Seis em cada dez mortos e internados em decorrência da Covid-19 no Brasil entre março e junho deste ano não tomaram a terceira dose da vacina. Os números também apontam que em três de cada dez óbitos a dose de reforço foi tomada ainda no ano passado, indicando a necessidade de uma quarta dose em 2022.
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A maioria das vítimas tem comorbidades e é idosa, revela a Info Tracker, plataforma de monitoramento da pandemia ligada à USP (Universidade de São Paulo) e à Unesp (Universidade Estadual Paulista), que compilou os dados a pedido do UOL.
Embora a vacinação contra o novo coronavírus tenha evitado milhões de óbitos desde o ano passado, muita gente precisou procurar um hospital após o aumento de casos nos últimos meses.
Entre março e 20 de junho —última data atualizada pelo governo federal—, 30 mil pessoas precisaram ser internadas por causa da infecção pelo novo coronavírus.
Desse total, 19,5 mil pessoas, ou 65% dos casos, não haviam tomado a terceira dose (também chamada de primeira dose de reforço) contra a Covid.
Outros 34,7% foram internados mesmo após a terceira dose, mas a maioria das doses de reforço havia sido aplicada ainda em 2021, o que significa que a proteção contra o vírus —que cai ao longo dos meses— já era menor. Ou seja, 90,7% dos internados não tinham a dose de reforço ou a tomaram no ano passado.
Entre todos os internados, apenas 9,3% (2.278) tomaram a terceira dose em 2022.
Entre os óbitos, 67% dos 7.547 mortos pela Covid entre março e junho não haviam tomado a terceira dose, índice que chegou a 75% em abril.
Cerca de 32% dos que morreram haviam sido imunizados com a terceira dose, sendo que deste grupo apenas 5,9% tomaram a terceira dose este ano. Ou seja, 94% dos óbitos não tinham a dose de reforço ou a tomaram no ano passado.”
“É por conta do decaimento da proteção que os governos estão implementando a quarta dose, que é para reatualizar o esquema vacinal para readquirir a proteção máxima conferida pelas primeiras doses da vacina e por meio natural, pela infecção”, diz Wallace Casaca, um dos coordenadores da Info Tracker.
Segundo o Consórcio de Veículos de Imprensa, 94,8 milhões de brasileiros receberam a terceira dose, apenas 47% da população com 5 anos ou mais, enquanto esse nível chega a 83,6% entre os que tomaram as duas primeiras.
Qual o perfil das vítimas?
De acordo com os dados do levantamento, 68% dos que foram internados entre março e junho tinham alguma comorbidade, ou seja, a presença de duas ou mais doenças. Entre os óbitos, esse percentual foi de 80%.
A maioria de quem acabou internado ou morreu de Covid é idosa: 64% e 82%, respectivamente.
Médica no Hospital Japonês Santa Cruz, Aline Mary Akita confirmou a reportagem que as internações decorrentes da Covid cresceram nos últimos meses e que a doença “costuma atingir mais os idosos, que se internam principalmente com infecção secundária [comorbidade]”.
No Hospital Sírio-Libanês, as internações aumentaram principalmente a partir de maio, com média de idade “agora em torno de 65 anos”, afirmou a coordenadora de práticas médicas da instituição, Talia Falcão Dalçóquio.
Segundo o SindHop (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios de São Paulo), 51% dos 95 hospitais privados que participaram de uma pesquisa em meados de junho afirmam que os pacientes internados em leitos clínicos têm entre 51 e 80 anos, índice que cai para 45% em leitos de UTI.
Casaca, da Info Tracker, ressalta que “esses idosos tomaram a terceira dose em setembro, outubro”.
“O efeito da vacina já passou, e é por isso que esse percentual é maior. Isso prova a importância de revacinar.”
Wallace Casaca, professor da Unesp
Ele afirma que o número de pessoas que foram parar no hospital ou morreram de Covid após receber a terceira dose é muito menor do que as milhões de pessoas que receberam o reforço vacinal.
