A Covid-19 segue contaminando e matando milhares de pessoas mundo afora. Pela gravidade da pandemia, o cenário deve ser de cuidado permanente. No Ceará, já foram 304 mil casos confirmados e 9,7 mil mortes. Em meio às perdas, cientistas correm para a produzir vacinas. Até o momento, quatro potenciais imunizantes contra a Covid-19 estão em teste no Brasil. A expectativa é alta. Mas, apesar das projeções, ainda não há data oficial de quando os brasileiros serão, de fato, imunizados.
A pandemia tem outro diferencial no Brasil. Em geral, a aquisição de vacinas e a coordenação de campanhas ficam sob a responsabilidade do Ministério da Saúde. Mas, na corrida para assegurar imunização, estados, como São Paulo, têm buscado alternativas próprias. No Ceará, o secretário da Saúde, Dr. Cabeto, já informou que o Estado deve ser abastecido, quando aprovado, pelo composto da Universidade de Oxford e da empresa AstraZeneca, no Reino Unido. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pode replicar a substância no Brasil. A expectativa é que a vacinação no Estado comece até julho de 2021. A vacina, que está na fase 3 de testes, etapa que precede a aplicação na população, é a aposta do Governo Federal. Ontem, o governador Camilo Santana anunciou que segue em negociação com o Governo de São Paulo para aquisição de doses da vacina CoronaVac.
Na ausência de datas, uma das únicas certezas é que, o imunizante, quando disponível, seguirá os tradicionais ritos aplicados a todas as campanhas de vacinação no País. Para chegar à população dos 26 Estados e do Distrito Federal, a vacina contra a Covid-19 passará por longo processo, relata em entrevista ao SVM, a coordenadora de Imunização da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), Carmem Osterno. Ela traça o caminho que a vacina fará até os postos de saúde, nos 184 municípios, e ressalta que, embora o momento seja atípico devido à necessidade de rapidez, os procedimentos seguem rigorosos. Segurança e eficácia são irrevogáveis.
Como acontece a inclusão de uma vacina, como essa contra a Covid-19, no calendário nacional de vacinação no Brasil?
A decisão se uma vacina entra ou não no sistema nacional de vacinação é do Ministério da Saúde. Mais especificamente na Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (CGPNI). Existe um comitê técnico assessor, formado, dentre outros, por imunologistas, pediatras e infectologistas. Esse grupo discute as novas vacinas em desenvolvimento pelos laboratórios, o impacto epidemiológico da doença, e também da imunização, caso implantada.
O que ocorre depois dessa discussão?
Tomada a decisão, a discussão segue para a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, na qual será viabilizada a possibilidade de aquisição. A Secretaria começa a pesquisar: quais os laboratórios produzem a vacina, como é a produção e qual a possibilidade de o governo brasileiro adquirir com transferência de tecnologia.
A transferência de tecnologia é a possibilidade de replicar a produção?
Isso. É a garantia que o País terá a continuidade da vacina, pois a produção pode ser feita também por instituições nacionais, como a Fiocruz. Esse critério é discutido com o laboratório. Se ele aceita, inicialmente ele fornece uma quantidade de vacinas. O primeiro ano, por exemplo. Junto com as vacinas produzidas para a aplicação, vem o Insumo Farmacêutico Ativo para aplicação, o IFA, que, nesse caso, um dos laboratórios brasileiros passa a produzir no Brasil. Isso é o que é mais praticado pelo governo brasileiro desde 1973. Então, o Ministério da Saúde chama os laboratórios brasileiros e vê qual deles tem condição de ter uma plataforma de produção dessa vacina. Ou se o Ministério vai injetar recursos para aquela instituição se organizar e poder produzir a vacina.
Quais os laboratórios no Brasil que produzem vacinas em maior quantidade?
Fiocruz, através do Instituto Bio-Manguinhos (Rio de Janeiro) e o Instituto Butantan (São Paulo), são os laboratórios que o Ministério da Saúde mais procura.
No caso da vacina contra a Covid-19, quando ela chegar ao Brasil, quais procedimentos serão adotados? Ela e todas as demais vacinas chegam por via aérea?
Antes de a vacina chegar ao território nacional, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acompanha todos os passos. Do momento em que o laboratório fez o projeto da produção da vacina, até a conclusão dos estudos de fase 3. Tudo deve ser documentado. Se tudo der certo e o grupo técnico da Anvisa, que, dentre outros, analisa a documentação sobre eficácia e segurança da vacina, aprovar, o país pode adquirir. Toda vacina que chega do exterior vem por via aérea. Assim como todo imunizante que sai da Central Nacional de Distribuição do Ministério para os estados.
Quando chega nessa Central, o que acontece?
Antes de fazer a distribuição para os estados, são retiradas amostras dos lotes e encaminhadas para o Instituto Nacional de Controle de Qualidade (INCQS) que as analisa. Se aprovadas, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) – que é do Governo Federal – começa a fazer a distribuição para os estados.
Quando e como se define quantas doses serão enviadas para cada um dos 26 estados e Distrito Federal?
Antes de a vacina chegar ao Brasil, já há uma discussão da esfera federal com os coordenadores estaduais de saúde. Nessa discussão é repassada aos estados a finalidade da vacina, informações sobre a população mais acometida, a faixa etária, e as prioridades de vacinação. Uma vez decidido quais são os grupos de maior impacto, já se faz o estudo da população do Brasil e o cálculo com base nas estimativas do IBGE. No caso das crianças, leva-se em conta os dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos. Depois é feito um cálculo populacional mais um acréscimo de 25%.
Da Central Nacional, os estados sabem exatamente quantas doses vão receber?
Sim. Nessa etapa, tudo já está programado. A elaboração de uma campanha ou a introdução de uma nova vacina é feita com 6 meses de antecedência.
Quando chegam ao Ceará, as vacinas ficam também em uma central?
Sim. Há uma Central estadual que distribui para as 5 superintendências de Saúde (Fortaleza, Cariri, Sobral, Sertão Central e Litoral Leste) em caminhões refrigerados para manter a temperatura de 2°C a 8°C graus. Para equilibrar, o importante é que esses caminhões estejam entre 2º e 4º graus. Cada superintendência tem 5 caminhões. Das superintendências, esses caminhões vão para prédios de 17 Áreas Descentralizadas da Saúde (ADS) espalhadas pelo Estado inteiro. Lá, cada município manda buscar e leva para a secretaria municipal onde tem central de rede de frios.
Esse transporte também é feito em caminhões?
Os municípios, como são distâncias pequenas, levam em isopor e caixas térmicas com termômetros acoplados com a temperatura, com gelo reciclável, também entre 2°C e 4°C graus. Chegando no município, as vacinas vão para os refrigeradores da rede municipal. De lá, são fornecidas semanalmente para a sala de vacinas nos postos de saúde. Essa periodicidade é para evitar que o imunizante se estrague, por exemplo, se houver uma queda de energia na sala de vacinação.
Quando o Ministério fornece a vacina, ele também manda seringas e agulhas ou cada estado/cidade tem que comprar?
Os estados que adquirem seringas e agulhas. É uma rotina. Anualmente, a gente faz a aquisição desse material para aquele ano e repassa aos municípios. Compramos exatamente para todo o Estado. O Ministério também garante a capacitação e nesse caso da Covid distribuiu refrigeradores. Fez um acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde Municipais, veio recurso para comprar refrigeradores próprios para vacina.
Por Thatiany Nascimento
Fonte: Diário do Nordeste