Até o momento, no Brasil, só há vacina contra a Covid disponível para as pessoas incluídas na primeira etapa dos grupos prioritários e, ainda assim, a quantidade é insuficiente. No Ceará, em 15 dias – a contar de 20 de janeiro quando oficialmente todas as cidades estavam com o imunizante – 137.156 pessoas foram vacinadas, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), ou seja, 61% das doses foram aplicadas, o que representa uma média de 9,1 mil novas pessoas vacinadas por dia.
Essa é uma campanha atípica, e a baixa quantidade de vacinas afeta o ritmo de imunização. Até agora, nos 184 municípios, foram distribuídas 223.450 doses para vacinar trabalhadores da saúde (prioridade para os da linha de frente contra a Covid), indígenas, idosos e pessoas com deficiência institucionalizados, e idosos com 75 anos ou mais.
No Ceará, a considerar a velocidade de imunização experimentada nesses 15 dias, nas 184 cidades, e a atual disponibilidade de imunizantes, o cálculo é de que seriam necessários 344 dias para garantir a aplicação da primeira dose da vacina apenas nas pessoas do grupo prioritário. Ou seja, somente no dia 2 de dezembro de 2021 é que a vacinação dos 2.894.433 inclusos nos grupos prioritários seria finalizada.
A prioridade, hoje, é imunizar as populações mais expostas e/ou as mais vulneráveis à Covid-19, seguindo uma ordem estabelecida pelo Ministério da Saúde, no Plano Nacional de Imunização. No Ceará, além do público desta primeira etapa, dentre as 2,8 milhões de pessoas dos grupos prioritários, estão: idosos entre 60 e 74 anos, pessoas com comorbidades, quilombolas, pessoas em situação de rua, presos, funcionários do sistema prisional, trabalhadores da educação (ensino básico e superior), das forças de segurança e salvamento, das forças armadas, de transportes coletivos rodoviário, metroviário e ferroviário, do transporte aéreo e aquaviário, caminhoneiros e trabalhadores portuários e industriais.
No caso da pandemia de Covid, no atual contexto, não se sabe ainda quando os grupos populacionais não inclusos na prioridade serão imunizados. Contudo, embora a vacinação coletiva seja o grande fator de proteção, isso não significa que, na campanha, 100% das pessoas de um território irão ser vacinadas. No atual momento, por exemplo, menores de 18 anos e grávidas não podem receber a imunização no Brasil, pois os imunizantes utilizados não foram testados nessa população.
Mas, feito um cálculo hipotético, com o atual ritmo de aplicação, no Ceará, considerando uma população total de 9.187.103 pessoas, conforme estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utilizadas pelo Tribunal de Contas da União como referência para 2020, o Estado levaria 1.139 dias ou 2 anos e 9 meses para imunizar todos os habitantes. Nesse processo, com base na média atual, só em dezembro de 2023 todos os cearenses teriam recebidos, ao menos, a primeira dose da vacina contra a Covid.
Capacidade
O processo de vacinação no Brasil ocorre por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI) que é reconhecidamente um dos mais bem-sucedidos do mundo. Nele, o Governo Federal coordena as ações e as equipes municipais conduzem a vacinação no Sistema Único de Saúde (SUS) de forma direta nas localidades brasileiras. Mas, na pandemia de Covid, com a situação distinta de outras campanhas, dois elementos chamam a atenção: a escassez de vacina e o ritmo de aplicação nos municípios.
No Ceará, diante da lentidão do Governo Federal na negociação de vacinas, a gestão estadual tem tentado por meios próprios adquirir imunizantes. O Governo já reforçou que busca negociar com o Instituto Butantan, produtor da vacina Coronavac, a compra de mais imunizantes. Para o Estado, até o momento, foram enviados pelo Governo Federal três lotes de vacinas, sendo dois da Coronavac e um da Astrazeneca.
Das 184 cidades, 27 até as 12h de quarta-feira (3), já haviam aplicado 100 das doses recebidas. São elas: Alcântaras, Alto Santo, Ararendá, Bela Cruz, Capistrano, Caririaçu, Cedro, Choró, Chorozinho, Crateús, Cruz, Fortim, Granja, Granjeiro, Guaramiranga, Ibicuitinga, Independência, Ipu, Ipueiras, Iracema, Itaiçaba, Marco, Mucambo, Nova Russas, Porteiras, Uruburetama e Uruoca.
A expectativa para os próximos lotes é que sejam encaminhadas ao Ceará doses da Coronavac, imunizante produzido pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório Sinovac. De acordo com o secretário da Saúde do Estado, Carlos Roberto Martins, o Doutor Cabeto, é possível que a data para chegada de mais vacinas seja estimada até o início da próxima semana.
“Está havendo uma negociação do Instituto Butantan com Ministério da Saúde, e, depois disso, a gente vai ter uma ideia adequada de quantas doses nós vamos receber no Estado. Tem sido percentual aos grupos de risco, então só depois disso que nós vamos ter uma ideia mais precisa”, disse o titular da Sesa na última terça-feira (2).
Dr. Cabeto reforça que todas as vacinas adquiridas no Brasil passam a integrar o Plano Nacional de Imunização. A União centraliza essas aquisições, e, por isso, ainda não há previsão de obtenção dos imunizantes de forma independente, por parte do Estado.
“Independentemente disso, o Ceará tem procurado laboratórios em outros países pra fazer parcerias tecnológicas, fazendo com que essa vacinação aconteça de forma mais ampla no Estado brasileiro. O que nós temos de mais garantido é o que consta no Plano Nacional de Imunização, que atualmente é AstraZeneca e CoronaVac”, reitera.
Escassez mundial
O Ceará, da mesma forma que o Brasil, como um todo, convive com a ‘escassez mundial’ de vacinas, conforme define o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri. Segundo ele, salvo exceções como Israel, nenhum país tem a quantidade de vacinas que gostaria de ter, ou que tem capacidade para aplicar em um curto espaço de tempo. E é essa escassez que dita o ritmo lento de aplicações nos municípios.
“As vacinas estão chegando a conta-gotas, em quantidade fragmentada, pequena, e que impede, por exemplo, a abertura de salas de vacina para a população nos postos de saúde. Nesse primeiro momento, estamos vacinando os grupos mais vulneráveis e dentro de instituições, porque não tem vacina pra todos. O ritmo é lento por demanda controlada de vacinas e populações específicas. Não se tem mais vacina porque o mundo não tem mais vacina”, afirma Kfouri.
O diretor pondera que embora a vacina previna formas graves da doença de forma eficaz, ela não faz com que a Covid-19 desapareça. “Essas vacinas ainda não demonstraram capacidade de prevenção de transmissão. O indivíduo pode não morrer e nem ficar doente, mas ele pode continuar sendo um vetor e transmitindo a doença. Então é importante continuar usando a máscara e tomando os cuidados até que tenhamos uma situação de vacinação de boa parte da população”, finaliza.
Por Thatiany Nascimento/Bárbara Câmara
Fonte: Diário do Nordeste