Qual a capacidade armazenativa de um pequeno baú? As respostas para esta indagação são muitas. Podem ser até incomensuráveis. Assim como o fez ser o diretor escolar Izaías Lopes, no interior cearense. Em uma caixa, com pouco mais de 40 centímetros quadrados, ele reuniu livros, cartas, poesias, doces e bombons e distribiu entre jovens. É bem verdade que estes são itens mensuráveis, mas o propósito impresso neles, não. A ideia surgiu durante a pandemia, conta Izaías.
Vendo que o distanciamento imposto pela pandemia estava afetando muitos dos 132 alunos da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Margarida Maria Barbosa de Vasconcelos, na localidade de Mundaú, área serrana do município de Uruburetama, na região Norte do Ceará, ele resolveu agir e criou o “Baú, coração escolar”. A ideia é “garantir assistência aos jovens e manter vivo o hábito da leitura”.
Para alcançar seu objetivo, há um mês, Izaiás começou a visitar as casas dos estudantes. Em cada visita, ele deixava o baú contendo várias “preciosidades”. “Vi que as crianças estavam sem apoio emocional, distante dos colegas e da sala de aula, então pensei em levar apoio em forma de frases e doces”. O afeto e atenção depositada no singelo projeto parece ter surtido efeito.
“Fiz a primeira visita e foi emocionante. Os alunos ficaram surpresos”, relata o educador.
A jovem aluna Lauriele Pinto, do 9º ano, do ensino fundamental, foi uma das assistidas pelo projeto. O recebimento do baú foi descrito por ela como “emocionante”. “Vi que não haviam esquecido de mim e quase chorei”. Depois de entregue, o baú é levado pelo próprio aluno para outro colega que resida próximo e, assim, a caixa vai passando de casa em casa duas vezes por semana. Antes do processo, ressalta o Izaías, o baú é higienizado.
A estudante Mariana Souza, do 8º ano, é quem agora está com o baú. O sentimento vivenciado coaduna com o de Lauriele. “Sabia que estava circulando [na comunidade], mas não esperava que viesse agora para mim. Estou muito grata”, disse. A mãe da jovem, Natália Souza, também mostrou gratidão pelo gesto atencioso e revelou: “quando o professor saiu minha filha chorou”.
A receptividade da ação fez com que Izaías projetasse uma expansão. “Queremos fazer outros baús e estender o projeto para os idosos que se sentem muito isolados”, adiantou Lopes. Além das cartas, livros e doces, o educador acrescentou que “alguns alunos também recebem brinquedos e outros vão receber alimentos, uma vez que as famílias carentes sofrem com a falta de comida”.
Para a professora de matemática, Luziane Ávila, o projeto é “um meio simples de motivar os alunos” e manter viva “a relação socioeducativa”. Em uma das cartinhas que enviou junto ao baú, a docente escreveu: “sempre estarei aqui com um ouvido amigo e um abraço sincero”. Agora, o desejo de Izaías é que outras escolas possam replicar a experiência.
“É uma ideia que pode ser expandida porque dá bons resultados motivadores para as crianças e adolescentes”.
Por André Costa
Fonte: Diário do Nordeste