Os candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se enfrentaram na noite deste domingo (16), no primeiro debate do segundo turno explorando principalmente dois temas. Enquanto o petista procurou explorar os programas e políticas sociais e educacionais durante o governo do PT, Bolsonaro deu ênfase aos episódios de corrupção durante as gestões petistas. O encontro foi promovido pela Band TV em parceria com pool de veículos de comunicação formado pela TV Cultura, UOL, Folha de S. Paulo e demais emissoras do Grupo Bandeirantes.
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Lula, que iniciou o debate criticou Bolsonaro pela gestão do País durante a pandemia de Covid-19, uma das fragilidades da campanha do atual presidente, enquanto Bolsonaro buscou associar o petista à corrupção. O petista abordou ainda o tema de educação, do Auxílio Brasil e preservação da Amazônia, dando ênfase a pautas sociais. Bolsonaro tentou associar Lula ao crime organizado, já o petista acusou o adversário de ser “amigo de miliciano” e o”rei das fake news”.
O debate deste domingo foi o primeiro que colocou Bolsonaro e Lula frente a frente após o primeiro turno, quando o petista teve 48,43% dos votos válidos e o presidente, 43,20%. Há outros dois debates programados antes do segundo turno, um deles promovido pelo pool de veículos de imprensa do qual o Estadão faz parte, agendado para a próxima sexta-feira (21).
Logo no início do debate, Bolsonaro afirmou que o Auxílio Brasil será mantido de forma vitalícia. Lula, por sua vez, disse que a Lei de Diretrizes Orçamentárias só prevê pagamento até o final deste ano. O petista fez sua primeira pergunta sobre criação de escolas técnicas e universidades.
O formato do debate permitiu que os candidatos direcionassem perguntas um ao outro, sem mediação, no primeiro e no terceiro bloco. Lula conseguiu conduzir a maior parte dos temas na primeira altercação direta, que teve a discussão sobre compra de vacinas contra Covid-19 e condução da pandemia como tema central.
“A verdade é que o senhor debochou, dificultou, gozou das pessoas e imitou as pessoas morrendo por falta de oxigênio em Manaus. Não tem na história alguém que brincou com a pandemia e com a morte como você brincou”, atacou Lula, que acusou ainda Bolsonaro de ter sido “vendedor de um remédio que não servia para nada”e de não ter respeitado o Butantã e a Fiocruz durante a pandemia.
Bolsonaro, por sua vez, negou ter debochado dos que sofriam com a Covid-19 e voltou a defender o tratamento precoce sem comprovação científica. “Isso que o senhor fala vídeo no Youtube, eu zombando, é só ver as imagens, é exatamente o contrário”, disse Bolsonaro. “A vergonha, na verdade é você carregar nas costas a morte de pessoas que poderia ter sido evitada se tivesse comprado a vacina no tempo correto. É visível, o povo brasileiro sabe que o senhor começou não acreditando na pandemia, era uma gripezinha. O Mandetta foi mandado embora porque dizia que a pandemia era grave”, disse Lula.
O presidente argumentou que o País distribuiu 500 milhões de doses da vacina, e que “todos que quiseram tomar a vacina, tomaram”. “O Brasil foi um dos países que mais vacinaram no mundo em tempo mais rápido. O senhor se informe”, afirmou. Bolsonaro também acusou Lula de ter agradecido a Deus que a natureza criou a Covid-19. Bolsonaro disse que se comoveu e se preocupou com “cada morte do Brasil”. Lula interrompeu: “Você riu o tempo inteiro. Agora você está candidato e está demonstrando uma seriedade que deveria ter demonstrado lá”, afirmou o candidato do PT.
Já Bolsonaro puxou a discussão para o assunto da corrupção quando os dois tiveram oportunidade de debater diretamente no terceiro bloco. “Você vem falar que não houve robalheira?”, questionou Bolsonaro. “Eu não disse que não houve roubalheira, porque as pessoas confessaram. Que houve roubo na Petrobrás deve ter havido”, disse Lula. “Não tenho nenhum problema de explicar o petrolão ou o petrolinho. Eu quero ver você explicar a forma sigilosa como colocou tanta coisa, tudo é motivo de sigilo”, disse Lula, após novamente prometer que irá derrubar os decretos de sigilo de 100 anos feitos por Bolsonaro.
O presidente também questionou Lula sobre quem será o ministro da economia do petista em caso de vitória e sugeriu que o ex-presidente estaria “barganhando” com algum partido político.
