser barrada por falta de espaço. A bancada do PT no Congresso e governadores, ex-governadores e pré-candidatos do PT e partidos aliados estiveram presentes.
Estrada até o evento
Deitado em cima de uma toalha estendida no chão, o professor de Geografia Iago Reis, 30, fazia a própria mochila de travesseiro para descansar enquanto aguardava pelo ato de anúncio da pré-candidatura da chapa Lula-Alckmin hoje de manhã no Expo Center Norte, em São Paulo. Ele integra uma delegação do diretório do PT do Rio de Janeiro, que encarou oito horas de estrada até chegar na capital paulista por volta das 6h.
“Vim porque é um momento importante para o país. O Lula representa a esperança para um povo que está desempregado e que passa fome”, disse, após ser despertado pela reportagem do UOL para contar a sua história. “Falei para um amigo me acordar assim que começar o evento.”
O servidor público Ademário Nogueira, 58, erguia um quadro exibindo o rosto do ex-presidente Lula. Ele veio de Brasília com uma comitiva formada por três ônibus com cerca de 120 integrantes de movimentos sociais, em uma viagem que durou 18 horas. “Esse quadro simboliza a devoção que tenho pelo Lula e pelo que ele fez pelo povo brasileiro”.
Com uma camisa vermelha em que se lê “policiais antifascismo”, o policial penal Abdael Ambruster, 48, disse representar um grupo formado também por policiais civis e militares. E contesta a suposta representatividade para a categoria do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Ele não representa os policiais e nunca apresentou um projeto sequer voltado para a segurança pública”, questiona.
Fonte: UOL