Uma das principais dúvidas que surgiram em torno da vacinação contra a Covid-19 nos últimos meses é se pacientes oncológicos devem tomar o imunizante ou não. De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), pessoas com câncer devem ser vacinadas, pois o risco de não estar imune é significativamente maior nesses casos.
O plano de vacinação do Governo do Ceará, inclusive, prevê que pacientes oncológicos com menos de 60 anos podem começar a receber a vacina a partir da fase três da campanha.
A SBOC relata ainda que estudos mostraram maior gravidade na infecção pelo coronavírus nesses pacientes, com mortalidade variável de 6% a 61%, muito acima do que é encontrado na população em geral, que varia de 2% a 3%.
“Esse risco é ainda maior em pacientes com câncer de pulmão, neoplasias hematológicas ou cânceres metastáticos”, comenta o Dr. Adriano Saboia, médico oncologista do Núcleo de Oncologia e Hematologia do Ceará (NOHC).
Saboia recomenda que os pacientes com câncer tenham uma atenção maior aos protocolos de saúde, sem deixar de realizar os seus tratamentos normalmente.
“Os cuidados de prevenção devem ser seguidos à risca não só pelos pacientes oncológicos, como também pelos seus familiares e pelas pessoas do seu convívio. É de fundamental importância seguir o distanciamento social, além do uso de máscaras e de álcool em gel”, detalha o médico.
‘A angústia é enorme’
Para Marcos Pimentel, pai de Pietra, que tem quatro anos e foi diagnosticada com Leucemia Linfóide Aguda (LLA) em fevereiro do ano passado, a angústia é enorme.
“O momento, não só para a gente, mas para todos, está muito difícil. É uma preocupação grande para não pegar essa doença. Eu trabalho como motorista de transporte público em Fortaleza e a gente não parou um minuto sequer nessa pandemia. Então, assim, eu me cuido demais. Quando entro em casa, vou direto para o banheiro tomar banho e colocar as roupas na máquina de lavar antes de ver a Pietra e a minha esposa”.
“A Pietra passou muito tempo internada em 2020 e, hoje, ela tá na chamada fase de manutenção, que dura um ano e seis meses. Toda semana eu levo ela ao hospital para tomar uma injeção e, dentro desse período, ela vai tomar ainda seis punções na lombar para avaliar o líquido da medula espinhal”, detalha Marcos.
Além disso, Pietra começou a receber muitos dos atendimentos em casa, com fisioterapeutas, psicólogos, pediatras e enfermeiros, o que a tem ajudado bastante em sua recuperação.
Para a professora Luciana Carvalho, 32, diagnosticada com câncer no colo do útero, “ter câncer é algo que apavora por si só, você fica sem chão, sem saber o que vai acontecer, ainda mais nesse momento de pandemia que a gente sabe que o vírus também pode matar. Eu vejo pessoas que não colaboram, não usam máscara na rua e, quando eu tenho que sair para o hospital, vou com muito medo”.
Mesmo, atualmente, fazendo tratamentos de radioterapia, quimioterapia e HDR, Luciana ainda não conseguiu apoio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e tem enfrentado dificuldades financeiras para se manter.
“Eu tenho bastante custo com alimentação, transporte e medicamentos, está sendo muito difícil, então lancei uma campanha de arrecadação nas redes sociais para aqueles que puderem me ajudar nesse momento”, conta a professora.
Campanha de vacinação
Desde a última segunda-feira (22), a segunda fase da campanha de vacinação contra o coronavírus foi iniciada de forma gradual no Estado, atendendo à população idosa com menos de 75 anos. Atualmente, mais de 180 mil pessoas já receberam a primeira dose do imunizante na Capital e outras 93 mil receberam as duas doses no organismo.
Para a auxiliar administrativa que enfrenta o câncer de mama desde 2016, Daniele Victor, 27, a possibilidade em torno da vacinação a enche de esperança. “Eu perdi pessoas muito próximas e muito queridas para o vírus nessa segunda onda e, se eu já tinha cuidado antes, agora nem se fala. O meu coração está ansioso e, ao mesmo tempo, muito feliz por ver essa proximidade de imunização”.
Fonte: Diário do Nordeste