Em agosto, cerca de 5 milhões de pessoas pertencentes a famílias beneficiárias do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões via Pix para plataformas de apostas online, segundo um relatório divulgado nesta terça-feira (24) pelo Banco Central. O documento destaca a crescente relação entre a população de baixa renda e o mercado de apostas, apontando que 21% dos valores repassados pelo programa social foram destinados a esses sites de jogos.
Curta, siga e se inscreva nas nossas redes sociais:
Facebook | X | Instagram | YouTube | Bluesky
Sugira uma reportagem. Mande uma mensagem para o nosso WhatsApp.
Entre no canal do Revista Cariri no Telegram e veja as principais notícias do dia.
O estudo revela que o valor médio transferido por cada beneficiário foi de R$ 100, e que 70% dos apostadores são chefes de família, responsáveis diretos pelo recebimento do auxílio. Esses indivíduos enviaram R$ 2 bilhões, ou 67% do total transferido, para plataformas de apostas. As análises foram feitas com base no número de cadastrados de dezembro de 2023, dos quais 17% realizaram apostas.
No mês em questão, o Bolsa Família distribuiu R$ 14,1 bilhões para mais de 20,7 milhões de famílias, com um valor médio de R$ 681 por núcleo familiar. Segundo o Banco Central, os resultados reforçam levantamentos anteriores que indicam que famílias de baixa renda são as mais impactadas pela atividade das apostas esportivas.
“O apelo comercial de enriquecimento rápido oferecido pelas apostas é mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, afirmou o Banco Central em nota técnica. A instituição, no entanto, destacou que precisará de mais dados para avaliar de forma mais robusta o impacto econômico e social dessa prática.
Preocupação no governo
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, expressou preocupação com o comprometimento da renda das famílias em sites de apostas, ressaltando que a questão tem sido motivo de debate. “É um tema muito relevante”, afirmou Campos Neto, durante a Brazil Conference em São Paulo.
O levantamento também apontou que, de janeiro a agosto deste ano, as transferências via Pix de pessoas físicas para empresas de apostas online variaram entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões por mês. Apenas em agosto, foram transferidos R$ 21,1 bilhões, em contraste com os R$ 1,9 bilhão arrecadados pelas loterias tradicionais da Caixa no mesmo período.
Em relação ao perfil dos apostadores, a maioria tem entre 20 e 30 anos, e o valor médio das transferências aumenta com a idade. Jovens costumam apostar em média R$ 100, enquanto apostadores mais velhos chegam a movimentar mais de R$ 3 mil por mês.
Ministério da Fazenda avança na regulamentação
O mercado de apostas online está em processo de regulamentação pelo Ministério da Fazenda, com novas regras previstas para entrarem em vigor em janeiro de 2025. Entre as medidas, estará a proibição de apostas feitas com cartões de crédito. A partir de outubro de 2024, apenas empresas que pedirem autorização poderão operar no país.
Isaac Sidney, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), defendeu a proibição imediata do uso de cartões de crédito para apostas, descrevendo a situação como “alarmante”.
Por sua vez, o Ministério do Desenvolvimento Social solicitou mais informações sobre o impacto dos dados divulgados pelo Banco Central. O ministro Wellington Dias afirmou que a regulamentação deve levar em consideração a vulnerabilidade social das pessoas mais afetadas. “O Bolsa Família tem por objetivo combater a fome e atender às necessidades básicas das famílias. Faremos tudo para manter esses objetivos”, disse o ministro.
Por Heloísa Mendelshon