Pressionado pela alta nos preços dos alimentos e combustíveis, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, avançou 0,89% em novembro, acima da taxa de 0,86% de outubro, segundo divulgou nesta terça-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Esse é o maior resultado para um mês de novembro desde 2015, quando o indicador foi de 1,01%”, informou o IBGE.
Trata-se também da maior alta mensal desde dezembro de 2019 (1,15%).
No acumulado em 2020, o IPCA registra alta de 3,13% e, em 12 meses, de 4,31%, acima dos 3,92% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Com o resultado, a inflação agora está bem acima do centro da meta de inflação do governo para este ano, que é de 4%.
O resultado ficou acima do teto das expectativas de 29 consultorias e instituições financeiras ouvidos pelo Valor Data, de 0,86% de aumento. O piso das projeções era de elevação de 0,68% e a mediana, de 0,77% de alta.
A alta nos preços atingiu todas as 16 regiões pesquisadas pelo IBGE. O maior resultado ficou com Goiânia (1,41%), e o menor foi registrado em Brasília (0,35%). Em São Paulo e no Rio de Janeiro, o IPCA do mês foi de 1,04% e 0,69%, respectivamente.
O que mais subiu
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 7 tiveram alta em novembro.
Veja o resultado para cada um dos 9 grupos pesquisados:
• Alimentação e bebidas: 2,54%
• Habitação: 0,44%
• Artigos de residência: 0,86%
• Vestuário: 0,07%
• Transportes: 1,33%
• Saúde e cuidados pessoais: -0,13%
• Despesas pessoais: 0,01%
• Educação: -0,02%
• Comunicação: 0,29%
A maior variação (2,54%) e o maior impacto (0,53 ponto percentual) vieram, mais uma vez, do grupo Alimentação e bebidas, que acelerou frente a outubro (1,93%). A segunda maior contribuição (0,26 p.p.) veio dos Transportes (1,33%). Juntos, os dois grupos representaram cerca de 89% do IPCA de novembro.
Os artigos de residência (0,86%) desaceleraram em relação ao mês anterior (1,53%), assim como vestuário (0,07% em novembro, frente à alta de 1,11% em outubro). Já os preços dos grupos saúde e cuidados pessoas (-0,13%) e educação (-0,02%) tiveram deflação.
Alimentos têm alta de 12,14% no ano
Entre os alimentos que mais subiram em novembro, destaque para carnes (6,54%), batata-inglesa (29,65%), tomate (18,45%), arroz (6,28%), óleo de soja (9,24%) e cerveja (1,33%). No lado das quedas, o destaque foi o leite longa vida (-3,47%).
A inflação da alimentação fora do domicílio também acelerou na passagem de outubro (0,36%) para novembro (0,57%), puxada pelo preço da refeição (0,70%).
No ano, o grupo alimentos e bebidas acumula alta de 12,14%, o maior avanço desde 2002. Em 12 meses, o avanço é de 15,94%.
Entre os itens que mais pesaram no prato do brasileiro no ano, destaque para óleo de soja (94,1%), tomate (76,51%), arroz (69,5%) e carnes (13,9%).
“O que tem influenciado mais nos últimos meses é a alta dos alimentos, que pode ser explicada por dois fatores: por um lado, há o aumento da demanda, sustentada pelos auxílios concedidos pelo governo e, por outro, a restrição de ofertas no mercado doméstico em um contexto de câmbio mais alto, que estimula as exportações”, afirmou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, destacando que a economia ainda está num cenário de recuperação, sem pressão de demanda sobre os preços.
O pesquisador apontou que, no acumulado em 12 meses (4,31%), o IPCA tem a mesma variação registrada em dezembro do ano passado, novamente influenciado pelo preço dos alimentos, mas com características distintas.
