A repercussão da morte do miliciano Adriano da Nóbrega, ex-policial baleado neste domingo (9) no interior da Bahia, deixou Jair Bolsonaro (sem partido) irritado.
Segundo apurou o UOL, ele ficou furioso com as reportagens e capas de jornais que mostram conexões entre o criminoso, suspeito de envolvimento no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco, e o senador Flávio Bolsonaro (sem partido), filho mais velho do mandatário.
Nos últimos 20 anos, a trajetória de Nóbrega se cruzou com a de Flávio Bolsonaro algumas vezes. O hoje senador já fez homenagens ao ex-policial —quando era deputado no Rio— e empregou em seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do RJ) a mãe e a mulher dele, esta última por mais de uma década. Essas ligações vieram a público por causa de duas investigações: um suposto esquema de “rachadinha” no gabinete —desvio de salário de assessores fantasmas— e o assassinato de Marielle Franco.
Por esse motivo, o presidente da República se recusou a falar com jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, na manhã de hoje, e reclamou da postura da imprensa. “Pessoal, tem uma série de problemas no Brasil. Gostaria de compartilhar com vocês. Mas, como será deturpado, isso acabará dificultando a solução. Então lamento, mas não vou conversar nada com vocês.”
Ainda houve uma vã tentativa de questioná-lo a respeito da morte de Adriano da Nóbrega, mas Bolsonaro se retirou do local antes que pudesse ouvir a pergunta.
O gesto, um protesto contra a imprensa, foi aplaudido e comemorado pelos apoiadores que aguardavam a saída do presidente pela manhã —cena que se repete todos os dias.
Bolsonaro afirmou que não daria entrevista porque, na visão dele, suas palavras costumam ser “deturpadas”.
“O dia que vocês transmitirem a verdade, será muito salutar conversar meia hora com vocês. Os problemas [são] os mais variados possíveis. Dá para resolver. Gostaria de compartilhar. Repito: não o faço porque, ao haver deturpação, a solução ficará mais difícil, talvez impossível. Então lamento não poder conversar com vocês.”
Flávio adotou a mesma estratégia e não pretende, segundo apurou o UOL, comentar publicamente a morte do miliciano. Essa é uma postura que não combina com o senador. Ele tem o hábito de parabenizar as polícias militares sempre que uma operação termina com a morte de um criminoso conhecido.
O ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) também optou, até o momento, pelo silêncio. Em suas redes, o ex-juiz federal não escreveu linha alguma sobre a ação policial no interior da Bahia. Falou no Twitter sobre desenhos animados e deu parabéns à PM do Mato Grosso do Sul pela apreensão de armas, mas sem qualquer menção a Nóbrega.
De acordo com a coluna “Painel”, do jornal Folha de S.Paulo, a operação que resultou na morte do miliciano teve conhecimento prévio do ministério de Moro. Na sexta-feira (7), uma das secretarias da pasta sondou a possibilidade de apoio de um helicóptero da Polícia Federal e alguns efetivos, a pedido da Polícia Civil do Rio. Em geral, operações sensíveis são tratadas pelos canais de inteligência entre órgãos, sem informações sobre o alvo.
A PF pediu então que a solicitação fosse formalizada, mas isso não ocorreu, segundo “Painel” revelou hoje.
Procurado, o ministério informou à Folha que não teve envolvimento com a operação e que “não haveria nenhum motivo para disponibilizar helicópteros e policiais para a captura de apenas um foragido com esconderijo identificado”. Já a Secretaria de Polícia Civil do Rio informou que “a parte operacional foi realizada pela Polícia Civil da Bahia”.
Foragido desde janeiro de 2019, Nóbrega —conhecido como “Capitão Adriano”— foi morto em uma operação que mobilizou policiais do Rio e da Bahia. A ação ocorreu em Esplanada, no interior baiano, e ele foi localizado em imóvel na zona rural da cidade. As autoridades locais informaram que o criminoso tentou reagir e trocou tiros com os policiais. Ferido, o miliciano foi levado a uma unidade de saúde da região, mas não resistiu.
O “Capitão Adriano”, que já foi membro da divisão de elite da PM fluminense, o Bope (Batalhão de Operações Especiais), era apontado como chefe do “Escritório do Crime”, grupo de extermínio que pode, segundo inquérito da Polícia Civil do Rio, estar envolvido com a morte de Marielle.
A investigação, no entanto, ainda não identificou a relação da milícia com esses crimes e os mandantes deles. Os dois ex-policiais que foram presos pelo assassinato da vereadora, ocorrido em março de 2018, negam a autoria dos fatos.
Fonte: UOL