Vinte e quatro estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos públicos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para pacientes de Covid-19 igual ou superior a 80%, segundo levantamento feito pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Destes, 15 têm taxas iguais ou superiores a 90%. Para os pesquisadores, trata-se do “maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil”.
A situação mais preocupante é a do Rio Grande do Sul, o único a registrar 100% de ocupação dos leitos de UTI. Hoje, o estado também bateu seu recorde de mortes causadas pela Covid-19 em um dia, com 502 novos óbitos confirmados de ontem para hoje, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde.
Logo atrás estão Santa Catarina, com 99% das UTIs públicas ocupadas, e Rondônia (98%). A situação só não é considerada “crítica” no Rio de Janeiro e em Roraima, que têm taxas de ocupação de leitos de 79% e 73%, respectivamente.
Boletim extraordinário do Observatório #Covid19 @fiocruz aponta maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil https://t.co/nGv6JnARc5 pic.twitter.com/8gftnh6RRE
— Agência Fiocruz (@agencia_fiocruz) March 17, 2021
A situação é semelhante nas capitais: 25 das 27 estão com ocupação de UTIs públicas igual ou superior a 80%; em 19 delas, a taxa está acima de 90%. As porcentagens mais altas são as de Porto Alegre (RS), com 103%; Porto Velho (RO), 100%; Rio Branco (AC), 100%; Cuiabá (MT), 100%; e Palmas (TO), Teresina (PI), Curitiba (PR) e Florianópolis (SC), todas com 98%
Os dados são das secretarias estaduais e municipais de Saúde e foram divulgados em edição extraordinária do Boletim do Observatório Covid-19. O mapeamento, segundo a Fiocruz, traz números obtidos desde 17 de julho de 2020.
O que fazer
Para conter o avanço do número de casos e mortes, bem como diminuir as taxas de ocupação de leitos, os pesquisadores defendem maior rigor nas medidas de restrição à circulação de pessoas, como quarentena e lockdown (confinamento total). Eles também reforçam a importância do distanciamento social, do uso de máscara e da aceleração da vacinação.
Entre as medidas sugeridas pela Fiocruz, estão:
• Proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional;
• Suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país;
• Toque de recolher nacional a partir das 20h até as 6h e durante os finais de semana;
• Fechamento de praias e bares;
• Adoção de trabalho remoto sempre que possível, tanto no setor público quanto no privado;
• Instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, com consideração ao fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual;
• Adoção de medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos;
• Ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.
Exemplo de Araraquara
Para comprovar a eficácia das medidas restritivas, a Fiocruz cita como exemplo a cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, que vivia um colapso no sistema de saúde. Entre 1º e 6 de fevereiro, a taxa de ocupação de leitos no município saltou de 56% (“baixa”) para 84% (“crítica”), chegando a 100% em 15 de fevereiro.
Diante do colapso, a prefeitura aumentou as restrições para atividades não essenciais e circulação de pessoas, adotando o lockdown a partir de 21 de fevereiro. Neste período, só era permitido sair para utilizar ou trabalhar em um dos serviços em funcionamento, como farmácias, por exemplo. Nem o transporte público não funcionou, e supermercados atenderam apenas por delivery durante seis dias, retornando em 27 de fevereiro.
Com as restrições, a cidade conseguiu reduzir a transmissão do coronavírus e, consequentemente, o número de infectados: entre 21 de fevereiro e 10 de março, a média móvel diária de novos casos de Covid-19 foi de 189,57 para 108 — uma queda de 43,02%.
“O município de Araraquara é um dos exemplos atuais de como medidas de restrição de atividades não essenciais podem não só evitar o colapso ou mesmo prolongamento desta situação nos serviços e sistemas de saúde, resultando na redução da transmissão, casos e óbitos, protegendo a vida e saúde da população”, defendem os pesquisadores.
Fonte: UOL