Desde essa segunda-feira (3), passaram a valer as novas especificações da gasolina comercializada no Brasil, estabelecidas pela Resolução 807/2020 da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
A nova gasolina, que traz maior eficiência energética e a promessa de reduzir o consumo em até 6%, terá de ser oferecida em 100% dos postos do País em até 90 dias – contados a partir de ontem.
No entanto, o combustível de maior qualidade já é produzido pela Petrobras desde o início deste ano, de acordo com Rogério Gonçalves – especialista em novos produtos da estatal e diretor de combustíveis da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).
“Muita gente não sabe, mas já está rodando com a nova gasolina há muitos meses”, revela. Segundo Gonçalves, aproximadamente 90% da gasolina vendida em nosso mercado é refinada pela Petrobras e não é possível identificar a nova especificação na bomba.
A nova gasolina não traz nomenclatura específica e visualmente é idêntica à antiga, esclarece.
O engenheiro também informa que, ao contrário do que muitos pensam, a novidade não proporciona potência ou torque acima dos valores máximos informados pela montadora para determinado modelo.
Porém, especificamente no caso de carros flex, a potência e o torque com gasolina de nova especificação podem subir. Muitos automóveis bicombustíveis têm desempenho consideravelmente maior quando utilizam etanol e essa diferença deve cair – especialmente em motores flex mais modernos, como os dotados de turbo e injeção direta.
Por sua vez, a ANP informa que a empresa que for flagrada vendendo gasolina antiga após o prazo estará sujeita a processo administrativo, “com amplo direito de defesa e contraditório”, que poderá resultar em multa de R$ 20 mil a R$ 5 milhões.
A Resolução 807/2020 estabelece prazo adicional de 60 dias para as distribuidoras se adequarem e dos já citados 90 dias para revendedores.
A Petrobras já havia adiantado que, a reboque da melhoria na qualidade, a nova gasolina é mais cara. No entanto, a empresa não informa uma estimativa de quanto o preço médio já aumentou ou vai aumentar.
“O preço do combustível é definido pela cotação no mercado internacional e outras variáveis, como valor do barril do petróleo, frete e câmbio. Portanto, esses fatores podem variar para cima ou para baixo e são mais influentes no preço do que o custo adicional de especificação”, afirma a estatal.
A Petrobras acrescenta que é responsável por apenas 30% do preço final da gasolina nos postos. “As demais parcelas são compostas por tributos, preço do etanol adicionado e margens das distribuidoras e revendedores”.
Nova especificação
A nova especificação determina que a gasolina comum, seja importada ou fabricada no Brasil, tenha massa específica mínima de 715 kg/m³ e octanagem de pelo menos 92 octanas de acordo com a metodologia RON (research octane number ou método de pesquisa).
O percentual de etanol anidro foi mantido em 27% para as gasolinas comum e aditivada e em 25% para a gasolina premium.
Rogério Gonçalves explica que massa específica, em linhas gerais, é a densidade, enquanto a octanagem mede a resistência do produto à combustão – quanto mais alta, o combustível aceita maiores taxas de compressão e entrega mais desempenho.
Por sua vez, quanto maior for a massa específica, maior será a densidade energética.
A partir de janeiro de 2022, a gasolina comum nessa metodologia sobe para 93 octanas – a Petrobras, no entanto, adiantou-se e já produz esse combustível com a octanagem maior.
Já a gasolina premium deve ter pelo menos 97 octanas, seguindo a nova metodologia.
Esse novo parâmetro de octanagem, de acordo com a Petrobras, é “mais adequado às tecnologias de motores” mais recentes.
A terceira mudança é o ajuste na curva de destilação, termo técnico para dizer que a nova gasolina é menos volátil, proporcionando funcionamento mais uniforme do propulsor.
Motor quebrado e alto consumo
Gonçalves acompanhou todo o processo que culminou na resolução da ANP.
De acordo com o engenheiro, as discussões que levaram à alteração nas especificações do combustível derivado do petróleo tiveram início em 2017, após relatos de usuários e até de montadoras apontando aumento no consumo e até quebra de motores de veículos novos.
“Começaram a aparecer muitas reclamações no mercado de usuários dando conta de elevado consumo. Ao mesmo tempo, montadoras passaram a reclamar de muitos casos de danos graves no motor, supostamente causados pela especificação inadequada da gasolina. A maioria causada por um fenômeno chamado de detonação, que pode até quebrar pistão”.
Rogério Gonçalves conta que, a partir daí, foram analisadas amostras de combustível de veículos e criou-se uma comissão técnica encarregada de encontrar a origem do problema, em conjunto com montadoras e sistemistas e ANP.
“Constatamos que a octanagem segundo a metodologia RON, que é o parâmetro usado na Europa, apresentava octanagem baixa demais”, ajudando a explicar parte dos problemas de consumo, além dos danos ao motor.”
Foi realizada audiência pública em 2019, para colher opiniões da sociedade em geral, e no início deste ano saiu a resolução da ANP determinado as melhorias na qualidade do combustível comercializado no Brasil.
Fonte: UOL