A reportagem anterior, sobre a farsa descoberta do suposto irmão de Carlos da Silva, repercutiu no País. Chegou a Santarém, no Pará. Um homem reconheceu o menino da foto, e antes que sua esposa terminasse de ler a matéria ao celular, gritou “é meu sobrinho”, e desmaiou. Passado o susto, ligou para a irmã Josiane, em Vargem Grande, município da Paraíba.
— Acharam, minha irmã! Acharam seu filho. O Carlinhos. É ele, minha irmã. A Patrícia viu no celular.
A mulher desabou em choro, não sabia mais o que falar. Patrícia, esposa do irmão, leu para a senhora analfabeta a história do motorista que na infância fugiu de casa, entrou em um ônibus, dormiu, acordou em outra cidade até parar em Fortaleza e nunca mais soube voltar. Já adulto, 27 anos depois, espalhou com a ajuda de um amigo panfletos com “procuro minha mãe”. Ela conheceu como ele foi enganado por alguém que fingiu ser seu irmão. “Como alguém faz uma maldade dessas?”, pensou.
Mas foi a foto do menino que lhe deu a certeza. “É meu filho”, disse Josiane. A essa altura Dielma, uma das filhas, já está acudindo a mãe, conhecendo toda a história. Patrícia, a tia que leu a matéria, está tentando encontrar o repórter que a escreveu, até localizar por e-mail e mandar mensagens de WhatsApp do Diário do Nordeste.
Na noite de ontem, antes que Carlos soubesse da novidade, conversamos com tios, irmãs e a mãe de um menino que desapareceu aos oito anos em Santa Rita, município da Paraíba. Era agredido e torturado pelo pai, chegando a ficar amarrado. Fugiu de casa, foi visto no dia seguinte perambulando pelas ruas, depois nunca mais. Os três irmãos também eram pequenos quando houve o sumiço do “Carlinhos”. Mas algumas poucas fotos foram guardadas, para que nunca se esquecessem do rosto do irmão.
E foi justamente as que não foram desbotadas pelo tempo que, enviadas para a reportagem, mostraram ser o mesmo rosto da criança que na metade dos anos 1990 foi resgatada e registrada pelos serviços de acolhimentos de menores abandonados em Fortaleza. Depois, viveu até a juventude na Associação O Pequeno Nazareno, em Maranguape, que acolhe crianças e adolescentes institucionalizados.
Cautelosos, após serem enganados por três dias por um suposto irmão, Carlos e seu pai adotivo, Bernardo Rosemeyer, souberam da nova história, mas desfizeram dúvidas após receberem a foto do menino sorridente, de camisa branca estampada com florais e um chapéu amarelo batendo palmas em festa de aniversário. “É ele, é ele mesmo. Meu filho encontrou a mãe”, dizia Bernardo aos gritos dentro de casa.
A foto que Dielma guarda do irmão perdido para não esquecer o rosto virou festa ontem à noite na casa de Carlos, em Maranguape, Região Metropolitana de Fortaleza, e Santa Rita, Região Metropolitana de João Pessoa (PB).
“Não temos dúvida”, comemorou o pai. Mas ainda que tivessem, a família paraibana se dispôs a fazer exame de DNA.
“Aqui em casa está uma alegria só, minha mãe, meus irmãos. A gente tem certeza que é ele. Nos nossos corações, a gente já sabe. Mas se eles quiserem a gente faz um exame de DNA. Só que aqui é 500 reais, mas a gente faz uma vaquinha. A gente não tem condição de ir até ele. Mas quando ele quiser vir, estamos de braços abertos a qualquer hora, a qualquer minuto. A gente não vê a hora dele chegar, a gente abraçar”, explicou Dielma da Silva, irmã de Carlos.
Para Josiane da Silva, a mãe, foi presente de Natal antecipado. Ou de aniversário, pois em janeiro completa 50 anos, apesar do rosto aparentar muito mais. Quando o filho sumiu, Jeane, como era conhecida, foi viver nas ruas de Santa Rita, após ser demitida do trabalho e o então esposo agressor ter tomado os filhos. “Primeiro, ele tomou os dois meninos, o Carlos e o Diego. E eu fiquei com Dielma e Crislene. Depois ele veio tomar as meninas, que se eu não desse me matava. Depois eu consegui eles de volta. E eu dizia que antes de morrer eu encontrava meu filho. E Deus me deu essa alegria”, comemorou Josiane da Silva, mãe de Carlos, que agora se pode dizer o menino que encontrou a mãe.
Por Melquíades Júnior
Fonte: Diário do Nordeste