Bolsonaro tentou fazer nova associação entre Lula e a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A campanha de Lula trava uma batalha na justiça para tentar derrubar publicações de Bolsonaro que ligam o petista ao PCC. A publicação feita por Bolsonaro sugere que Marco Willians Herbas Camacho, também conhecido como Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), teria votado em Lula. O Tribunal Superior Eleitoral já determinou a remoção do conteúdo.
No enfrentamento com o petista, Bolsonaro questionou por que Lula não realizou a transferência de Marcola para um presídio federal e perguntou se isso se deve a “simpatia, amizade ou grande acordo” com o então governador de São Paulo e atual candidato a vice na chapa do petista, Geraldo Alckmin. A presença de Lula no Complexo do Alemão durante a campanha nesta semana fez Bolsonaro acusar o petista de ter “amizade com bandido”. “Não tinha nenhum policial ao seu lado, só traficante”, disse Bolsonaro, que também alegou que Lula teve mais votos em presídios e que Marcola seria eleitor do ex-presidente. “Eu sou o único candidato a presidente da república que tem coragem de entrar em uma favela sem colete de segurança “, rebateu Lula.
“O candidato sabe que quem cuida de crime organizado não sou eu. Quem tem relação com miliciano ele sabe que não sou eu e sabe quem tem”, disse Lula. “Não foram os presos que votaram em mim, foi o povo brasileiro. Eu tive seis milhões de votos a mais do que você com toda essa gastança que você fez”, afirmou o petista.
O petista fez acenos ao agronegócio “sério” e acusou Bolsonaro de estar fazendo “destruição” na Amazônia. Ja Bolsonaro fez acenos aos eleitores nordestinos, entre os quais Lula tem ampla vantagem. O presidente e candidato à reeleição reclamou os créditos pela transposição do Rio São Francisco e também falou em “irmãos nordestinos” ao menos três vezes. Lula rebateu: “Sou nordestino, já tive experiência de carregar balde d’água e lata d ‘água na cabeça, não minta”, disse Lula. “Eu fiz 88% das obras do São Francisco, ele fez 3,5%”, disse Lula. Bolsonaro afirmou, então, que a transposição do São Francisco não terminou no prazo porque o Brasil vivia “uma explosão de corrupção”. “O senhor negou água aos seus irmãos nordestinos. Tudo tinha corrupção no seu governo. Eu levei água”, disse Bolsonaro.
O encontro deste domingo ocorreu sob tensão por parte da campanha de Bolsonaro, diante da repercussão negativa da fala do presidente, na última sexta-feira, 14, sobre um encontro com adolescentes venezuelanas. Em entrevista a um podcast, Bolsonaro disse, sobre menores de idade, que “pintou um clima”. Depois disso, segundo o presidente, ele decidiu entrar na casa onde as adolescentes estavam e as encontrou, segundo ele, se preparando para “ganhar a vida”.
A campanha petista usou trecho da fala nas redes sociais para atacar Bolsonaro, que passou a ser associado nas redes sociais ao crime de pedofilia. Ao chegar ao debate, Bolsonaro afirmou que viveu “as piores 24 horas” da vida dele. Lula, por sua vez, disse que Bolsonaro “agiu de má fé com aquelas meninas”. Pouco antes do início do debate, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, determinou que a peça do PT com a declaração de Bolsonaro fosse retirada do ar. O tema foi levado ao debate pelo próprio Bolsonaro, que citou a decisão de Moraes e acusou a campanha petista de divulgar informações falsas. Lula não seguiu no tema.
Ao responder perguntas de jornalistas, os dois se disseram contrários a ampliar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal. Lula citou que mudanças já aconteceram na ditadura e que “não é democrático” que o presidente queira ter ministros da Corte como amigos. Bolsonaro disse que “está feito o compromisso” e que nunca estudou o tema com profundidade, mas aproveitou o momento para fazer ataques ao ministro Edson Fachin, sem citar o nome do magistrado, e afirmar que ele foi responsável por tirar Lula da prisão.
No início de outubro, tanto Bolsonaro quanto seu vice, o senador eleito Hamilton Mourão, mencionaram a possibilidade de aumentar as cadeiras no STF. Bolsonaro chegou a dizer que decidiria sobre o tema “depois das eleições” e que poderia desistir se o Supremo “baixar a temperatura”.
Fonte: Estadão