A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, ontem (3), que vai abandonar os estudos com os antivirais lopinavir e ritonavir para tratamento de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Assim como no caso da hidroxicloroquina, os experimentos mostraram que não há eficácia na utilização da associação desses remédios, quando seu desempenho é comparado com o procedimento padrão de tratamento. A paralisação dos experimentos foi recomendada pelo comitê diretor do Solidarity, programa coordenado pela OMS em 21 países, com mais de 5 mil pacientes hospitalizados, a fim de encontrar um tratamento eficaz para casos mais sérios de Covid-19.
Segundo o comitê, foram revisados também resultados de outros ensaios clínicos usando as substâncias, durante a cúpula sobre pesquisa e inovação em Covid-19, na quarta (1º) e quinta (2) passadas.
As duas substâncias haviam sido incluídas no estudo por já terem sido licenciadas para o tratamento de pacientes com vírus da Aids, o HIV.
Mas as análises provisórias mostraram que, assim como a hidroxicloroquina, lopinavir e ritonavir produzem pouca ou nenhuma redução na mortalidade de pacientes com coronavírus hospitalizados, quando comparados ao padrão de atendimento.
Também não houve evidências fortes de que esses medicamentos aumentem a mortalidade, segundo a OMS.
Segundo comunicado da entidade, o estudo britânico Discovery, que faz parte do Solidarity, encontrou alguns dados relacionados à segurança das substâncias, que serão publicados depois de revisados por outros cientistas. “Esta decisão se aplica apenas à condução do estudo Solidarity em pacientes hospitalizados e não afeta a possível avaliação em outros estudos de hidroxicloroquina ou lopinavir/ritonavir em pacientes não hospitalizados ou como profilaxia pré ou pós-exposição para Covid-19”, afirma o texto
Os resultados provisórios do Solidarity estão agora sendo preparados para publicação revisada por pares.
A entidade afirma que, até que haja evidências suficientes, não é recomendado o uso desses tratamentos para nenhum paciente de Covid-19.
“A OMS está preocupada com relatos de indivíduos que se automedicam com cloroquina, o que pode causar sérios danos”.
A cloroquina fazia parte de uma lista iniciais de substâncias que seriam testadas pelo Solidarity, mas não chegou a entrar nos experimentos, pois os cientistas julgaram que não tinha potencial terapêutico suficiente para participar do estudo. Apesar das contra-indicações e de críticas de médicos e cientistas, o Governo Bolsonaro continua permitindo o uso de cloroquina e hidroxicloroquina.
Remdesivir
Os testes continuam com as substâncias remdesivir, e, até ontem, a OMS não havia confirmado se seria mantido o braço de experimento com lopinavir/ritonavir em combinação com Interferon beta-1a, que é utilizado no tratamento da esclerose múltipla.
O remdesivir, que já recebeu autorização da agência de saúde americana para tratamento de casos graves de Covid-19, foi previamente testado como tratamento contra o vírus ebola e gerou resultados promissores em estudos com animais para Síndrome Respiratória no Oriente Médio (Mers-CoV) e Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que também são causadas por coronavírus.
Estudos nos EUA mostraram resultados positivos no tratamento de Covid-19. Seu fabricante, o laboratório Gilead Sciences, abriu a patente do medicamento para facilitar o acesso em 127 países.
Vacina
Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a realização de testes no Brasil para uma nova vacina contra o novo coronavírus, a cargo de uma empresa chinesa, a Sinovac.
O pedido foi feito pelo Instituto Butantan, de São Paulo, e a autorização foi publicada na sexta-feira, em edição extra do Diário Oficial da União.
O desenvolvimento de uma vacina pelos chineses é encampado no Brasil pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro e atual desafeto do presidente.
Oxford
Já o Governo Bolsonaro encampou a produção de uma vacina em fase de desenvolvimento pelos ingleses, numa parceria entre a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca.
O ensaio clínico da vacina de Oxford já foi autorizado pela Anvisa há mais de um mês.
Mesmo sem existir ainda uma conclusão sobre a eficácia da vacina, o Ministério da Saúde anunciou uma parceria para produção de 30,4 milhões de doses em dezembro e em janeiro, e outras 70 milhões de doses nos meses subsequentes. Os testes da empresa chinesa aprovados pela Anvisa se constituem de cepas inativas do novo coronavírus. Nove mil pessoas participarão dos testes, em cinco unidades da federação: São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal.
Antes, a prova foi feita em animais, com resultados positivos para um nível de segurança aceitável, de acordo com a Anvisa. Também já houve testes anteriores em seres humanos, com duas doses da vacina, o que também gerou resultados favoráveis.
Dois antivirais já utilizados contra o HIV, vírus da Aids, deixaram o arsenal de drogas recomendadas para tratar pacientes com Covid-19, após um anúncio feito ontem pela Organização Mundial da Saúde
Fonte: Diário do Nordeste