“Em dezembro do ano passado estava relacionado a um item específico, que era carne. Agora, a gente tem uma situação similar, que é a alta dos alimentos, mas com uma disseminação (da alta de preços) em vários itens, alguns com mais de 50% de aumento, e até mais de 100%”, comparou.
Etanol dispara 9,23%
Nos transportes, a maior pressão no índice geral no mês (0,08 ponto percentual) veio da gasolina (1,64%), cujos preços subiram pelo 6º mês consecutivo. Entre os combustíveis (2,44%), destaca-se ainda a forte alta do etanol (9,23%).
Destaque também para as altas nos preços dos automóveis novos (1,05%) e usados (1,25%), que aceleraram ante o mês anterior (quando registraram 0,61% e 0,35%, respectivamente).
A inflação de serviços desacelera
A inflação de serviços desacelerou ou de 0,55% em outubro para 0,39% em novembro. “Essa desaceleração se deu muito em função das passagens aéreas, que tiveram uma alta de 3,22% em novembro depois de um aumento de quase 40% em outubro”, explicou o gerente da pesquisa.
Kislanov destacou, ainda, que dos 38 serviços pesquisados, 22 tiveram alta em novembro. No mês anterior, 24 registram alta nos preços.
A maior alta no mês foi de transporte por aplicativos (7,69%), enquanto o maior recuo nos preços foi o de cinemas e teatros, com deflação de 1,13%.
O chamado Índice de Difusão, que mede a proporção de bens e atividades que tiveram aumento de preços, também caiu de 68,2% em outubro para 66,6% um mês depois, segundo cálculos do Valor Data considerando todos os itens da cesta. Em setembro, o indicador estava em 63,4%.
INPC varia 0,95% em novembro
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), índice de referência para reajustes salariais e benefícios previdenciários, subiu 0,95% em novembro, após avanço de 0,89% em outubro. No ano, o INPC acumula alta de 3,93% e, nos últimos doze meses, de 5,20%, acima dos 4,77% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Reajuste de preços e perspectivas
Os analistas passaram a projetar uma inflação para 2020 acima da meta central do governo, de 4%. A expectativa do mercado para este ano passou de 3,54% para 4,21%, de acordo com a última pesquisa Focus do Banco Central.
A revisão das projeções ocorreu após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizar cobrança extra na conta de energia em dezembro. Nos últimos meses, o patamar mais elevado do dólar e a retomada da economia também contribuiu para a subida dos preços, principalmente de alimentos e combustíveis.
Na última quinta-feira (3), a Petrobras anunciou mais um reajuste de 5% do botijão de gás às distribuidoras.
A alta do custo de vida tem pesado mais no bolso dos mais pobres. O índice da FGV que mede a variação de preços de produtos e serviços para famílias com renda entre um e 2,5 salários mínimos, por exemplo, tem alta acumulada em 12 meses de 5,82% até novembro.
Apesar da aceleração nesta reta final do ano, a inflação oficial ainda está dentro do intervalo de tolerância existente. Pela regra vigente, o IPCA pode oscilar de 2,5% a 5,5% neste ano sem que a meta seja formalmente descumprida.
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), atualmente em 2% – mínima histórica.
O mercado segue prevendo manutenção da taxa básica de juros neste patamar até o fim deste ano, subindo para 3% no final de 2021. Ou seja, a expectativa é que a Selic deve voltar a subir no ano que vem.
Para o IPCA de 2021, o mercado financeiro baixou de 3,47% para 3,34% sua previsão. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
O IPCA é calculado com base em uma cesta de consumo típica das famílias com rendimento um a 40 salários mínimos, abrangendo dez regiões metropolitanas, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília.
Custo da construção civil sobe 1,82% em novembro
O IBGE também divulgou nesta terça que seu Índice Nacional de Construção Civil (Sinapi) subiu 1,82% em novembro, acelerando em relação à taxa registrada em outubro (+1,71%).
O índice acumula agora alta de 8,06% no ano e de 8,30% em 12 meses.
Fonte: G1