Globo e Record voltaram a travar uma guerra fria em seus principais telejornais. Em uma troca de denúncias que envolvem corrupção, lavagem de dinheiro, investigações do Ministério Público, calote em impostos, delações premiadas, Igreja Universal do Reino de Deus e ligações com políticos, as emissoras partiram para o ataque.
Um nome central nessa disputa é o de Marcelo Crivella, atual prefeito do Rio de Janeiro, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e sobrinho de Edir Macedo, que é líder da instituição religiosa e dono da Record.
Crivella classifica a Globo como um “partido de oposição” dentro do Rio de Janeiro. No fim de agosto, a emissora denunciou o caso “guardiões do Crivella”, em que funcionários pagos pela prefeitura faziam plantão na porta dos hospitais municipais do Rio para atrapalhar reportagens que traziam informações sobre problemas da rede.
Como resposta, o prefeito atacou a líder de audiência, dizendo que o “trabalho” era feito para evitar a propagação de mentiras. Ele também afirmou que a empresa da família Marinho estaria com um débito de R$ 33 milhões de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e ISS (Imposto Sobre Serviços) pendente junto ao município.
Em nota, a emissora rebateu e comunicou que não estava com dívidas, mas confirmou uma disputa judicial com a prefeitura por conta de cobranças interpretadas como indevidas.
A Record entrou de vez na briga entre o político e a emissora rival no domingo (13), um dia depois de o Jornal Nacional dar detalhes de uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro, que apontou indícios de que a Igreja Universal do Reino de Deus teria sido usada para lavar dinheiro em um suposto esquema de corrupção na prefeitura de Marcelo Crivella.
Os investigadores citaram movimentações financeiras atípicas da igreja, com valores de mais de R$ 5,9 bilhões, de 5 de maio de 2018 a 30 de abril de 2019. Segundo o JN, o MP citou Mauro Macedo, primo de Edir Macedo e tesoureiro das campanhas de Crivella, como alguém que aliciava empresários para participar dos mais variados esquemas de corrupção. O Fantástico também noticiou o caso no domingo (13).
Record e Universal contra-atacam
No Domingo Espetacular, a Record exibiu uma reportagem de 11 minutos com o seguinte título: “Globo acusa Universal sem provas”, classificando as informações sobre a investigação do Ministério Público como um ataque à instituição religiosa, que “há décadas sofre perseguição”, e ligando o conteúdo a um suposto interesse da emissora nas eleições municipais do Rio de Janeiro.
A revista eletrônica da Record entrevistou Renato Cardoso, bispo responsável pela Universal no Brasil. “A Igreja Universal não tem participação em nenhum esquema de lavagem de dinheiro, nem da Prefeitura do Rio de Janeiro e em nenhum outro lugar. A Igreja Universal presta contas de todas as suas receitas. Não temos nada a temer”, enfatizou o líder religioso.
Cardoso ainda defendeu que a igreja da família Macedo não tem influência alguma sobre as decisões da prefeitura. O mesmo discurso foi adotado por Jadson Santos, bispo responsável pela igreja no Rio de Janeiro. Na reportagem, a Record cita que a investigação do Ministério Público estava em segredo de Justiça.
“Uma coisa que eu não entendo é essa combinação da Globo com o judiciário do Rio de Janeiro. Record não sabe de nada, SBT não sabe de nada, Band não sabe de nada e a Globo sabe de tudo. A Globo chega antes, é uma coisa estranha. Por que a Globo tem essa ligação tão forte? Nós não devemos nada, temos toda a contabilidade bem transparente. Não temos o que temer. Nós vamos atrás, eles têm que provar isso daí”, defendeu Jadson Santos.
Marcelo Crivella também foi entrevistado, afirmou que o esquema de corrupção não existe e que as reportagens da Globo têm como objetivo interferir no processo eleitoral –o prefeito é pré-candidato à reeleição pelo Republicanos. O político e o próprio repórter da Record, André Tal, disseram que a prefeitura cortou privilégios e receitas publicitárias da líder de audiência no Rio de Janeiro e que, por isso, as denúncias informadas pela concorrente são “ataques”.
A reportagem do Domingo Espetacular ainda cita a delação premiada de Dario Messer, que afirmou ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, em um acordo de delação premiada divulgado em agosto, que repassou quantias em dólares à família Marinho, dona da Globo, no início dos anos 1990. Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho desmentiram as declarações.
Contra as acusações do prefeito e da Universal, a Globo diz que foi “absolutamente fiel ao que afirmaram os procuradores e aos documentos que embasaram a operação, sem nenhum outro objetivo senão o de informar o público”.
Fonte: Notícias da TV