Em alguns casos de Covid-19, médicos têm observado problemas neurológicos: há pacientes que sofrem com dores de cabeça e convulsões ou que chegam a ter um AVC. Por isso, um novo estudo publicado no Seizure: European Journal of Epilepsy investigou a forma como a Covid-19 pode afetar o cérebro.
Cientistas da Faculdade de Medicina Baylor e da Universidade de Pittsburgh, ambas nos Estados Unidos, revisaram as descobertas de mais de 80 estudos. Eles focaram em eletroencefalogramas (EEGs), um tipo de exame que avalia a atividade elétrica do cérebro. Pacientes podem passar por essas avaliações quando têm reações lentas a estímulos, apresentam problemas de fala e confusão mental ou não acordam depois de serem sedados, por exemplo.
Ao analisarem os estudos, cientistas perceberam que cerca de um terço dos EEGs indicava uma neuroimagem anormal no lobo frontal do cérebro. “Encontramos mais de 600 pacientes afetados dessa forma. Antes, quando víamos isso em pequenos grupos, não tínhamos certeza se era apenas uma coincidência. Mas agora podemos dizer com segurança que há uma conexão”, disse o Dr. Zulfi Haneef, professor assistente de neurologia e neurofisiologia da Faculdade de Medicina Baylor, em comunicado.
O pesquisador explicou que algumas das anormalidades nos EEGs de pacientes com Covid-19 podem ser danos irreparáveis, e apontou: “Sabemos que o ponto de entrada mais provável para o vírus é o nariz, então parece haver uma conexão entre a parte do cérebro que está localizada diretamente ao lado desse ponto de entrada”.
No estudo, a idade média das pessoas afetadas pelo novo coronavírus foi de 61 anos, e a maioria dos pacientes era composta por homens (dois terços). Haneef observou: “Isso sugere que o envolvimento do cérebro na Covid-19 pode ser mais comum em homens mais velhos. Mais pesquisas são necessárias, mas essas descobertas nos mostram que essas são áreas nas quais devemos nos concentrar à medida que avançamos”.
É possível que os resultados anormais dos casos analisados não estejam sempre diretamente relacionados com o Sars-CoV-2. Questões como a entrada de oxigênio no organismo, problemas cardíacos decorrentes da Covid-19 e outros efeitos colaterais também podem ter influência nos dados dos EEGs. Por isso, Haneef defende que mais pacientes passem por exames que investigam as atividades cerebrais.
“Muitas pessoas pensam que pegarão a doença, ficarão bem e tudo voltará ao normal. Mas estas descobertas nos dizem que pode haver problemas de longo prazo, que é algo que suspeitávamos e de que temos encontrado mais evidências agora”, disse o pesquisador.
Fonte: Galileu