Poucas horas depois de ser preso sob acusações de fraude, Steve Bannon, ex-conselheiro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi solto após uma fiança de 5 milhões de dólares. Em primeira aparição em tribunal, ele se declarou inocente.
O ex-estrategista foi acusado de desviar dinheiro de um fundo criado por Brian Kolfage, também preso nesta quinta-feira, que tinha o objetivo de construir um muro na fronteira com o México. Ele foi preso no estado de Connecticut em um iate que pertence ao empresário chinês Guo Wengui, procurado pela Justiça de Pequim e um dos financiadores das atividades políticas de Bannon.
A procuradora interina do distrito sul de Nova York, Audrey Strauss, disse que Bannon e outros três acusados “cometeram uma fraude de centenas de milhares de dólares, capitalizando seu interesse de financiar um muro na fronteira para arrecadar milhões, sob o falso pretexto de que todo o dinheiro seria gasto na construção”, quando na verdade parte da quantia “foi destinada a financiar o luxuoso estilo de vida” de Kolfage.
Strauss recomendou a pena mínima de 20 anos de prisão para cada acusado. Nesta quinta-feira, o juiz Stewart D. Aaron afirmou que a fiança, estabelecida em 5 milhões de dólares, deve ser assegurada em 1,75 milhão em dinheiro ou em bens, e que duas pessoas devem assinar como responsáveis financeiras.
Segundo a rede americana CNN, o ex-conselheiro de Trump estava impaciente durante a audiência, balançando em sua cadeira. Mesmo usando uma máscara, por conta da pandemia de Covid-19, era possível ver que Bannon estava bronzeado.
O ideólogo também terá supervisão antes do julgamento e terá suas movimentações restringidas aos distritos Sul e Leste de Nova York, ao distrito de Connecticut e a Washington. Ele não poderá usar aviões particulares, iates ou barcos sem permissão do tribunal. Os termos da decisão expiram em 3 de setembro.
No esquema investigado, Kolfage ficou com 350.000 dólares do fundo enquanto Bannon recebeu mais de um milhão de dólares. Segundo o jornal americano The New York Times, Kolfage havia prometido aos doadores que “iria construir o muro” e que não iria “pegar nem um centavo como salário ou compensação”.
De acordo com a acusação, Kolfage usou o dinheiro para cirurgias cosméticas, pagamentos pessoais, reformas em sua casa e um carro de golfe.
Segundo os procuradores, o dinheiro era repassado a uma organização sem fins lucrativos de Bannon, e por uma empresa fantasma controlada por Timothy Shea, um dos acusados.
Steve Bannon é conhecido por espalhar teorias conspiratórias de extrema-direita, além de ser dono de uma rede de sites de desinformação. O ex-conselheiro foi peça chave durante a campanha de Trump à Casa Branca em 2016. Com um discurso incendiário, Bannon teve discordâncias com o presidente nos meses seguintes à eleição e rompeu totalmente com o republicano.
A repórteres nesta quinta-feira, Trump disse se sentir “muito mal” sobre as acusações, mas tentou se distanciar do esquema investigado.
“Acho que é um evento triste”, disse o presidente americano”. “Eu não lido com ele há anos, literalmente anos”.
Trump disse ter pouco conhecimento do projeto. No entanto, uma das pessoas envolvidas, Kris Kobach, ex-secretária de Estado do Kansas, disse em 2019 que Trump havia fornecido apoio, segundo o New York Times.
Bannon é o oitavo asssociado próximo de Trump a ser preso ou condenado por um crime, em uma lista que inclui o ex-assessor de segurança nacional Michael Flynn; Michael Cohen, ex-advogado pessoal do presidente; o amigo de longa data e assessor Roger Stone; e Paul Manafort, ex-chefe de campanha.
Uma das principais promessas de campanha de Trump em 2016, o muro fronteiriço tem se mostrado uma dor de cabeça para o presidente. Alvo da oposição e de desafios logísticos e legais, o governo republicano só completou 48 quilômetros de cerca na fronteira e substituiu outros 386 quilômetros de barreiras. A fronteira inteira tem cerca de 3.200 quilômetros.
Bannon tentou exportar os ideias conservadores e conspiratórios que acredita para fora dos Estados Unidos ao tentar criar uma universidade na Itália. Também apoiou a eleição do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido), além de ter se encontrado com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em setembro de 2018 e tê-lo declarado como o líder sul-americano do The Moviment, movimento populista do qual o ex-estrategista é fundador.
As relações com a família Bolsonaro são extensas. O ex-conselheiro, que também jantou com autoridades brasileiras ao lado do filósofo de extrema-direita Olavo de Carvalho e do presidente Bolsonaro, foi uma das mentes criativas ao lado do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, na elaboração do discurso brasileiro para a Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2019.
Fonte: Veja