Somente nos primeiros sete meses deste ano, os brasileiros já gastaram R$ 857 bilhões no cartão de crédito, um crescimento de 20% na comparação com janeiro a julho de 2019, no pré-pandemia, e maior valor da história para o período.
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Na avaliação de especialistas, esse movimento reflete a inflação do período, o aperto da crise econômica e também uma maior confiança dos bancos em conceder crédito após a implementação do cadastro positivo.
Atualmente, os financiamentos no cartão representam 70% do total do crédito livre (ou seja, sem subsídios) concedido no país, um percentual que vem aumentando ao longo dos anos. O dinheiro de plástico, como foi apelidado, responde por mais de 80% das dívidas das famílias, de acordo com levantamento da Fecomercio-SP.
“Muito dessa alta nos empréstimos que aparece nos dados do BC é inflação”, lembra Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, apontando que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado de janeiro de 2019 até julho deste ano é de 14,2%. “Os preços das coisas sobem, e os gastos também.”
Desde junho de 2020, os grandes bancos também passaram a levar em conta o cadastro positivo em suas análises de crédito, o que também vem influenciando nesse crescimento do uso do cartão, segundo Rabi. “As informações estão se disseminando mais, permitindo que bancos e fintechs [startups do setor financeiro] atuem de forma mais eficiente, calculando melhor o risco de crédito e ajustando suas políticas”.
Para Nayara Boer, planejadora financeira e sócia da Renova Invest, as consequências do alto desemprego e da disparada de preços também impactam diretamente esse uso maior do cartão.
“Há uma grande massa de pessoas que, por estarem mais apertados e por causa da inflação, acabam usando mais o cartão de crédito. Vai no supermercado e gasta muito mais, muitas vezes usam carteiras virtuais para pagar boletos e contas de consumo no cartão”, aponta.
Como usar bem o cartão?
Em primeiro lugar, é importante lembrar que os juros do cartão de crédito são de em média 331,5% ao ano caso o consumidor entre no rotativo (ou seja, quite somente o valor mínimo da parcela). A modalidade cobra os maiores juros do país, e portanto, seu uso deve ser feito com muito cuidado.
Abaixo vão algumas dicas para usar bem o cartão de crédito.
Estipule um valor máximo a ser gasto por mês
Estipule, dentro da sua renda mensal, um valor máximo que você pode pagar no cartão de crédito por mês. Coloque no papel os gastos prioritários, como aluguel, alimentos e educação dos filhos, entre outros. A partir daí, calcule o quanto pode ter de despesas no cartão.
“É na falta de planejamento que eu vejo o maior erro das pessoas que se perdem no cartão. Eu já passei por isso quando era nova”, afirma Nayara, da Renova Investe. “Separar dentro da sua renda o valor máximo para pagar no cartão por mês é o primeiro passo.”
Ela lembra que alguns bancos já permitem que os clientes determinem um valor máximo a ser gasto no cartão, e que essa pode ser uma ferramenta importante no planejamento financeiro. “Até por questão de segurança, ainda mais em um momento em que os golpes estão crescendo, isso pode ser interessante.”
Mantenha uma planilha com o cronograma de renda e despesas
Aqui, o conselho é manter em uma planilha ou mesmo em uma caderneta um cronograma de datas de entrada de dinheiro na sua conta e pagamentos do cartão ou de boletos.
“É importante ter uma previsão de médio e longo prazo, de todos os meses. Lá na frente, você consegue saber quanto vai receber de salário e quanto vai gastar com cada caixinha da sua vida, incluindo o cartão”, diz Nayara. “Essa foi uma estratégia importante em um momento da vida em que eu tive problemas no cartão. Eu sabia que se não respeitasse esse planejamento, não estaria no azul”.
Na avaliação da planejadora financeira, para facilitar a visualização dos gastos uma opção para os mais organizados é concentrar todos eles, inclusive os menores, no cartão. “É uma forma de ter mais controle de para onde está indo o seu dinheiro, porque está tudo em uma única fatura. E é uma forma de ter benefícios na forma de pontos e cashback“, diz. “Mas isso exige organização e planejamento.”
Tenha cuidado ao parcelar
Entre os planejadores financeiros não existe consenso se o parcelamento no cartão é ou não uma boa opção. A única regra é que, se lançar mão dessa possibilidade, o consumidor deve ter claro no seu planejamento para os próximos meses que uma parcela X da sua renda já está comprometida.
“Na minha opinião, se você não tem nenhum benefício no pagamento à vista, pode parcelar, mas sempre olhando com cuidado se aquilo cabe no seu orçamento e avaliando com calma as taxas de juros. E sempre com controle. Vamos supor, neste mês, parcelei em três vezes um eletrodoméstico, então já tenho R$ 1 mil comprometidos nos meses seguintes”, diz Nayara.
Nunca pague só o mínimo do cartão
Entrar no rotativo é uma péssima ideia, já que esse é um crédito caríssimo. Portanto, o conselho aqui é nunca pagar o mínimo da fatura do cartão e rolar o restante para o próximo mês.
Está apertado? Tente conseguir um outro tipo de crédito no seu banco, com taxas mais baixas. O rotativo do cartão cobra taxas de juros de mais de 300% ao ano, enquanto que um crédito pessoal, por exemplo, oferece taxas médias de 80% ao ano.
“O rotativo é um buraco sem fundo, são juros em cima de juros cobrados diariamente. Se estou apertado, perdi o emprego, o ideal é buscar alternativas. É possível contratar crédito pessoal, que tem juros menores. Até o cheque especial, que também é um absurdo, tem taxas mais baixas”, explica Nayara.
Fonte: 6 Minutos