O documento divulgado nesta quinta-feira (18) que aponta uma alta de 22% no desmatamento da Amazônia entre 2020 e 2021 tem a data de 27 de outubro de 2021, dias antes do início da 26º Conferência do Clima da ONU, a COP26.
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Entidades e ambientalistas alegam que jornalistas e outros participantes da conferência chegaram a pedir o número durante o evento, mas sem resposta do governo federal. O Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT) disse que “eram números muito aguardados”.
“Mas, neste evento em Glasgow, os números do Brasil não apareceram. Jornalistas especializados buscaram informações com membros do Governo Brasileiro e foram informados que o PRODES ainda não tinha concluído o seu relatório anual. Pura mentira!”, apontou o SindCT em nota.
Após a divulgação do Prodes, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse que só teve “contato com o dado ontem”.
“O papel do Brasil foi buscar um consenso [na COP26]. Temos que fazer que o mundo mude a forma de desenvolvimento econômico. E durante essa conferência esse não foi o tema mais relevante. O foco da reunião é fazer uma transição justa pra uma economia baseada em energia renovável”, afirmou o ministro.
Mais críticas
João Paulo Capobianco, membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, e ex-coordenador do Plano de Prevenção e Controle ao Desmatamento da Amazônia (2003-2008), aponta que a omissão dos dados de desmatamento durante a COP26 é um “escândalo”:
Há um duplo escândalo que deve ser considerado. O primeiro é o fato de que a nota divulgada pelo Inpe é do dia 27 de outubro, ou seja, anterior à Conferência do Clima. Trata-se da primeira vez em que o Prodes não foi divulgado antes ou durante a COP”, afirma Capobianco.
“O governo federal foi a Glasgow já ciente da taxa de desmatamento, mas, ainda assim, não a informou para as Nações Unidas. Preferiu falar sobre outra métrica, o Deter, que apontava uma leve redução no desmate”, completou.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, também reforça as críticas.
“Isso aqui não é número de desmatamento, é prova de um crime. É um governo que tem um plano de destruição. E o plano de destruição deu resultado. E o resultado é a gente ver a floresta sendo exterminada dia a dia diante dos nossos olhos”, disse Astrini.
Em descompasso
A alta na taxa de desmatamento está em desacordo com as promessas apresentadas pela comitiva do Brasil na 26ª Conferência do Clima em Glasgow, a COP26, na Escócia.
Já no primeiro dia do evento – que ocorreu entre 1º e 13 de novembro – o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou que o Brasil deverá zerar o desmatamento ilegal em 2028. A meta anterior estipulava 2030.
• Redução de 15% ao ano até 2024;
• Redução de 40% ao ano em 2025 e em 2026;
• Redução de 50% em 2027;
• Zerar o desmatamento ilegal em 2028.
As medidas foram anunciadas para implementação apenas a partir de 2022, o que coincide com os números que o ministério já tinha em mãos: a área desmatada foi de 13.235 km² entre 2020 e 2021, número 22% maior do que os 10.851 km² registrados entre 2019 e 2020.
Já o diretor-executivo da WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, explicou que a tendência de aumento na área de desmatamento, se não for revertida, levará a floresta amazônica ao “ponto de não reversão”, dando início a um “processo de degradação acelerado”.
“Se isso acontecer, o Brasil deixará de contar com os serviços ambientais vitais que ela presta, como o armazenamento de carbono e a regulação do regime de chuvas do país”, afirmou Voivodic.
O especialista da WWF disse, ainda, que manter a floresta em pé “é essencial” para que o Brasil consiga atingir a meta do Acordo de Paris, que prevê limitar o aumento da temperatura média do planeta em até 1,5°C até o fim do século.
Fonte: g1