A partir de hoje, a gasolina produzida em refinarias do Brasil ou importada para distribuição no País passará a ser disponibilizada com maior qualidade aos clientes nos postos.
O objetivo é evitar problemas mecânicos como detonação do motor, especialmente em veículos mais recentes, além de proporcionar menor consumo de combustível – ainda que isso vá resultar em maior preço por litro ao consumidor final.
“A nova especificação é bem-vinda e vai aproximar a qualidade do combustível comercializado no Brasil ao do mercado americano e europeu. A qualidade da gasolina vai aumentar em termos de octanagem e massa específica, o que significa um combustível mais eficiente e melhor proteção aos motores dos veículos”, explica Anelise Lara, diretora de refino e gás natural da Petrobras.
De acordo com Lara, a reboque da melhoria na qualidade, também haverá aumento nos preços.
A diretora enfatiza que, mesmo ficando mais cara, o consumo menor ainda fará a novidade valer a pena ao cliente final.
“Como a gente pratica o preço de paridade com a importação, ela será mais cara porque será comparada com gasolinas de melhor qualidade do exterior. Mas vai compensar muito porque será uma gasolina mais eficiente, então você vai rodar mais quilômetros por litro. No final, em termos de custo para o consumidor, vai ser positivo.”
Nova especificação
A nova especificação atende a Resolução 807/20 da ANP (Agência Nacional do Petróleo), publicada no início deste ano, determinando que a gasolina comum tenha massa específica mínima de 715 kg/m³ e octanagem mínima de 92 octanas pela metodologia RON (research octane number ou método de pesquisa).
O percentual de etanol anidro foi mantido em 27% para as gasolinas comum e aditivada e em 25% para a gasolina premium.
Rogério Gonçalves, diretor de combustíveis da AEA, explica que massa específica, em linhas gerais, é a densidade, enquanto a octanagem mede a resistência do produto à combustão – quanto mais alta, o combustível aceita maiores taxas de compressão e entrega mais desempenho.
A partir de janeiro de 2022, a octanagem da gasolina comum nessa metodologia sobe para 93 octanas.
Esse novo parâmetro de octanagem, de acordo com a Petrobras, é “mais adequado às novas tecnologias de motores”.
Gonçalves acompanhou todo o processo que culminou na resolução da ANP.
Segundo ele, a expectativa é de que, com a nova gasolina, o consumo médio tenha uma redução de 6%, podendo variar para baixo ou para cima, dependendo do tipo de veículo, do estilo de condução e das condições atmosféricas.
Motor quebrado e alto consumo
De acordo com o engenheiro, as discussões que levaram à alteração nas especificações do combustível derivado do petróleo tiveram início em 2017, após relatos de usuários e até de montadoras apontando aumento no consumo e até quebra de motores de veículos novos.
“Começaram a aparecer muitas reclamações no mercado de usuários dando conta de elevado consumo. Ao mesmo tempo, montadoras passaram a reclamar de muitos casos de danos graves no motor, supostamente causados pela especificação inadequada da gasolina. A maioria causada por um fenômeno chamado de detonação, que pode até quebrar pistão”.
Rogério Gonçalves conta que, a partir daí, foram analisadas amostras de combustível de veículos e criou-se uma comissão técnica encarregada de encontrar a origem do problema, em conjunto com montadoras e sistemistas e ANP.
“Constatamos que a octanagem segundo a metodologia RON, que é o parâmetro usado na Europa, apresentava octanagem baixa demais”, ajudando a explicar parte dos problemas de consumo, além dos danos ao motor.”
Foi realizada audiência pública em 2019, para colher opiniões da sociedade em geral, e neste ano saiu a resolução da ANP determinado as melhorias na qualidade do combustível comercializado no País.
Fonte: UOL