“Não tomei a terceira dose e peguei Covid”
Akita, do Santa Cruz, diz que entre os mais idosos “a chance da doença evoluir para óbito é maior, mas diminui com a vacina e entre os jovens”.
É o que aconteceu ao servidor público Leonardo Vieira, 36, que ainda não tomou a dose de reforço depois de se vacinar pela segunda vez em agosto.
“Acabei doente no começo de janeiro de 2022”, diz ele, um mês depois de o governo federal reduzir para quatro meses o intervalo entre a segunda dose e o reforço.
“Tive sintomas semelhantes aos da gripe: cansaço e dores nas pernas”, conta. “Depois da Covid, estou com desconforto gastrointestinal persistente e tive um episódio de dor intensa nas costas que, por dias, me deixou com dificuldade para andar.”
Ele afirma que acabou deixando de tomar o reforço “por descuido de não separar um tempo para ir num posto de saúde e tomar a dose”. “A correria do dia a dia faz a gente deixar coisas importantes como essa de lado”. Leonardo pretende agora tomar a terceira dose antes do fim de junho.
“Recomendo! Eu talvez tenha escapado da forma mais grave da Covid graças à vacina.”
Leonardo Vieira, servidor público
Já o pós-doutorando em Biologia Léo Correia da Rocha Filho, 40, não recebeu a terceira dose em maio, após quatro meses da segunda, porque em Uberlândia (MG), onde mora, é preciso agendar a aplicação da vacina pela internet.
“Tínhamos que esperar sermos chamados para a primeira e segunda dose. Achei que para a terceira era assim também, mas eles não chamam. A pessoa que tem que procurar os postos de vacinação”, diz.
Ainda em maio, Léo acabou infectado. Ele teve coriza, congestão nasal, dor no corpo, febre, indisposição e falta de apetite, além de uma sequela: “Fiquei com uma tosse seca que ainda persiste”.
“Recomendo a todos a se vacinarem, pois vacinas salvam vidas, é ciência, segue protocolos experimentais e criteriosos rígidos”, afirma. “Seria ideal que todos os brasileiros se vacinassem e vacinassem também seus filhos com todas as doses que forem prescritas.”
Dalçóquio, do Sírio, afirma que “sem dúvida, a vacina reduz mortes e a forma grave da doença”. “Recentemente, um estudo estimou em 20 milhões as mortes evitadas pela vacina contra Covid no mundo”, diz.
“Mas vivemos uma nova onda, com algum grau de subnotificação”, afirma. “Com um número gigante de infectados, uma porcentagem vai precisar ser internada.”
Akida acredita que o aumento das infecções se dá “justamente após o relaxamento das medidas de prevenção: uso de máscaras, higienização e aglomeração”.
“Isso acaba favorecendo a disseminação de vírus, principalmente no inverno, quando as pessoas ficam mais perto umas das outras”, diz.
Infecções continuam em alta
O número de exames de Covid realizados em laboratórios subiu na semana encerrada em 24 de junho, atingindo 177 mil testes contra 162 mil na semana anterior.
“A taxa de positividade também continua subindo e chegou a 44,65%”, diz em nota a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnostica), que representa 65% dos laboratórios de diagnóstico do país.
“Foram 79 mil positivos na semana, um aumento de 13% em relação ao número da semana encerrada no dia 17 de junho.”
Na terça-feira (28), a média móvel de mortes causadas pelo coronavírus voltou a ficar acima de 200 após quase três meses. O indicador ficou em 209, variação de 40% em relação a 14 dias atrás, indicando tendência de alta. A média móvel de casos chegou a 54,6 mil, alta de 30%. Quando esse índice ultrapassa a marca de 15%, a tendência é de alta.
Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou que a quarta dose da vacina contra a Covid-19 já pode ser aplicada em pessoas acima dos 40 anos.
A extensão da faixa etária que vai passar a receber a segunda dose do reforço vale para aqueles que iniciaram o esquema vacinal com os imunizantes da AstraZeneca, Pfizer ou CoronaVac.
Fonte: UOL