Dos vários episódios acontecidos nas eleições municipais no Cariri, um deles chama muito a tenção, a eleição do vereador Wilson do Rosto. Wilson é atualidade pura. É um contraste direto ao ultraconservadorismo do Crato, uma cidade que se volta para o passado em busca de glórias idas e memórias mofadas.
Em inúmeros momentos dos seus dias correntes o Crato se parece muito com um imenso museu, diria até um mausoléu, morada fantasmagórica de velhas oligarquias, inclusive culturais. É de uma inadimplência perdulária a forma como o Crato amamenta seus bairrismos e suas elites cheias de hélices, voando em círculos concêntricos.
Wilson quebra esse aparato de regras secretas. A defesa ambiental e a luta pela sobrevivência digna da zona rural – que paradoxalmente é requirida como patrimônio da humanidade, mas que historicamente não é humanizada pelos patrimônios que requisitam o poder público – são bandeiras de Wilson, que representa várias comunidades unidas em um só nome.
Wilson do Rosto representa o famoso pé de serra, que vive a ansiedade histórica de um dia virar patrimônio dela mesma, de ser somente ela, de vasta sobrevivência sustentável, para além das selfies descoladas, da ocupação imobiliária indevida, e da exploração política da gente fofa que sobe, curte, depois desce, largando seu lixo tóxico para as comunidades se virarem. Wilson do Rosto, seja bem-vindo, meu caro, traga sua gente, a casa é do povo, até que se prove o contrário.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri