Em meio a polêmicas, foi iniciada a vacinação de profissionais da Educação em todo o Ceará contra a Covid-19, neste sábado (29). O impasse acerca da imunização foi gerado após trabalhadores da área descobrirem que, para receber a primeira dose da vacina, seriam obrigados a assinar uma declaração emitida pela Secretaria da Saúde (Sesa), na qual se comprometem a retornar às aulas presenciais no segundo semestre deste ano.
A assinatura do documento como condicionante à imunização dos trabalhadores da Educação foi questionada pelo Sindicato dos Professores e Servidores da Educação e Cultura do Ceará (Apeoc), nessa sexta-feira (28).
A decisão foi tomada após reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), que envolve Governo do Estado e gestores das 184 cidades cearenses, ainda ontem. De acordo com a Sesa, retornar às aulas presenciais é uma das razões pelas quais o Ministério da Saúde liberou a imunização dos profissionais da Educação como prioridade.
No entanto, para o presidente do Apeoc, Anízio Melo, os trabalhadores foram surpreendidos pela posição da Secretaria da Saúde.
Hoje, 300 profissionais da educação básica residentes em Fortaleza foram agendados para se vacinar na Capital, conforme divulgou o prefeito Sarto Nogueira. Uma das contempladas foi a professora do ensino fundamental, Francisca Tonha Guerreiro Chaves, de 59 anos.
Ela assinou a declaração se comprometendo a retornar à escola presencialmente e, em seguida, recebeu a primeira dose da vacina. Porém, acreditava se tratar apenas de um protocolo de vacinação. “Não deu pra eu ler. Achei que era só entrar, vacinar e pronto”.
Retorno com segurança
Francisca Tonha ressalta que já perdeu familiares, amigos e vizinhas para a Covid-19. Por isso, estima ser necessário um tempo maior para retorno às aulas presenciais, mesmo quando receber a segunda dose da vacina.
“Concordo com a volta pra escola, mas só de forma segura porque a gente não sabe quem resiste ou não a uma doença tão séria”, diz, reconhecendo também que o atual contexto ampliou a defasagem no aprendizado dos estudantes.
“De todo modo, o aluno brasileiro está prejudicado. Seja pela doença, pelo problema de falta de emprego, por tudo que a pandemia trouxe. Depois da pandemia, acredito que vá custar muito a educação tomar um rumo”.
Com 23 dos seus 59 anos dedicados ao ensino, Maria Evangelina Gomes da Silva considera “positiva” a vacinação aliada à assinatura do termo de comprometimento. “Além da saúde da gente, nós [professores] temos que pensar nos nossos alunos, no déficit de aprendizagem que está ficando com essas aulas remotas”, pondera.
Segundo a professora do ensino fundamental I, com segurança, é possível retornar à escola. “Nada melhor que o presencial. E essa vacina vem dar aquele reforço pra gente ficar mais tranquila. Com segurança, dá pra retornar e fazer o rodízio, com um grupo diferente a cada semana”.
Emocionada por viver a “alegria” de tomar a vacina, a professora Eida Zena Galvão, de 59 anos, não vê a hora de voltarem as aulas presenciais. Hoje, ela atua como secretária de uma escola estadual em Fortaleza.
“O empecilho [para o retorno presencial] era a gente não tomar a vacina. Se a gente toma, não tem porquê ficar em casa, a vida tem que continuar. Já está passando do tempo. E a escola só tem vida quando tem aluno”.
Professor de geografia em uma escola da rede municipal de Fortaleza, Carlos Josué de Assis diz ter recebido a notícia da vacinação da categoria com “alegria”. Entretanto, a seu ver, a decisão de exigir uma assinatura do tipo às vésperas da vacinação ocorreu de forma “sorrateira”.
Mesmo a contragosto, o professor, de 35 anos, pretende assinar o documento para garantir a sua saúde e daqueles que o rodeiam.
Ele garante que vem “trabalhando muito” em casa, com as aulas remotas, e está ansioso para retornar ao trabalho presencial. Mas diz que “não vê nenhuma outra categoria tendo que assinar um papel desses. Outros estados que estão vacinando professores não têm documentos desse tipo”, conclui.
Vacinação dos trabalhad ores da Educação no CE
Neste primeiro momento da imunização, serão vacinados professores, diretores, coordenadores, auxiliares, entre outros, por ordem decrescente de idade, começando pelo ensino básico público e privado, segundo a Secretaria da Saúde (Sesa). A meta, conforme o Plano Municipal de Vacinação, é vacinar 78,6 mil trabalhadores.
Fonte: Diário do Nordeste