A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estima um crescimento de ao menos 10% do total de votos no segundo turno das eleições. No primeiro, Lula teve 57,2 milhões de votos (6,2 milhões de votos a mais do que o presidente Jair Bolsonaro), o que alçaria a base do petista a cerca de 63 milhões de eleitores.
Curta e siga nossas redes sociais:
Sugira uma reportagem. Mande uma mensagem para o nosso WhatsApp.
Entre no canal do Revista Cariri no Telegram e veja as principais notícias do dia.
Esse número, avaliam petistas, garante uma vitória apertada, mas sólida do candidato —mesmo com a diminuição da diferença sobre Bolsonaro (PL) apontada por pesquisas. O objetivo é tirar esses votos dos candidatos derrotados e de lugares em que o petista já foi bem no primeiro turno —para isso, foram voltadas as viagens deste último mês.
Na ponta do lápis
A campanha espera ter ao menos 6 milhões a mais nesta etapa, sem perder votos para Bolsonaro. A conta é fruto de “muito trabalho e um pouco esperança”, brincam interlocutores.
Os candidatos derrotados Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) reuniram, juntos, 8,5 milhões de votos no primeiro turno. Com base em pesquisas internas e de intenção de voto, a campanha petista espera abocanhar cerca de 60% desse eleitorado —uma fatia de 5 milhões de votos.
No entendimento da campanha, a maioria dos eleitores de Ciro deve migrar para Lula independentemente da apatia do pedetista ao passo que a maioria do eleitorado da Tebet deverá vir exatamente pelo engajamento da senadora.
Ambos declararam voto em Lula nessa etapa, mas Ciro o fez de forma protocolar, seguindo o partido, enquanto a emedebista mergulhou na campanha e tem feito agendas em prol do petista, com ou sem sua presença.
Apertado, mas vai
A campanha tem usado a diferença em votos absolutos para tentar acalmar a militância, cada vez mais aflita com as pesquisas recentes. O PT estima que a diferença entre os dois candidatos será de 5 a 6 pontos percentuais, o que garante a Lula uma vitória sólida, porém sem muita folga.
Desde que a vitória em primeiro turno, que tinha alta expectativa, não veio, a campanha tem sentido parte da militância não só abatida como temerosa, como um “trauma” em relação a 2018.
Petistas tentam argumentar que neste ano há uma situação “totalmente diferente”: dessa vez, Lula saiu na frente e, como dito, tem possibilidade de crescimento em diferentes estados. Eles lembram ainda que nunca houve virada do primeiro turno para o segundo.
Segundo interlocutores, a redução da vantagem apontada pelas pesquisas não é exatamente uma diminuição, mas um ajuste dos institutos. Ou seja, a diferença sempre esteve na casa dos cinco pontos. Por isso, Lula assume o tom confiante.
“Acho impossível ele [Bolsonaro] tirar a diferença [de 6,2 milhões de votos] em uma semana, mesmo fazendo as loucuras que ele faz e contando as mentiras que ele conta”, afirmou Lula em entrevista à imprensa no Rio de Janeiro nesta semana.
De onde vem?
A campanha espera tirar esses votos em especial do Nordeste e do Sudeste, foco das viagens no segundo turno. No Nordeste, onde Lula venceu no primeiro turno em todos os estados, a campanha avalia que ainda resta uma “gordurinha” a ser queimada.
No Ceará, está de olho nos 460 mil votos de Ciro. Na Bahia, Lula já abocanhou quase 70% dos mais de 11 milhões de votos, mas a campanha espera crescer para 75%. O mesmo ocorre no Maranhão, com seus 5 milhões eleitores.
No Sudeste, que concentra quatro a cada dez votos do país, o objetivo é aumentar a distância em Minas Gerais, único estado em que ganhou, e diminuir a vantagem de Bolsonaro no Rio e em São Paulo.
• Em Minas, trackings internos indicam que Bolsonaro tem crescido proporcionalmente. Por outro lado, Lula também deverá conseguir grande parte dos cerca de 1 milhão de pessoas (7%) que votaram em Tebet e Ciro. Neste mês, ele visitou quatro cidades do estado, incluindo a capital, e espera crescer ainda mais no Vale do Jequitinhonha, ao norte.
• No Rio, estado mais visitado no segundo turno, a expectativa é de que o petista cresça na Baixada Fluminense, reduto bolsonarista no estado. Com apoio do prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho (União Brasil), o petista espera virar votos e convencer indecisos na região, que concentra três dos maiores colégios eleitorais do estado.
• Em São Paulo, grande surpresa negativa para a campanha no primeiro turno, o petista quer conquistar ainda mais votos na região metropolitana da capital, onde ganhou na maioria das cidades, e conseguir uma parcela pequena, porém não desprezível, dos pouco mais de 2 milhões de eleitores que votaram em Tebet, em especial no interior.
Ainda há estados como Pará, onde ele teve 52% dos votos no primeiro turno. Com o apoio engajado do governador Helder Barbalho (MDB), reeleito com 70% dos votos, o petista espera também aumentar a margem entre os 6 milhões de eleitores do estado.
De onde não vem?
No segundo turno, a estratégia foi focar onde tinha maior probabilidade de conquistar eleitores. Mesmo com o apoio de Tebet, que é sul-mato-grossense, o petista optou por não visitar o Centro-Oeste —dessa vez, nem Brasília— por não ver possibilidade de crescimento.
Na ponta oposta do Nordeste, Lula perdeu em todos os estados do Centro-Oeste no primeiro turno —Bolsonaro obteve na região mais de 50% dos votos. Na região, a campanha estima que a grande maioria dos votos de Tebet e Ciro migrem para Bolsonaro e espera que, caso a abstenção diminua, seja em favor do presidente.
No Sul, a conta é semelhante. Mesmo indo ao segundo turno em Santa Catarina com o ex-deputado Décio Lima (PT), o partido preferiu visitar apenas o Rio Grande do Sul, em uma passagem rápida por Porto Alegre na última semana. No estado, único da região em que Bolsonaro não teve mais de 50% dos votos, pesquisas indicam empate técnico entre os dois.
Já em Santa Catarina, Lula aparece com apenas 30% das intenções de voto —estimativa semelhante à votação no primeiro turno— e a coordenação de campanha não viu o ponto em fazer uma viagem para lá.
O interior de São Paulo também não foi prioridade para o ex-presidente, embora tenha ido a Campinas (SP) e deva ir a Ribeirão Preto (SP), um dos polos do agro e do conservadorismo no estado, pela primeira vez na próxima terça (25). Com ampla vantagem para Bolsonaro nas maiores cidades de fora da região metropolitana, o PT avalia que Lula tem mais chance mesmo de crescer na Grande SP.
Abstenção
Para o segundo turno, a campanha olha para a tão comentada abstenção com atenção, porém sem tanto alarde. No primeiro turno, o partido contava com uma diminuição dos ausentes em relação a 2018 para garantir a vitória, mas foi justamente o aumento da abstenção para quase 21% que atrapalhou.
Agora os petistas avaliam que o cenário é diferente: por isso fazem projeções considerando os votos absolutos, e não porcentagens. Com o crescimento estimado em quase 6 milhões de votos, aumentar ou não a abstenção para 24%, como estimam algumas pesquisas, não teria um impacto tão relevante quanto no primeiro turno —desde que a campanha acerte na previsão e Lula não perca votos para Bolsonaro, como espera o presidente.
Fonte: UOL