O atraso nas negociações do Governo Federal com a Pfizer travou articulação do Governo do Ceará para compra de vacinas produzidas pela farmacêutica. Em dezembro de 2020, o governador Camilo Santana (PT) enviou ofício à farmacêutica norte-americana para a aquisição de 1,4 milhão de doses, mas a empresa alegou que estava em negociação com a União.
A Secretaria de Saúde do Estado contactou a Pfizer, no dia 16 de dezembro de 2020, com o intuito de adquir doses da vacina para o Ceará. A solicitação foi negada no mesmo dia pela farmacêutica. Ofício enviado pelo governador, no dia 30 de dezembro, reforçou o interesse na aquisição do imunizante.
No entanto, em resposta enviada no dia 4 de janeiro de 2021, a Pfizer informou que estava “única e exclusivamente focada nas trativas de negociação com o Governo Federal”, alegou a empresa em e-mail direcionado a Camilo Santana.
A farmacêutica afirmou que quando houvesse “uma definição a nível federal”, uma disponibilidade de doses a nível global e a “viabilidade legal de um contrato estadual”, a empresa entraria em contato novamente com o governo cearense.
Contudo, a definição das negociações com o governo brasileiro demorou. O contrato entre a farmacêutica e União só foi fechado em março deste ano, apesar da Pfizer ter feito diversas ofertas de vacinas – a primeira delas em agosto do ano passado.
Segundo a assessoria do Governo do Ceará, as tratativas com a Pfizer ocorreram de forma paralela às negociações para compra da vacina russa Sputinik V, além de outros contatos com laboratórios chineses.
A Secretaria de Saúde tentou novamente iniciar trativas com a Pfizer, em fevereiro, março e abril deste ano. O governador Camilo Santana também voltou a enviar e-mail para a farmacêutica dos Estados Unidos em março, reforçando o interesse da compra direta pelo Governo do Ceará.
Contudo, a Pfizer negou novamente a solicitação do governo em fevereiro e março, enquanto a proposta enviada em abril continua sem resposta.
Demora na resposta
A informação sobre a demora de resposta do Governo Federal na compra de vacinas foi dada, na quarta-feira (12), pelo ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten em depoimento na CPI da Covid-19 no Senado Federal.
Segundo o ex-secretário, uma carta enviada pela Pfizer no dia 12 de setembro de 2020 ficou sem resposta por dois meses.
A carta teria sido enviada ao presidente Jair Bolsonaro, ao vice-presidente Hamilton Mourão, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, ao então ministro da Casa Civil Walter Braga Netto e ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Wajngarten levou o assunto novamente ao presidente Jair Bolsonaro, que então respondeu a carta em novembro do ano passado.
Ofertas recusadas ou ignoradas
O gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, detalhou a linha do tempo dos contatos com o governo brasileiro para negociações sobre a vacina. Em depoimento à CPI nesta quinta-feira (13), ele relatou que as primeiras reuniões ocorreram em maio e junho do ano passado.
Segundo o gerente, a farmacêutica fez três ofertas ao Ministério da Saúde em agosto, nos dias 14, 18, e 26, sendo que a última oferta tinha o prazo de 15 dias para receber uma resposta.
As ofertas previam que ao menos 1,5 milhão de doses chegariam ao Brasil em dezembro de 2020. Passado esse prazo, o governo brasileiro nem aceitou, nem rejeitou a proposta.
Segundo Carlos Murillo, ocorreram outras duas propostas em novembro do ano passado, desta vez sem chance das vacinas chegarem ainda em 2020.
Em 2021, a Pfizer fez nova oferta de 100 milhões de doses em fevereiro. Contudo, o Governo Federal aceitou apenas a proposta feita em março, novamente para a entrega de 100 milhões de doses.
Por Luana Barros/Letícia Lima/Agência Estado
Fonte: Diário do Nordeste