A culpa foi da lua. Essa desgraçada, não pede licença, nem diz que vai entrar, chega dando ordens. Deixa tudo escrito, os dias que me abro e fecho, que sangro e que destempero, mesmo distante e sem luz própria, ela se acha proprietária do meu destino. Minhas amigas estão todas enluaradas, com caminhos definidos. Coitadas.
Tenho que me livrar da lua. É impossível matar a lua, mas isso não passou pela minha cabeça. Ela até faz uma boa companhia a noite, deixa o céu atraente, mas ficar lá em cima querendo patrulhar minha vida é demais.
Mas como pode uma coisa como a lua querer ser gente intrometida. Desconfio que a lua não seja o terror da vida alheia. Acho que tudo isso é uma mentira que inventaram para colocar a culpa em alguma coisa. Se tem que culpar alguma coisa ou alguém pega a lua para julgamento. Ela não vai fazer nada mesmo.
A lua, não tem culpa nenhuma. Eu que acreditei demais nas histórias da terra que brotaram céus e ainda pensei que o mundo estava parado. Quando criança me disseram que existiu um livro onde se colocavam os pecados e se escreveria as histórias de cada pessoa do universo. Já não lembro se a dona do livro era lua, mas aprendi que todas as vezes que me perder da razão, encontrarei a lua, as estrelas, o céu e um bocado de histórias para me conformar.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri