O tempo de permanência de pacientes com Covid-19 em leitos hospitalares é maior na segunda onda da pandemia do que na primeira. Em 12 de maio de 2020, no mês do pico da primeira onda, infectados passavam 7,1 dias internados, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) à época. Agora, conforme a edição mais recente do relatório, publicada na última quinta-feira (11), essa média subiu para 12,3 dias, o que representa um aumento de 73%.
Para Lisandra Serra Damasceno, infectologista do Hospital São José, a internação de pacientes cada vez mais jovens, “com reserva orgânica para combater” a doença melhor do que os idosos, que costumam chegar ao hospital com muitos órgãos já comprometidos pela infecção, é um dos fatores que contribuem para o prolongamento da permanência nos leitos.
“Outro fator é que a gente passou a entender melhor como a doença funciona. Os avanços da ciência mostraram como a gente pode estar melhorando os parâmetros de ventilação e diminuindo a inflamação desse doente. A gente conseguiu avançar no manejo”, acredita ela.
Apesar de ainda não haver estudo consolidado a respeito, a médica não descarta a possibilidade de interferência da nova variante do vírus, que já se sabe ser mais transmissível.
“A gente tem observado que doentes permanecem não só mais tempo internados, mas chegam para internamento numa fase um pouco mais avançada em relação aos pacientes da primeira onda, que chegavam no 7º, 10º dia. Hoje, a gente recebe pacientes no 14º, 16º dia da doença. Então, será que essa variante não tem um tempo prolongado, também, dentro do organismo? É uma incógnita, uma hipótese que tem que ser respondida”, pontua Lisandra.
O emergencista Khalil Feitosa acredita, por sua vez, que a adoção de procedimentos não invasivos, no sentido de retardar ou até mesmo de anular a necessidade de intubação, também estende o tempo de ocupação de leitos, principalmente, de enfermaria. “Isso é bom por um lado porque tem diminuído a taxa de intubação braquial consideravelmente. A gente quer, claro, diminuir o tempo de permanência, mas também com taxa de mortalidade menor”, diz.
Mais tempo entre surgimento de sintomas e óbitos
Segundo os boletins da Sesa analisados pela reportagem, relacionando o dia 12 de maio de 2020 ao último dia 11 de fevereiro, o tempo médio entre o início dos sintomas da Covid-19 e o óbito em hospitais subiu de 11,8 dias na primeira onda para 18,5 dias agora, o que significa que os pacientes, desta vez, estão resistindo por mais tempo à doença.
Os médicos, contudo, fazem alertas. Apesar de a rede de saúde estar sobrecarregada, a orientação de buscar assistência hospitalar o mais cedo possível ainda é a recomendada. “Se sentir uma tosse, uma febre mais prolongada, é fundamental”, diz Lisandra, para evitar chegar à unidade de saúde num estágio muito avançado da doença: ou sem respirar adequadamente ou com a saturação de oxigênio muito baixa.
Devido ao isolamento social e à permanência das pessoas em casa, o emergencista Khalil chama atenção ainda para a reação do corpo aos “médios esforços”. “Provavelmente apareceriam sintomas de falta de ar quando a pessoa começasse a fazer esses médios esforços [que faria com mais frequência fora de casa]. Com o isolamento, as pessoas praticamente não fazem e acabam não percebendo a tempo [a respiração prejudicada]”, alerta.
Menos rotatividade
A consequência mais direta do aumento do tempo de permanência nos hospitais, segundo a infectologista Lisandra, é a baixa rotatividade dos leitos, o que impacta numa espera maior por vagas. “O impacto é em termos de saúde pública”, destaca a infectologista.
Isso porque, quanto mais pessoas adoecerem, proporcionalmente, mais pessoas vão desenvolver quadros graves e demandar ventilação mecânica e outras intervenções em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). “Pacientes passando mais tempo vão fazer com que a gente não consiga dar assistência para toda a demanda, que vem aumentando exponencialmente. Fica muito difícil ofertar leito para todos”, assume a médica, comentando que, nas últimas duas semanas, a procura pela emergência do São José “aumentou demais”.
Por Luana Severo
Fonte: Diário do Nordeste