Já bastante afetada pelos efeitos do coronavírus, a economia brasileira encolheu ainda mais no segundo trimestre deste ano. No período, o PIB (Produto Interno Bruto) do país registrou queda recorde de 9,7% em comparação com o primeiro trimestre de 2020. Na comparação com o segundo trimestre de 2019, o recuo é ainda maior — de 11,4%.
Os números divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o PIB voltou ao mesmo patamar do final de 2009, auge dos impactos da crise global provocada pela onda de quebras na economia dos Estados Unidos.
Só no primeiro semestre do ano, a economia somou queda de 5,9%. Já no acumulado dos últimos 12 meses (terminados em junho de 2020), o recuo é de 2,2%. Em valores atuais, o PIB, que é soma dos bens e serviços produzidos no Brasil, chegou a R$ 1,653 trilhão.
Apesar do resultado negativo, o Ministério da Economia lembra que as projeções dos analistas de mercado vêm melhorando continuamente desde junho, otimismo que, segundo a pasta, está relacionado às políticas econômicas adotadas na pandemia, como o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600.
A redução da atividade está entre as menores em relação as principais economias. Por exemplo, a queda no 2º trimestre nos países do G7, quando comparado ao mesmo trimestre de 2019, foi de -11,9%. Algo semelhante ocorre para os países emergentes como Chile, México e Índia foram de -13,7%, -19% e -23,9%, respectivamente.
Queda histórica na indústria e serviços
A retração da economia resulta das quedas históricas de 12,3% na indústria e de 9,7% nos serviços. Somados, indústria e serviços representam 95% do PIB nacional. Já a agropecuária cresceu 0,4%, puxada, principalmente, pela produção de soja e café.
“Esses resultados referem-se ao auge do isolamento social, quando diversas atividades econômicas foram parcial ou totalmente paralisadas para enfrentamento da pandemia”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Na indústria, o recuo se deve às quedas de 17,5% nas indústrias de transformação, 5,7% na construção, 4,4% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e 1,1% nas indústrias extrativas.
“Nos serviços, a maior queda foi em outras atividades de serviços (-19,8%), que engloba serviços prestados às famílias. Também caíram transporte, armazenagem e correio (-19,3%) e comércio (-13,0%), que estão relacionados à indústria de transformação”, acrescentou a coordenadora.
Os únicos resultados positivos foram verificados em atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,8%) e nas atividades imobiliárias (0,5%).
Mercado prevê queda de 5,28% no ano
Os analistas do mercado financeiro alteraram suas projeções para o PIB em 2020: segundo Boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central, a expectativa passou para queda de 5,28%. Há quatro semanas, a estimativa era de retração de 5,66%.
Para 2021, os especialistas mantiveram a previsão de alta de 3,50%. Quatro semanas atrás, o patamar era o mesmo.
A pesquisa Focus mostrou ainda que a projeção para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB para 2020 passou de 67,00% para 66,70%. Há um mês, estava em 67,50%.
Para 2021, a expectativa foi de 69,65% para 69,48%, ante 69,83% de um mês atrás.
Governo ajusta projeção para 2021
As estimativas do mercado para o ano que vem são mais otimistas que as do governo, que reduziu sua projeção de crescimento econômico em 2021 de 3,3% para 3,2%. O cálculo faz parte do PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual), enviado ontem ao Congresso. A estimativa anterior foi apresentada ao Legislativo no PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias).
Além de esperar um crescimento menor do PIB no próximo ano, o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também reduziu a estimativa para a inflação oficial de 2021, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). A projeção passou de 3,65% para 3,24%.
Fonte: UOL