Apesar da lenta recuperação da atividade econômica no País, há uma percepção de que o pior momento ficou para trás, o que tem motivado grandes empresas a investirem em novas unidades fabris e a aumentar a capacidade de produção. Diante desta perspectiva, o Ceará desponta como um porto seguro para essas companhias. De janeiro a julho, o Conselho de Desenvolvimento Industrial (Cedin) do Estado já aprovou benefícios para 20 novas empresas que, juntas, deverão investir cerca de R$ 988 milhões nos próximos anos, gerando mais de mil empregos diretos.
No fim de agosto, a multinacional Diageo, proprietária das marcas Ypióca, Johnnie Walker e Smirnoff, anunciou um investimento de R$ 100 milhões em seu novo complexo industrial, em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), previsto para entrar em operação até o segundo semestre de 2020.
No início de setembro, a Klabin, maior produtora brasileira de papéis para embalagem e embalagens de papelão ondulado, acertou com o Governo do Ceará a instalação de uma fábrica de embalagens em Horizonte, também na RMF, com investimento de R$ 500 milhões. A informação, divulgada pelo colunista do Diário do Nordeste Egídio Serpa no dia 3 de setembro, foi confirmada ontem pela empresa à reportagem.
Segundo Douglas Dalmasi, diretor de Embalagem da Klabin, a escolha da cidade se deu por apresentar um local disponível com toda a estrutura necessária para a instalação da fábrica. A primeira fase do investimento, já aprovada pelo conselho, tem um valor estimado de R$ 48 milhões.
Com isso, a empresa terá acesso ao mercado, podendo iniciar as operações nos próximos meses. “Lutamos para entrar em operação ainda neste ano, mas talvez aconteça no início do próximo ano”, afirmou o executivo. “Encontramos um terreno de um milhão de metros quadrados (m²) e um parque industrial de mais de 35 mil m², com toda a infraestrutura necessária para a instalação de um parque industrial. Isso reduziu bastante o valor do investimento”, explica Dalmasi.
Nessa primeira fase, informa o executivo, a unidade produzirá apenas caixas de papelão ondulado, a partir de papel reciclado que virá de Pernambuco e fibras virgens que serão transportadas via cabotagem do Paraná e Santa Catarina. Segundo ele, neste início a empresa também deve transferir capacidade das regiões Sul e Sudeste, onde tem realizado readequações, para a nova fábrica.
A próxima fase do investimento, de acordo com o executivo, ainda está sendo detalhada para aprovação do conselho. A disputa por um novo local para a instalação da fábrica estava entre os Estados da Bahia, Pernambuco e Ceará, que se mostrou mais estratégico, conforme explica o executivo, ao facilitar o acesso também para a região Norte.
Sinalização
Embora o volume deste investimento seja de grande relevância, o próprio fato de uma fabricante de embalagens apostar no Estado pode ser considerado ainda mais significativo, pois reflete confiança no crescimento da atividade industrial cearense, nos mais variados setores, pelos próximos anos ou décadas.
“A Klabin é uma empresa centenária que sempre tem um cuidado estratégico muito grande para manter sua participação de mercado. Então, se eles estão fazendo isso, é porque o Ceará merece essa confiança”, diz o economista e consultor internacional Alcântara Macedo. “É muito animador para todos os setores que, no longo prazo, terão maior disponibilidade de matéria-prima, podendo refletir na redução de custos”.
Aumento de capacidade
Também focada em suprir a demanda por embalagens no Estado, a multinacional West-Rock – antiga Rigesa – anunciou, na última quinta-feira (12), um investimento de R$ 10 milhões na sua unidade de Pacajus, na RMF. Com esse montante, a empresa, uma das maiores fabricantes de papelão ondulado do mundo, soma mais de R$ 100 milhões investidos no Estado nos últimos seis anos. Com o novo investimento, a empresa ampliará a capacidade produtiva e aumentará a qualidade das embalagens da fábrica.
“A WestRock está aqui no Ceará há 23 anos, e a gente cresce junto com os demais setores, pois há um alto grau de conexão com o crescimento da produção industrial da região. Não somos o único player na região, mas, no Ceará, somos o mais importante”, disse o presidente da WestRock Brasil, Jairo Lorenzatto, sobre o que motivou a empresa a investir na unidade cearense. “A gente vê crescimento em todas as regiões do Brasil. No Nordeste, a gente viu, nos últimos dez anos, um crescimento relativamente maior, e no Ceará, maior ainda”, disse.
Sobre a chegada da Klabin, que deverá ficar apenas 13 quilômetros de distância da West-Rock, Lorenzatto disse que a empresa “não comenta a atividade dos competidores”. Em um raio de apenas 20 quilômetros, as duas companhias terão grandes consumidores de embalagens como, por exemplo, as gigantes nacionais Ambev, BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão), M. Dias Branco, Vulcabras e a Diageo.
“A gente investe para o crescimento paulatino da demanda dos nossos clientes porque, para nós, isso é inexorável. Nós cresceremos. A pergunta é: qual a velocidade? E nós, independentemente da velocidade, temos que estar preparados, porque crescimento haverá”, diz o presidente da WestRock Brasil.
Crescimento
De acordo com o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), no primeiro trimestre deste ano, a indústria de transformação registrou um leve crescimento, de 0,3%, em sua produção física na comparação com igual período de 2018.
Já dados da última Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a produção industrial cearense avançou 2,9% entre janeiro e julho deste ano, média superior à da produção nacional (que caiu 1,7% ), e único resultado positivo do Nordeste.
Além de beneficiar as empresas já existentes no Estado, o aumento da oferta de embalagens acaba sendo uma vantagem competitiva para atrair novas indústrias. “É muito importante que a região tenha grupos do porte da Klabin, o que engrandece o Estado e qualifica as empresas aqui existentes. Isso demonstra que o Ceará pode oferecer condições locacionais excepcionais e que grandes grupos podem vir se instalar aqui”, disse uma fonte que tem participado das tratativas para a instalação da empresa.
Dentre diversos indicadores utilizados para medir a atividade industrial, o “papelão ondulado” serve de termômetro para avaliar o ritmo do desempenho industrial, uma vez que o insumo serve aos mais diferentes segmentos da indústria. Assim, os recentes investimentos em fábricas de caixas e embalagens sinalizam otimismo com o futuro da produção no Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste