Moraes Moreira, fundador dos Novos Baianos e um dos músicos mais importantes da música brasileira, morreu hoje aos 72 anos. A notícia foi confirmada pela assessoria de imprensa dos Novos Baianos. A causa não foi informada. O baiano morreu em casa.
Ao lado de Paulinho Boca de Cantor, Luis Galvão, Pepeu Gomes e Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), Moreia formou os Novos Baianos em 1968, que estreou em Salvador com o show “Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio”, em Salvador.
A estreia do grupo em disco, no qual Moraes era um dos principais compositores ao lado de Luis Galvão, aconteceu em 1970, com o álbum “É Ferro na Boneca”, que revelou uma nova estética musical brasileira, a do pós-tropicalismo, que empregava elementos da música brasileira, como o samba e a bossa nova, e da contracultura.
Capitaneando os Novos Baianos, Moraes Moreira revolucionou a música brasileira produzindo música popular de qualidade e mostrando que não havia limites para misturas de gênero. Rodas de samba poderiam conversar com o rock. O frevo e a chamada MPB igualmente. Baião e o choro passaram a ser ritmos irmãos.
O grupo ficou na ativa, originalmente, entre 1969 e 1975. No período, lançou discos históricos como “Acabou Chorare”, eleito pela revista “Rolling Stone” o melhor álbum brasileiro de todos os tempos, “Novos Baianos F.C.” e “Vamos pro Mundo”.
Após a dissolução do grupo, Moreira seguiu em uma bem-sucedida carreira solo, tornando-se pioneiro no universo dos trios elétricos, no trio Dodô e Osmar, e marcando sucessos de Carnaval como “Pombo Correio”, “Vassourinha Elétrica” e “Bloco do Prazer”.
Nos anos 1980, sempre exaltando a “baianidade”, uma de suas principais marcas artísticas, oxigenou a carreira com álbuns como “Mancha de Dendê Não Sai”, “Tocando a Vida” e “Mestiço é Isso”, que trouxeram novos timbres e sonoridades e ajudaram a renovar seu público.
Nessa época, ele passou a participar de programas de TV e ganhou ainda mais notoriedade ao emplacar trilhas em várias novelas da TV Globo, incluindo o sucesso “Roque Santeiro” (1985), que trazia como tema de abertura a música “Santa Fé”.
A partir dos anos 1990, já consagrado, Moraes continuou sob os holofotes alternando discos de estúdio e homenagens ao próprio legado. A gravação do “Acústico MTV”, lançado em 1995, e registros como “50 Carnavais” (1997), “Meu Nome é Brasil” (2003) renderam mais sucessos.
Mesmo com o reconhecimento solo, Moraes Moreira jamais minimizou o passado nos Novos Baianos. Ele se reuniu com os colegas duas vezes: em 1997, ocasião que rendeu o álbum ao vivo “Infinito Circular”; e em 2015, para uma série de shows registrada em “Acabou Chorare – Novos Baianos se Encontram”.
Nesse último encontro, o grupo empreendeu uma das mais bem-sucedidas turnês da carreira, com shows de ingressos esgotados, ancorados principalmente por seguidores da nova geração e pelo reconhecimento da crítica, que jamais havia sido tão portentoso.
“É impressionante, mas em cinco minutos de convívio, me senti voltando aos anos 1970. É a mesma energia que percorre nossos corpos, as mesmas gargalhadas. É um reencontro verdadeiro, de amigos que se amam e que sentem prazer em tocar juntos”, disse Moraes em entrevista.
No início deste ano, antes da pandemia do novo coronavírus, o músico vinha preparando um novo projeto de músicas inéditas, quando afirmou que estava “cansado” de tocar alguns clássicos dos Novos Baianos.
“Preta pretinha e todo o Acabou chorare… Porra, bicho, tô meio cansado disso”, afirmou ao jornal “O Globo”. “Fiz até um programa explicando o que é o show para não aparecer um cara lá no meio gritando “toca Preta pretinha!”
Fonte: UOL