O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro no início da tarde desta quarta-feira. Álvaro Antônio foi informado da decisão em reunião pouco depois das 14h, no Palácio do Planalto, que não consta na agenda do presidente. Minutos depois da saída de Álvaro Antônio, o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Gilson Machado, se reuniu com Bolsonaro e aceitou assumir o cargo de forma definitiva.
A informação de que o titular do Turismo seria demitido hoje foi antecipada pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim. A mudança ainda não saiu no Diário Oficial, mas Bolsonaro abordou o tema na noite desta quarta-feira ao falar com apoiadores no Palácio da Alvorada. Abordado por um apoiador que é vereador eleito de Garanhuns (PE), Thiago Paes (DEM), o presidente perguntou se ele sabia da mudança.
— Tá sabendo do Gilson não? Tá sabendo do Gilson? É ministro — disse Bolsonaro, sorrindo.
Em seguida, o presidente mudou o semblante e, mais sério, comentou:
— O Gilson é um cara muito competente nessa área. O outro [Marcelo Álvaro Antônio] está fazendo um bom trabalho também, mas… deu problema.
Esta é a primeira troca no Turismo desde o início do governo Bolsonaro. Marcelo Álvaro Antônio, que é deputado federal licenciado pelo PSL de Minas Gerais, era aliado do presidente desde os tempos da Câmara dos Deputados. Ele estava com o então candidato à Presidência no dia do atentado a faca contra Bolsonaro em um ato de campanha, em Juiz de Fora (MG).
Mensagens em grupo
A demissão ocorreu um dia depois de o ministro do Turismo usar um grupo de WhatsApp que reúne todos os ministros do governo federal para atacar o chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação política do Planalto. A briga foi confirmada ao GLOBO por três fontes, depois de ser revelado pela coluna Radar, da revista “Veja”. Leia a íntegra da mensagem enviada por Álvaro Antônio.
Segundo um integrante do governo que leu as mensagens, Álvaro Antônio acusou Ramos de conspirar para tirá-lo do cargo junto a Bolsonaro. Nas palavras de outra fonte do Planalto, ele “entrou no pau” contra o ministro, irritado porque Ramos estaria negociando cargos com o centrão do Congresso, entre eles o próprio Ministério do Turismo.
O presidente Bolsonaro, por sua vez, teria se irritado ao ver a exposição de mais uma briga entre integrantes do governo. O ministro do Turismo então voltou ao grupo para se retratar com Ramos e colocar panos quentes na discussão, admitindo que se excedeu.
Enquanto estava no Planalto, Álvaro Antônio se encontrou com Ramos, seu desafeto, e os dois bateram boca. Testemunhas relataram ao GLOBO que o clima ficou “tenso” e houve “gritaria”.
Há mais de um ano, em outubro de 2019, Álvaro Antônio foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público Eleitoral de Minas Gerais à Justiça por crimes relacionados à apresentação de candidaturas de fachada do PSL nas eleições de 2018.
De acordo com o órgão, na condição de presidente estadual do partido, Álvaro Antônio participou da inscrição de candidaturas-laranja de mulheres que não estavam dedicadas, de fato, à disputa, para permitir o desvio de recursos do fundo eleitoral. Até o momento, a Justiça Eleitoral de Minas não decidiu se ele se tornaria réu.
Álvaro Antônio sempre negou as irregularidades e, apesar do desgaste, foi poupado por Bolsonaro sob o argumento da lealdade.
Na semana passada, o GLOBO já havia antecipado que Bolsonaro planejava abrir espaços em ministérios. Uma reforma na Esplanada foi cogitada em meio às negociações para as eleições das presidências do Congresso. A saída já programada do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, indicado para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) no dia 31 de dezembro, está no radar de partidos do centrão.
Fonte: O Globo