O vocalista do Skank, Samuel Rosa, anunciou o fim da banda. Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, o artista declarou que o grupo deve cair na estrada para uma turnê de despedida, no ano que vem. Depois disso, os músicos finalizam a agenda da formação, sem previsão de retorno.
Desde os anos 90, após o sucesso de álbuns como “Calango” (1994) e “Samba Poconé” (1996), o Skank se mantinha no patamar dos grandes nomes do pop brasileiro. Em 2020, a banda fará a turnê “30 anos”. O tempo de estrada, segundo Samuel Rosa, é um dos motivos alegados para a separação. “Cara, são 30 anos tocando com as mesmas pessoas! Já fiz de tudo lá. Está na hora de brincar um pouco, sabe?”, declarou o artista, para Mônica Bergamo.
A decisão partiu do próprio vocalista. Segundo ele, o Skank já não oferecia mais “riscos” enquanto projeto artístico. Um dos principais compositores do grupo, Samuel revelou que, dessa forma, a banda vinha se acomodando.
O artista ainda declarou que bandas como o Capital Inicial e o Jota Quest estão em situação similar. Para Samuel, esses grupos já entram no palco com “o jogo ganho”.
“Você tem lá a sua turnezinha. Aí você faz um show que não é tão bom de bilheteria, mas o próximo dá ‘sold out’ [ingressos esgotados], e assim você vai mantendo”, disse o músico, a Folha de São Paulo.
Samuel Rosa admitiu que não foi a primeira vez que ele tentou emplacar o término do Skank. No entanto, o artista observava sempre que, a depender do demanda do público, o grupo ainda poderia se manter comercialmente.
Futuro
Adiante, o vocalista planeja seguir em carreira solo. Previsto para acontecer a partir de 2021, o projeto se espelha no “caminho natural” que outros artistas pop já trilharam no Brasil, a exemplo de Lulu Santos.
O artista, no entanto, é crítico quanto à forma de se consumir música hoje em dia, bem diferente do modo como o público se movimentava na década de 1990. Para Samuel, essa maneira “é como comer com a mão de novo. É grosseira”.
Versão oficial
A assessoria de imprensa do Skank divulgou nota oficial sobre a separação. Segue o texto na íntegra:
“Pense em um grupo brasileiro com carreira de sucesso contínuo por três décadas, premiada em absolutamente todos os 10 discos de estúdio que lançou, com hits no passado e presente e que, na atual turnê, lotou as maiores casas em todas as capitais por onde passou. A única resposta ao enigma é Skank.
Só que obviedade não faz parte do dicionário do conjunto mineiro e, na esteira desse sucesso singular, o quarteto resolveu anunciar uma parada ao final de 2020. É isso. Em meio a uma série de ondas aparentemente perfeitas, os músicos resolveram fazer uma pausa e irem para a praia testarem-se fora da única formação que conheceram desde que se juntaram para fazer um som em 1991.
Não teve briga nem nada que pesasse para uma decisão figadal. Somente um desejo por experimentação, por correr riscos e buscar outras formas de realização sem ser como Skank. “Não precisa nem da decadência, nem da guerra para terminar alguma coisa”, diz sabiamente o vocalista e guitarrista Samuel Rosa.
“É um grande desafio pessoal para cada um. Pode ser extremamente saudável nos reinventarmos, tentarmos coisas diferentes, ter esse espaço para liberdade criativa”, completa o tecladista Henrique Portugal.
No último ano, apenas em São Paulo, lotaram quatro das maiores casas de shows da cidade com a turnê “Os Três Primeiros”. Aconteceu o mesmo no Rio, Curitiba, Salvador, Belo Horizonte.
E a história se repetirá em 2020, quando em comemoração às três décadas de banda farão a turnê “30 Anos”, embalada por coletânea de 30 hits da carreira e uma canção inédita. Vai correr o Brasil todo e as datas serão anunciadas em janeiro, quando dão início ao desfile de sucessos que acumularam até agora.
Tomada de rumos inesperados não é algo esquisito à banda. Basta lembrar que explodiram nos anos 90 com uma mistura de dancehall, rock e música brasileira e na virada do milênio deram uma guinada para sonoridade mais retrô, influências de Beatles, Clube da Esquina e mantiveram a estatura como banda com “Maquinarama” e “Cosmotron”.
“(Chegou a hora de) Cada um olhar para si. É hora de experimentarmos, ainda que demos com os burros n´água. Quero me testar fora do Skank, me ver em um círculo de músicos fora do que sempre transitamos. Há muito ainda a descobrir”, diz Samuel.
“Nosso grande compromisso é com o público e no cuidado com a carreira. Não acreditamos que é preciso estar em baixa para dar uma parada, não precisa ser trágico, nem problemático”, endossa o clima amistoso na decisão o baixista Lelo Zaneti.
Claro que dentro de uma banda que, de tão grande, se tornou quase um patrimônio nacional, a parada causa um certo frio na barriga.
“Quando parávamos era por seis meses. E ficávamos esses meses em estúdio para gravar um disco. Quando falei para pessoas próximas, a reação foi: ‘Até que enfim você vai descansar’. E quem disse que eu quero descansar?” (risos), afirma o baterista Haroldo Ferretti. “Mas o bom é inimigo do ótimo. Então vamos parar enquanto está bom pra cacete”, conclui.
Os quatro, mesmo sem combinarem, falam no timing estratégico de final de ciclo. “Mesmo que o Skank tenha tido mudanças dentro de sua estética até agora, certas coisas são impossíveis de mudar quando se trata de uma relação dos mesmos quatro indivíduos. Quem sabe se hoje individualmente não sejamos melhores do que coletivamente?”, questiona Samuel.
Henrique segue a mesma linha de raciocínio: “É legal ver nos shows atualmente uma nova geração, pessoas que conheceram a banda recentemente. É resultado de prezarmos pela qualidade e não pela quantidade. Dessa forma, conseguimos ter músicas conhecidas nas três décadas. Isso até hoje permitiu que não nos tornássemos covers de nós mesmos”.
Prova disso é que uma das músicas mais tocadas é o single recente “Algo Parecido”, que soma mais de 31 milhões de plays no Spotify e 12 milhões de views no Youtube.
Que seja a senha para um próximo capítulo, que começa com a turnê e depois se divide em quatro.”
Fonte: Diário do Nordeste